O que quero dizer ao falar de Greta, Anna, Anula e Vanessa é apenas que, mais uma vez, são elas as garotas e as mulheres que, partindo do privado, se tornam as promotoras de mudanças públicas. Como se, ao contrário dos homens, elas tivessem aprendido aos poucos a coragem de se expor e reivindicar a compaixão. Uma compaixão que está presente em cada um de nós, independentemente do sexo ou do gênero, mas que então, por pudor ou indiferença, muitos homens aprenderam a apagar ou esconder.
Michela Marzano, La Repubblica, 10 de novembro de 202. A tradução é de Luisa Rabolini.
Obama estava sem dúvida certo quando, na sessão plenária da COP26, se dirigiu aos jovens pedindo-lhes para "canalizar de maneira construtiva a frustração e a raiva". Mas o ex-presidente dos Estados Unidos também estava errado, totalmente errado, quando, citando de passagem Greta Thunberg, se esquivou muito superficialmente do problema ao afirmar: "Agora há muitas como ela". Inclusive, simplesmente porque justamente ela é o modelo dos jovens, principalmente das numerosas meninas e garotas, que há anos pedem aos governos ações concretas na luta contra as mudanças climáticas.
Foi ela quem deu início ao movimento Fridays for Future inspirando Anna Taylor, a britânica de 17 anos que criou uma importante rede de estudantes interessados no clima na Grã-Bretanha, e Anula De Wever e Kyra Gantois, que recentemente organizaram uma impressionante marcha pelo meio ambiente na Bélgica. Ela é a modelo de Nadia Nazar, cofundadora do grupo estadunidense para a justiça climática Zero Hour. Foi ela quem deu força e coragem a Vanessa Nakate, uma ugandense de 24 anos, para acusar Obama outro dia de ter prometido muito dinheiro em 2009, mas nunca o ter dado.
Os jovens estão cansados dessa política que nunca respeita as promessas feitas. Cansados de palavras a que, invariavelmente, não seguem os fatos. E então, mesmo que Obama seja convincente quando explica que a urgência da crise climática não é uma corrida de 100 metros, mas uma maratona, eles também, os jovens, são mais do que convincentes quando exigem fatos, e não mais apenas palavras. Ainda mais porque, entre esses jovens, são sobretudo as garotas que são a parte mais ativa. Dando assim a nós adultos uma dupla lição: essas garotas não só jogam na nossa cara a indiferença para com o planeta e o egoísmo com que nos comportamos (e continuamos a nos comportar) em relação às gerações futuras, mas também nos mostram o quanto "é falso o preconceito segundo o qual as mulheres, em relação aos homens, seriam mais tímidas, menos seguras de si e menos dispostas a lutar no cenário político nacional ou internacional".
Greta, Anna, Anula, Vanessa - para citar apenas algumas delas - encarnam aquela capacidade, que tantas mulheres sempre demonstraram ter, de ser resilientes, não no sentido de aceitar e calar, mas no sentido verdadeiro e profundo do termo "resiliência": enfrentar e superar as dificuldades e as adversidades da vida sem nunca se adaptar às situações. Que é, aliás, o cerne da chamada “ética do cuidado” que, nascida nos Estados Unidos no final da década de 1980 para combater o ultraindividualismo contemporâneo, tem como objetivo “reparar o mundo”.
Enquanto os filósofos homens debatiam sobre as características exatas da autonomia, muitas vezes conceitualizando-a em termos de independência, as colegas mulheres se interessavam pelos contextos relacionais em que cada uma de nós evolui, aprendendo aos poucos a conviver com nossas próprias fragilidades. Os seres humanos são de fato vulneráveis e dependentes uns dos outros; e precisam que o mundo seja reparado, como bem explica Joan Tronto, para que se possa viver da melhor maneira: “Esse mundo inclui nossos corpos, nós mesmos e nosso meio ambiente, tudo o que tentamos tecer em uma complexa rede em sustentação ao cuidado". Atenção, no entanto, com os atalhos fáceis. Seria um erro imaginar que as relações de cuidado sejam algo específico feminino.
A exigência de cuidado, para que nosso mundo ainda seja habitável para as gerações futuras, já está inscrita no "princípio da responsabilidade" do filósofo alemão Hans Jonas. O que quero dizer ao falar de Greta, Anna, Anula e Vanessa é apenas que, mais uma vez, são elas as garotas e as mulheres que, partindo do privado, se tornam as promotoras de mudanças públicas. Como se, ao contrário dos homens, elas tivessem aprendido aos poucos a coragem de se expor e reivindicar a compaixão. Uma compaixão que está presente em cada um de nós, independentemente do sexo ou do gênero, mas que então, por pudor ou indiferença, muitos homens aprenderam a apagar ou esconder.
Como se mostrar compaixão fosse um sinal de fraqueza, ao passo que é sempre e somente através da compaixão que se encontra a força para cuidar do mundo e repará-lo.
Michela Marzano é filósofa e professora da Universidade de Paris V - René Descartes, na França