Evelyn Silva*
Dia 19 de agosto é o Dia Nacional do Orgulho Lésbico. A data marca a revolta das integrantes do GALF (Grupo de Ação Lésbica Feminista) ao serem proibidas de vender o jornal que produziam, ChanaComChana, no Ferro’s Bar, em São Paulo.
Ocuparam o bar, leram um manifesto contra a repressão, o dono chamou a polícia, criou-se o impasse. Saíram de lá vitoriosas e orgulhosas.
Orgulho Lésbico. Às vezes, me pergunto: há que se ter orgulho de uma orientação sexual?
A resposta é invariavelmente sim.
Viemos de uma longa linhagem de mulheres que questionaram lugares socias e viveram seus desejos em voz alta e à luz do dia. No Brasil, começa com Filipa de Souza e mais 29 mulheres em 1591, com a primeira visita da Inquisição ao Brasil. Acusada de “práticas nefandas”, Filipa foi açoitada, humilhada em praça pública e expulsa da Capitania da Bahia por seu envolvimento amoroso e sexual com outras mulheres.
Lésbicas feministas que lutaram contra a Ditadura Militar, foram presas, torturadas e assassinadas. Foram exiladas mas voltaram com a anistia de 79, com garra e vontade de lutar, como Marisa Fernandes, trotskista dos quatro costados, ex-militante da Convergência Socialista e participante do histórico Primeiro de Maio de 1980, quando o Grupo Somos de Afirmação Homossexual se juntou aos trabalhadores em greve no ABC paulista.
Mulheres negras, como Neusa das Dores, Rosângela Castro e Heliana Hemetério, com suas triplas militância contra o racismo, o machismo e a lesbofobia, e que ainda assim, estavam na linha de frente da fundação do Seminário Nacional de Lésbicas, o SENALE.
É um legado para se orgulhar, e muito!
Quando reivindicamos as consignas de “Sapatão é Resistência” e “Sapatão é Revolução”, sabemos do que estamos falando. Sabemos do potencial que amar mulheres tem como destruidor de sistemas hierárquicos e opressores. Sabemos do perigo que representamos ao capitalismo quando dizemos que existe algo que os homens não alcançam e do qual não podem se apossar.
Porque ser lésbica na barbárie capitalista é mais do que amar mulheres. É dizer com seu corpo, com sua vivência, com sua existência no mundo que há um lugar inacessível ao patriarcado, esse sistema aberrante que regula os desejos e elimina dissidências.
É o rejeitar incessante da misoginia como forma de manutenção da desigualdade e da opressão.
É subverter as noções de papéis pré designados aos gêneros, subverter o próprio gênero! Abolir os conceitos impostos de casamento, família, herança, transformando em libertação ao invés de aprisionamento. É soltar a voz e transgredir toda vez que diz seu nome. E, sim, amar mulheres com orgulho.
Evelyn Silva é consultora política, ativista sapatão e militante da Insurgência.