EDITORIAL
A posse de Trump, com seus 85 decretos virulentos contra toda a ordem de direitos, é uma primeira demonstração da ofensiva ultrarreacionária pretendida pela extrema-direita estadunidense e seus multibilionários “tecnológicos”.
Os impactos terão desdobramentos mundiais e já se fazem sentir no Brasil, como no caso dos imigrantes – seja pela inaceitável condição na qual o governo dos EUA entregou os primeiros deportados brasileiros, seja pelo corte total do financiamento de entidades de acolhimento dos imigrantes pelo mundo. Agora, diversas entidades do tipo em Roraima e estados fronteiriços já têm suas atividades afetadas.
Tão preocupante quanto esses efeitos iniciais é que esta ofensiva dá um novo fôlego para a extrema-direita no Brasil, mesmo com a situação jurídica de Bolsonaro e dos articuladores da tentativa de golpe no final de 2022 e início de 2023.
Mas, mesmo sem Bolsonaro elegível, a retomada do fôlego da extrema-direita é inegável, como já ficou nítido na reação ao episódio da desastrada proposta de aumentar a fiscalização bancária no Pix.
Esse episódio, e a forma como o governo saiu derrotado após o total recuo de uma medida que tinha aspectos positivos, são expressão dos limites da lógica dominante no governo Lula, do não enfrentamento e da excessiva busca pela conciliação. Diante da força da extrema-direita e da unidade da classe dominante para impedir que o programa eleito em 2022 seja implementado, é urgente que o governo e as forças populares façam os devidos enfrentamentos, levando adiante uma agenda de retomada de direitos e defesa dos interesses do povo, sempre em sintonia com o sentimento nas ruas e as oportunidades que se colocarem.
Caso contrário, o que prevalecerá é a subordinação ao mercado financeiro conduzida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pelo agora presidente do BC, Gabriel Galípolo. A retomada das altas nos juros e o pacote fiscal do final do ano, que, entre outras medidas, limita o reajuste do salário-mínimo e ataca o Benefício de Prestação Continuada (BPC), estão aí para todo mundo ver, minando até mesmo a opinião do povo sobre o governo.
Os desafios inadiáveis de 2025
Para enfrentar uma conjuntura ainda muito regressiva, com uma extrema-direita com base de massas, será preciso retomar a capacidade de iniciativa coletiva e unitária para enfrentá-la. Pautas, agenda e exemplos não faltam.
O vídeo da deputada federal do PSOL Erika Hilton, respondendo a Nikolas Ferreira e às fake news no episódio do Pix, alcançou mais de 100 milhões de visualizações e constitui um exemplo das inúmeras possibilidades para fazer a disputa política neste ano. É preciso enfrentar a extrema-direita, jamais nos paralisarmos.
Também ganhará ainda mais importância a busca pela frente única para pautar uma agenda de bandeiras democráticas e de defesa dos direitos. É papel do PSOL defender o governo Lula dos ataques da extrema-direita, pressionando o governo para a implementação do programa eleito nas urnas e aumentando o nível de exigências, através de sua militância, em todos os espaços, onde deve ocupar um papel de linha de frente.
Começando pela intensificação do eixo “Sem anistia, prisão para Bolsonaro e todos os golpistas”. Será decisivo neste ano, em que as pressões a partir do governo Trump sobre o Brasil e o Poder Judiciário irão aumentar. Não há outro desfecho aceitável que não seja a punição rigorosa de todos os golpistas indiciados.
Será necessário um engajamento amplo e unitário no Plebiscito Popular para taxar as grandes fortunas e pela redução da jornada de trabalho (contra a escala 6x1), iniciativa que poderá ser um fator importante de organização e mobilização massiva, bem como outras formas de mobilização, pois a luta contra a escala 6x1 é uma pauta que está na ordem do dia.
É preciso também uma campanha política altiva e sem concessões contra a escalada de aumentos nos juros e em defesa do congelamento dos preços dos alimentos da cesta básica.
Não menos importante é apresentar uma saída para o agravamento da crise climática, com uma transição energética autêntica, sustentável, sem os retrocessos como a proposta de perfurar a foz do Amazonas. Para essa transição ser pra valer, é preciso que a Petrobras seja uma verdadeira empresa de energia, 100% estatal, e que a privatização da Eletrobras seja revista para que ela também possa cumprir esse papel na transição energética.
A COP 30 e a Cúpula dos Povos, ainda que boicotadas pelos EUA, serão momentos e espaços importantes em nosso país para a disputa de uma agenda socioambiental, que seja um total contraponto à política de Trump e seus profetas do apocalipse da indústria dos combustíveis fósseis.
Todas as agendas dos movimentos neste ano, como o Congresso da UNE, o 8 de março, a Marcha das Mulheres Negras, a Marcha das Mulheres Indígenas, o Plebiscito Popular, entre outras, precisam ser estimuladas como momentos de organização e mobilização unitária, visando colocar em outro patamar a resistência à ofensiva reacionária.
Executiva Nacional da Insurgência