A América Latina e o Caribe entra, com a pandemia, em uma década perdida: o PIB per capita terá um retrocesso de 10 anos e no caso da pobreza inclusive será de 15 a 17 anos.
Cecilia Vergara Mattei, Centro Latinoamericano de Análisis Estratégico - CLAE, 17 de julho de 2020.
Espera-se que ao final do ano a pobreza alcance 230 milhões de pessoas, isso é, um em cada três habitantes da América Latina, e destes 96 milhões não terão rendas suficientes para alimentação. Ademais serão 44 milhões de pessoas desempregadas.
A atividade econômica no mundo está caindo mais do previsto há alguns meses como consequência da crise derivada da covid-19 e, com isso, aumentam os impactos externos negativos sobre América Latina e o Caribe através do canal comercial, de termos de intercâmbio, de turismo e de remessas.
Além disso, a região encontra-se hoje no epicentro da pandemia, no momento em que alguns governos começam a aliviar as medidas de contenção, e outros as continuam ou as intensificam diante do persistente aumento de casos diários da doença. Assim apontam o relatório especial intitulado “Enfrentar os efeitos cada vez maiores da covid-19 para uma reativação com igualdade: novas projeções”.
A região evidenciará uma queda do produto interno bruto (PIB) de -9,1% em 2020, com diminuições de 9,4% na América do Sul, 8,4% na América Central e 7,9% para o Caribe, excluindo a Guiana Francesa.
A queda na atividade econômica na América Latina e Caribe é de tal magnitude que levará, ao final de 2020, o nível do PIB per capita a patamares semelhantes ao observado em 2010, isso é, haverá um retrocesso de 10 anos no nível de renda por habitante.
A economia mundial terá sua maior queda desde a segunda guerra mundial e o PIB per capita diminuirá em 90% dos países, em um fato sem precedentes. Neste contexto, América Latina e Caribe terão a pior contração do últimos 100 anos, já que nos meses recentes se intensificaram tanto os efeitos negativos externos como internos na região.
A lista da queda, elaborada pela Comissão Econômica para América Latina (Cepal), é encabeçada pela Venezuela com uma retração de 26%, seguida de Belize com -14%, Peru -13%, Santa Lúcia -11,9%, São Cristóvão e Neves -11,5%, Argentina, Bahamas e Granada com -10,5%, Brasil -9,1% e Equador e México -9%.
A Cepal também projeta uma maior desigualdade na distribuição de renda em todos os países da região: o índice de Gini aumentaria entre 1% e 8% nos 17 países analisados, e os piores resultados se esperam nas maiores economias da região.
Com esse entendimento, Alicia Bárcena, secretária executiva da CEPAL, reiterou que é necessário promover o apoio multilateral internacional à América Latina, uma vez que, embora a região seja classificada como de renda média, oito em cada dez habitantes, cerca de 500 milhões de pessoas, recebem menos de 500 dólares.
“Estamos enfrentando uma década perdida”, disse Bárcena em uma convocação para propor um novo pacto político e fiscal, e sabendo que “os recursos da região não serão suficientes, necessita-se dos recursos internacionais” em condições favoráveis.
Ela reiterou que medidas como renda básica de emergência, transferência de alimentos, cofinanciamento de salários, apoio a pequenas empresas e resgate condicional de grandes empresas precisam ser implementadas, e enfatizou a necessidade de expandir políticas fiscais e monetárias expansionistas porque, disse ele, “essa crise não vai durar pouco (…) é uma pandemia muito forte e grave”.
Portanto, qualquer medida de austeridade deve ser evitada, pois os gastos do governo serão estruturais nessa situação e os gastos de emergência devem ser complementares e não substitutos. Em um contexto de política fiscal abrangente, o papel do Estado deve ser destacado, porque é o Estado responsável em resposta à crise.
Reproduzido do IHU-Unisinos. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.