Assim, no dia 29 de fevereiro de 2020 o mundo registrou 86,6 mil casos e 3 mil mortes, sendo que a China concentrava 80 mil casos (92% do total) e 2,9 mil mortes (96% do total). Do país asiático, o coronavírus se espalhou para o mundo. Entre março e abril a Europa e os Estados Unidos (EUA) passaram a concentrar a maior parte das mortes diárias provocadas pela covid-19, mas a partir do mês de maio o destaque coube à ALC, conforme mostra a figura do jornal Financial Times, que apresenta a média móvel de 7 dias do número diário de mortes no mundo.
A forma da figura reflete o fato de que o número médio de mortes diárias no mundo era de 393 óbitos entre 15 e 21 de março, passou para 6,8 mil mortes diárias em meados de abril, caiu para 3,8 mil no final de maio e voltou a subir para 5,6 mil na semana de 13 a 19 de agosto.
A Europa e os EUA respondiam por apenas 6% das mortes diárias em 29 de fevereiro, mas deram um salto para cerca de 80% em meados de março e para 90% na primeira quinzena de abril. Todavia, ambos passaram a ter uma menor participação nos meses seguintes e na semana de 23 a 29 de junho a Europa respondia por 10% e os EUA por 12% das mortes diárias.
O grande destaque nos meses de junho a agosto foi a ALC que chegou a concentrar mais da metade dos óbitos diários no mês de junho. Entre os dias 13 e 19 de agosto a média diária de mortes foi de 5.632 óbitos no mundo e de 2.424 óbitos na ALC (43% do total global). O Peru é o país mais impactado, seguido de Brasil, México, Colômbia, Chile e Argentina.
A tabela abaixo mostra que entre os 12 países com maior número de casos da covid-19, no dia 23 de agosto, 6 são da ALC: Brasil, Peru, México, Colômbia, Chile e Argentina. O Brasil está em segundo lugar global no número acumulado de casos e de mortes. Peru, México e Colômbia estão no 6º, 7º e 8º lugares, o Chile está em 10º lugar e a Argentina em 12º lugar. Em número total de mortes o México está em 3º lugar, atrás apenas dos EUA e do Brasil e à frente da Índia.
Levando-se em conta o tamanho da população o Peru é um dos países mais impactados do mundo com um coeficiente de incidência de 18 mil casos por milhão de habitantes e um coeficiente de mortalidade de 837 óbitos por milhão de habitantes (atrás apenas de San Marino com 1.237 óbitos por milhão e Bélgica com 860 óbitos por milhão). O Brasil está em 11º lugar no ranking do coeficiente de mortalidade, mas deve saltar para o 4º lugar até o final do mês de setembro, pois continua com mortes diárias próximas de uma média de 1 mil óbitos em 24 horas.
A Argentina é uma grande surpresa aparecendo em 12º lugar no número de casos, pois adotou medidas bastante restritivas desde o início da pandemia e assim mesmo já tem mais de 4 vezes o número de pessoas infectadas da China. Outra surpresa é o Paraguai que era o país mais bem-sucedido da América do Sul, mas que já apresenta 13 mil casos e 192 mortes. O Uruguai e a Jamaica (com população em torno de 3 milhões de habitantes) possuem os melhores desempenhos da região, o Uruguai com 1,5 mil casos e 42 mortes e a Jamaica com 1,4 mil casos e 16 mortes.
Tanto o mundo quanto a ALC ainda possuem um longo caminho para controlar a pandemia. Provavelmente, não haverá muito alívio no ano de 2020. Mas, talvez se possa controlar o número de casos e de mortes em 2021.
Referências
LVES, JED. A pandemia de Coronavírus e o pandemônio na economia internacional, Ecodebate, 09/03/2020. Disponível aqui.
Financial Times. Coronavirus tracked: the latest figures as countries start to reopen. The FT analyses the scale of outbreaks and the number of deaths around the world. Disponível aqui.
José Eustáquio Diniz Alves é doutor em demografia e pesquisador titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 24-08-2020.