A “economia popular” argentina, vários movimentos sociais e partidos de esquerda saíram às ruas neste sábado, dia de San Cayetano, patrono do trabalho, para exigir trabalho, habitação e rendimento condigno para toda a gente.
Esquerda.net, 8 de agosto de 2021
Dia santo, dia de luta. Este sábado celebrou-se na argentina o dia de San Cayetano, patrono do trabalho. A efeméride foi aproveitada por dezenas de milhares de pessoas para defender “terra, teto, trabalho e salário universal”, uma forma de rendimento mínimo, num país com 42% da população, 19 milhões de pessoas, abaixo do limiar da pobreza em 2020 e com uma taxa de desemprego de 10,2%.
Em Buenos Aires, a marcha começou na igreja consagrada a este santo e foi até abençoada por dois bispos, Juan Carlos Ares e Oscar Ogea . Dirigiu-se depois, como habitualmente nos protestos na capital argentina, à Plaza de Mayo. Esta ação foi encabeçada pelos trabalhadores da “economia popular”, ou seja trabalhadores das cooperativas e fábricas auto-geridas, dos movimentos de apoio a desempregados e de auxílio alimentar e pequenos produtores, mas juntou igualmente vários outros movimentos sociais e partidos de esquerda.
Daniel Menéndez, coordenador do Somos – Barrios de Pie, declarou ao jornal argentino Página 12: “esta é a mesma multidão que manteve as cantinas comunitárias e as políticas sanitárias nos bairros humildes”.
A partir do palco, Esteban Castro, dirigente da UTEP, União dos Trabalhadores da Economia Popular, sintetizou o que pensa estar em jogo depois de quatro anos de neoliberalismo sob a presidência de Macri e agora de pandemia: “na Argentina estão em disputa dois modelos de país. Um é o modelo da globalização neoliberal que arrasou com os direitos dos trabalhadores. O outro é um projeto mais integrador, industrializador, do qual gostaríamos de fazer parte, mas que sabemos que continua a conter-nos, que ainda não nos abraça. É um modelo melhor mas no qual também não temos trabalho. Necessitamos fazer essa discussão para que o processo de criação de outros trabalhos, que tem vindo a fazer a economia popular, se aprofunde”, disse, vincando diferenças com a presidência de Alberto Fernandez.
Nesse sentido, aprovou-se simbolicamente um documento que critica que há “pouco emprego e de pouca qualidade” porque metade dos trabalhadores “sobrevivem com salários inferiores ao limiar de pobreza” e que justifica a ideia da “salário básico universal” com os argumentos de que “todos e todas contribuímos para a riqueza social”, portanto, “todos merecemos um patamar mínimo rendimento” e de que “a Argentina tem capacidade de fazê-lo”. A proposta, que pretendem ver aprovada no Congresso, é de um rendimento mínimo garantido, ligado à cabaz alimentar básico e que calculam poder vir a chegar a nove milhões de adultos, muitos trabalhadores do setor informal.