O novo episódio da escalada autoritária do governo Ortega-Murillo é a reativação dos julgamentos a um grupo político, no qual se inclui a figura emblemática da Comandante Dora Maria Tellez.
Comitê de Solidariedade com a Nicarágua, 1 de fevereiro de 2022
Hoje na Nicarágua 173 presas e presos políticos sofrem graves violações a seus direitos mais elementares. Muitas dessas pessoas, estão com risco de danos físicos e psicológicos irreversíveis, e até mesmo de perda de suas vidas.
São situações alarmantes perante as quais fazemos um chamado à solidariedade e à mobilização para pressionarpela garantia à vida e pelo respeito dos direitos humanos destas presas e presos políticos.
Só nos últimos sete meses, foram 58 pessoas capturadas, todas por serem opositoras ao governo e por serem uma ameaça aos planos de continuidade no poder de Daniel Ortega. Elas são lideranças políticas, ativistas sociais, jornalistas, estudantes, feministas, camponeses, empresários e até mesmo figuras destacadas da revolução sandinista dos anos 80, incluindo a comandante guerrilheira Dora Maria Téllez, o também comandante guerrilheiro Hugo Torres e o ex-embaixador nas Nações Unidas e ex-deputado Victor Hugo Tinoco.
A maioria permanece reclusa na chamada “Direção de Auxílio Judicial” (DAJ), um centro de detenção preventiva, para “interrogatórios”, mas onde se praticam diversas formas de torturas. Lá, estão em situação de desamparo jurídico, sem acesso à defesa, nem ao devido processo legal, sem visitas regulares de familiares (apenas foram autorizadas quatro visitas em mais de sete meses de reclusão).
Entre os casos mais preocupantes, devemos destacar:
- Nove presos que estão em “celas de castigo”, espaços minúsculos, com apenas uma pequena fresta no teto para entrada de luz e ar, com portas lacradas por placa de ferro. Em uma dessas celas se encontra Yader Parajón, jovem ativista que em 2018 esteve no Brasil para expor a situação política da Nicarágua; em outra, Róger Reyes, advogado defensor de presos políticos que sofre de surto psicótico sem poder ter atenção médica especializada.
- Quatro mulheres: Tamara Dávila, Suyen Barahona, Ana Margarita Vijil e Dora Mará Téllez, que permanecem totalmente isoladas, algumas com a luz sempre ligada e outras na penumbra permanente, submetidas a interrogatórios constantes e trato especialmente cruel, claramente relacionado com sua condição de gênero e de lideranças do antigo partido Movimento de Renovação Sandinista (MRS).
- Doze presos e presas políticas de mais idade estão em particular situação de fragilidade, muitos com a saúde debilitada e com risco para suas próprias vidas. Entre eles, Edgar Parrales, de 79 anos, ex-sacerdote da Teologia da Libertação e ex-embaixador perante a OEA durante o período revolucionário, cuja condição de saúde é delicada, pois não possui intestino grosso e precisa de atendimento médico especializado. E Hugo Torres, herói da luta revolucionária e ex-general do exército, de 73 anos, que foi recentemente internado em um hospital sem que se saiba de informações sobre seu estado de saúde. Também o ex deputado José Pallais, de67 anos, que já perdeu 40 quilos e sofre de constantes desmaios. E a ativista Violeta Granera, de 70 anos, que começou a perder os dentes e enfrenta sérias dificuldades para comer.
Considerando todas estas informações, e sensíveis ao chamado das famílias dos presos e presas políticas e das organizações de Direitos Humanos, alertamos sobre o perigo iminente em que se encontram essas pessoas e fazemos um chamado à solidariedade para tentar salvá-las de danos físicos e mentais irreparáveis e mesmo da perda de suas vidas, risco que correm a cada dia que passa.
