Por Carlos N.*
Foi amarga a noite da militância progressista no último 2 de outubro, dia de apuração do primeiro turno das eleições nacionais de 2022. Mesmo que nosso saldo eleitoral seja superior àquele dos últimos anos, com acréscimos importantes para uma nova esquerda, antenada às lutas socioambientais, LGBTQIAP+, antirracistas e feministas, e que Lula tenha obtido um resultado inédito e massivo, o resultado global representa uma vitória do bolsonarismo, corrente de extrema-direita que se fortaleceu de forma acachapante.
Desde Junho de 2013, no Brasil, a direita radicalizou-se e massificou-se, enquanto a esquerda permaneceu reduzida, com dificuldade para encontrar um programa. A vitória de Lula em 30 de outubro é a única chance para o povo brasileiro, com a atual composição do Congresso Nacional, além do nível de força do bolsonarismo demonstrada nas ruas, nas redes e nas urnas. Conquista essa condição para uma recomposição de forças da esquerda - possibilidade de se energizar e eventualmente repactuar-se com a maior parte do povo brasileiro, e formular sobre temas que façam sentido e proponham, na vida cotidiana, mudanças.
Vamos consolidar essa vitória nos territórios, a partir das melhores experiências do Vira-Voto em 2018, e das campanhas municipais em 2020. O campo progressista, nestes quase cinco anos, apesar das derrotas estruturais, pôde fazer a experiência de construir iniciativas de base, em sua maior parte relacionadas às eleições, e quanto à solidariedade ativa durante a pandemia de Covid-19. Reativar essas redes, convocar ativistas por meio virtual, construir reuniões amplas presenciais, produzir, adquirir e distribuir material de campanha, organizar mobilização de rua em locais estratégicos, tudo isso faz parte do cardápio, e já foi possível provar e reprovar.
O senso de urgência está disseminado. Nesta sagrada hora, a vanguarda militante, aquelas e aqueles ainda de pé apesar dos tempos – os quais Brecht chamou de imprescindíveis – ajuda a sua irmã e ao seu irmão a que se levantem e gritem em bom som: Fora Bolsonaro!
* Militante socio ambientalista da Insurgência São Paulo