A Covid, como está cada vez mais evidente, é fonte de enormes desigualdades. Uma delas é a renda. Nem todos sofreram perdas; na verdade, há aqueles que ganharam muito. Os setores são aqueles farmacêutico, da tecnologia da informação e do crédito. E enquanto devido à pandemia a maior parte do planeta parece estar afundando em uma das piores crises econômicas, como sempre – como se para eles nenhuma catástrofe pudesse valer – os ricos estão se tornando ainda mais ricos.
Mariella Bussolati, Business Insider/IHU-Unisinos, 15 de setembro de 2020. Tradução de Luisa Rabolini.
32 das maiores multinacionais do mundo aumentaram seus lucros em um valor de 109 bilhões de dólares em relação à média dos exercícios dos 4 anos anteriores, nos quais já haviam alcançado excelentes resultados. A denúncia vem da Oxfam, o grupo de associações sem fins lucrativos que se dedica à redução da pobreza global.
O relatório foi publicado no aniversário de seis meses desde que a Organização Mundial da Saúde declarou a pandemia. Segundo a Oxfam, a realidade, além do número de infecções e vítimas, é ainda pior: as corporações colocaram seus lucros à frente de tudo, esquecendo a saúde dos trabalhadores, usando sua influência política para moldar estratégias políticas.
Nos Estados Unidos, 27.000 trabalhadores do setor de carnes tiveram resultado positivo e mais de 90 morreram. A Tyson Food, segunda maior processadora e comercializadora de frangos, bovinos e suínos, publicou uma carta contra o fechamento das unidades, apesar de 8.500 funcionários terem ficado doentes.
Na Índia, centenas de trabalhadores das plantações de chá, a maioria mulheres, não receberam salários por suposta perda de receitas devido ao vírus. Enquanto isso, alguns dos principais fabricantes aumentaram drasticamente seus lucros.
O maior produtor de cimento da Nigéria, Dangote Cement, despediu 3.000 funcionários de uma vez. Ao mesmo tempo, os acionistas receberam 136% dos lucros.
Na França, sete empresas (Vivendi, Capgemini, Michelin, Publicis, Solvay, Veolia e Vinci) pagaram os dividendos, mas, no meio tempo, utilizaram dinheiro público para pagar os salários.
No nível planetário, diante de ganhos substanciais, cerca de meio bilhão de pessoas serão levadas para a pobreza pela situação de pandemia, 400 milhões de postos de trabalho já foram perdidos e de acordo com sindicatos internacionais, 430 milhões de pequenas empresas estão em risco. Os grandes estão mais uma vez enterrando os negócios de menor escala.
Como sempre em situações de contração, quem paga são as pessoas mais fracas. Isso sempre aconteceu e foi amplamente preparado nos anos anteriores.
De 2016 a 2019, as 10 maiores marcas pagaram US $ 21 trilhões em dividendos, 74% de seus lucros. Desde o início da pandemia, o valor na bolsa de 100 grandes corporações globais cresceu mais de US $ 3 trilhões. 25 dos bilionários mais ricos, entre os quais Bezos da Amazon, que se tornou o homem mais rico do planeta, apenas entre meados de março e o final de maio de 2020, viram sua riqueza aumentar em 255 bilhões de dólares.
Junto com a Amazon, a Apple e o Facebook terão US $ 27 bilhões em lucros pandêmicos. Microsoft e Google compartilharam com parceiros US $ 21 e US $ 15 bilhões, respectivamente.
A BASF, a maior empresa química alemã, distribuiu dividendos iguais a 400 por cento com os acionistas nos últimos seis meses. As gigantes do petróleo como Esso, Tital, Shell, Petrobras, Chevron e BP, que na verdade sofreram perdas de US $ 61,7 bilhões entre janeiro e julho, ainda conseguiram distribuir US $ 31 bilhões.
As empresas farmacêuticas terão margens de lucro de 21 por cento em 2020.
Esse dinheiro não é gasto para aumentar postos de trabalho, salários ou a segurança do trabalhador. Em vez disso, acabam no bolso de alguns ou servem para forçar outros mecanismos financeiros, incluindo o valor das ações.
Este não é um mecanismo novo. Na verdade, os dividendos são usados por financiadores, por exemplo, os hedg fund manager, banqueiros e executivos para fazer outros investimentos e alimentar as especulações, o que não apenas impedem investimentos potenciais, mas desestabilizam os mercados financeiros e não levam absolutamente em conta o bem-estar de toda a sociedade.
Além disso, até o presente momento, quase nada chegou para combater a Covid ou sustentar as ajudas governamentais prestadas às populações. De acordo com a Oxfam, as doações durante este período chegaram a apenas 0,5 por cento dos ganhos de 2019. Em uma publicação anterior, estimava-se que $ 9 em cada 10 dos lucros extras se tornariam investimentos de norte-americanos brancos, enquanto apenas 32 centavos beneficiariam as comunidades negras e hispânicas.
Seria possível esperar que contribuam com os impostos para enriquecer os países em que estão sediados, outras com suas fundações de caridade. Isso não aconteceu. O governo dos EUA perdeu US $ 135 bilhões em receitas já em 2017, enquanto a filantropia forneceu menos de US $ 20 bilhões ao ano. Na Índia, a evasão fiscal leva a uma perda de 47 bilhões de dólares, em comparação com 6 bilhões de beneficência.
Os vencedores da era pós-Covid sempre serão as grandes corporações e seus acionistas, que depois distribuirão esmolas, a seu critério. Dessa forma, o poder do Estado é enfraquecido e a sociedade sai perdendo.
A Oxfam, portanto, acredita que chegou a hora em que os governos deveriam encontrar maneiras de retirar desses superlucros e propõe a adoção de uma retirada semelhante à que foi implementada nos Estados Unidos e na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial.
Com essa ferramenta, com apenas 17 multinacionais se poderiam faturar 80 bilhões de dólares. Pagar os testes e vacinas para cada habitante da Terra tem um custo estimado de 71 bilhões de euros. Muito menos do que os super ganhos.