Morreu este sábado em Paris o destacado militante e dirigente da esquerda revolucionária de França ao longo de mais de 50 anos, desde a participação no Maio de 68 e a oposição à guerra da Argélia. Alain Krivine fundou a LCR e o NPA e foi eurodeputado.
Esquerda.net, 12 de Março de 2022
Na página do seu partido(link is external), Nouveau Parti Anticapitaliste (NPA), os seus companheiros destacam: “Ativista excluído do PCF, fundador e líder da JCR, da LCR e depois do NPA, líder da Quarta Internacional, Alain nunca negou os seus compromissos juvenis. Ele foi, para gerações de ativistas, um modelo de constância, um recurso inesgotável, um companheiro exemplar”.
O jornal “Le Monde” salienta(link is external): “figura histórica da esquerda radical, passou por mais de meio século de vida política sem jamais se desviar da convicção de que ‘a revolução é possível’”.
Nascido numa família de judeus ucranianos que fugiram do país nos pogroms do final do século XIX, Alain Krivine militou das juventudes comunistas do PCF, desde os 17 anos, ele marcou desde cedo a sua posição diferente na organização, opondo-se à guerra da Argélia. Viria a ser excluído do PCF em 1965, recusando apoiar a candidatura de Miterrand à presidência, defendendo a desestalinização e o “direito de tendência”.
Em rutura com o PCF, ele foi um dos fundadores da JCR e da LCR em 1969 e aderiu à IV Internacional, tornando-se seu destacado dirigente.
Krivine foi uma das figuras marcantes do Maio de 68 e no ano seguinte candidatou-se a Presidente da República, repetindo a candidatura em 1974.
Em 1999, a LCR fez uma lista comum com a Lutte Ouvrière (LO) nas eleições para o Parlamento Europeu, que elegeu cinco eurodeputados. Alain Krivine era segundo candidato, atrás de Arlette Laguiller da LO, tendo sido eleito eurodeputado.
Em 2011, Alain Krivine esteve em Portugal e deu esta entrevista ao esquerda.net:
Olivier Besancenot, que sucedeu a Krivine à frente da LCR em 2002 e foi o porta-voz dos primeiros anos do NPA, com candidaturas presidenciais em 2002 e 2007, escreveu este sábado no twitter: “Ainda te ouço a dizer que a melhor forma de celebrar a memória dos mortos é perpetuar a sua luta.”
Entre as declarações de homenagem publicadas na hora do seu falecimento contam-se a de vários candidatos da esquerda às próximas presidenciais francesas. "Emoção e tristeza. Sentimentos de pesar para a sua família e saudações fraternas a todo o movimento trotskista", escreveu Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa. O candidato do PCF, Fabien Roussel, destacou Krivine como "uma das vozes da história política da esquerda". Nathalie Artaud, candidata da Lutte Ouvrière, recordou-o como "um soixante-huitard que nunca renunciou às suas convicções anti-capitalistas e revolucionárias e que permaneceu militante até ao fim". Por seu turno, Phillipe Poutou, o candidato do NPA, fez suas as palavras de Besancenot. Também o líder do PS francês deixou uma "saudação emocionada de um social-democrata ao ativista revolucionário Alain Krivine. Após a morte de Henri Weber, é uma nova página na história da liga que se vira", escreveu Olivier Faure, evocando também o companheiro de luta de Krivine no Maio de 68 e na LCR, mais tarde senador e eurodeputado socialista, vítima de covid-19 em 2020.