Fazemos um apelo às organizações e entidades brasileiras de defesa dos Direitos Humanos, assim como a brasileiros e brasileiras solidários e que lutam pela justiça e a democracia na América Latina, para que se somem à mobilização e pressionem pela garantia à vida, acesso à defesa, direito à visitas regulares de seus familiares e ao respeito aos direitos humanos destes presos e presas políticas, em respeito à Convenção dos Direitos Humanos das Américas e tratados internacionais de proibição à tortura.
Essas pessoas estão presas injustamente e deveriam ser liberadas, mas a urgência neste momento é salvar suas vidas, sua integridade física e psicológica, seriamente ameaçadas. Trata-se de uma ação de elementar humanidade. Essa humanidade que tanto necessitamos para a construção de um mundo mais justo e solidário.
Chega de isolamento e torturas! Queremos elas e eles vivos e livres!
Brasil , janeiro de 2022.
Comitê Brasileiro de Solidariedade com a Nicarágua
Para somar-se a este apelo, assine o manifesto colocando seus dados nos comentários abaixo nesta postagem, ou nos envie um e-mail para solidariedadenicaragua@gmail.com
Para mais informações:
Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCGdXUwIZlmIIIJZjS-7ZRYwO governo de Daniel Ortega e sua esposa Rosário Murillo anunciou a reativação dos julgamentos a um grupo de presos políticos, após sete meses das prisões de opositores que caracterizaram as controversas eleições de Novembro 2021. Uma das primeiras a ser julgada é a figura emblemática da Revolução Sandinista, Comandante Dora Maria Tellez, previsto para o dia 03 de fevereiro.
A Comandante Tellez é acusada pelo Estado de “conspirar contra a integridade e soberania nacional”, mesma acusação que é aplicada a mais de 56 pessoas entre ativistas, feministas, líderes universitários, jornalistas e dirigentes políticos, em base a uma lei aprovada pelo orteguismo em Dezembro 2020 contra opositores. Esse foi o mesmo instrumento aplicado para prender também sete pré-candidatos presidenciais, meses antes do pleito iniciar.
Téllez foi capturada em 13 de junho de 2021, no mesmo dia que a Polícia prendeu toda a diretoria da União Democrática Renovadora (UNAMOS), organização que surgiu após a extinção do partido Movimento de Renovação Sandinista (MRS), grupo que aglutinou sandinistas históricos, intelectuais e ativistas de esquerda, opositores a Ortega.
Desde sua captura, Téllez permanece isolada numa cela da chamada Direção de Auxílio Judicial (DAJ), um centro de detenção preventiva para “interrogatórios”, mas onde são praticadas diversas formas de tortura, segundo denúncias dos familiares dos presos políticos e do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos.
Junto ao julgamento de Tellez, está também previsto os julgamentos contra a dirigente de UNAMOS, Ana Margarita Vijil; o ativista Yader Parajon (que esteve no Brasil em 2018 denunciando a perseguição autoritária e violenta repressão do orteguismo); o líder universitário Lesther Alemán; o ativista Yaser Vado e o jornalista Miguel Mora
A Comandante Téllez foi uma das principais guerrilheiras na luta da FSLN contra a ditadura de Anastásio Somoza nos anos 70. Téllez comandou importantes operações de guerrilha, como a ocupação do Congresso Nacional em agosto de 1978 – que conseguiu a libertação de mais de 50 presos políticos do Somozismo – e a ocupação sandinista da cidade de León, a primeira a declarar o triunfo sandinista em 1979. No governo revolucionário foi Ministra de Saúde. Após a revolução, Téllez saiu da FSLN em 1995, por críticas às práticas autoritárias do setor orteguista dentro do partido, e fundou o MRS.
Hoje, Téllez é uma dos 173 presos políticos do regime Ortega-Murillo. Desde o Brasil, o Comitê de Solidariedade com a Nicarágua ecoa o clamor da sociedade nicaraguense pela libertação de todos os presos políticos e pela anulação de todos os julgamentos. Se quiser somar-se à solidariedade, pode se aderir ao Manifesto https://solidariedadenicaragua.wordpress.com/manifesto-apoio-nicaragua/