Manifesto "Comunidade Acima do Lucro"
O Brasil é o segundo país no mundo com maior concentração de renda, segundo o relatório de 2019 da OXFAM. Ou seja, nosso país é vice-campeão em desigualdade social. A consequência dessa desigualdade é sentida na periferia em fome, número de mortes, desemprego, na falta de postos de saúde, de escolas e creches, de moradia digna, de água e esgoto, de linhas de ônibus e outros direitos.
A tudo isso damos o nome de necropolítica, que significa o uso do poder social e político para ditar como algumas pessoas podem viver e como algumas devem morrer. É nesse cenário que vivemos em Aracaju: a vida de quem controla a riqueza vale mais do que as vidas da nossa comunidade.
Aqui, a desigualdade é sentida quando o valor da renda média de moradores dos bairros Jardins e 13 de Julho é de R$ 6.925,13, enquanto em bairros periféricos como Japãozinho, Coqueiral, Porto Dantas e Santa Maria é de R$ 515,07, de acordo com o Censo de 2018. É uma diferença mensal de R$ 6.410,06.
Está nítido que existem duas cidades: a da propaganda da qualidade de vida e a outra, em que o povo é condenado a sobreviver. Esse povo tem cor! Os bairros periféricos são os que concentram maior número de autodeclarados pretos. Ou seja, o sistema e o Estado decidem quem vive e quem morre pela cor e pelo CEP.
Para piorar, o presidente do ódio propaga a naturalização do genocídio, a privatização do público, mais armas, mais prisões, corte de programas sociais, perseguição do pensamento livre, além do perdão de dívidas dos super-ricos que aumentaram suas fortunas em 176 bilhões de reais durante a pandemia.
A pandemia e o genocídio programado
A pandemia ganhou o tom de genocídio em todo o país. As determinações sanitárias não foram cumpridas e a pressão do poder econômico tornou mais importante salvar empresas do que vidas. Aos empobrecidos sobrou correr o risco de morrer de Coronavírus ou de fome.
A gestão de Edvaldo Nogueira, agora no PDT, na Prefeitura de Aracaju não se diferenciou da direita como prometeu. Não convocou trabalhadores da saúde, assistência social, comunicação e cultura para atender as comunidades periféricas e trabalhadores informais. Não criou um auxílio municipal, repetindo o episódio do vazamento de óleo nas nossas praias: quando foi decretado o Estado de Emergência, poderia ter efetivado ações de prevenção, reparação ambiental e social aos pescadores e marisqueiras. Mas não é erro, é projeto!
A cidade segue privatizada. As empresas do lixo e do transporte, as construtoras e as Organizações Sociais de Saúde lucram, enquanto a gente sobrevive à rua alagada, à fila no posto de saúde, ao sorteio para ter acesso à moradia e ao busão caro e lotado. Enquanto os ciclistas arriscam suas vidas em ciclovias insuficientes e desconectadas, a Prefeitura gasta para derrubar árvores e fazer um corredor exclusivo de ônibus na Avenida Hermes Fontes. Tudo isso em nome de um “progresso” que deixa a cidade mais cinza, mais quente e despreparada para aumento de chuvas, ignorando as emergências climáticas. Assim, condenam, mais uma vez, as comunidades.
Eleições 2020: uma bancada comunitária com um pé no parlamento e milhares de mãos nas ruas
O PSOL Aracaju tem o grande desafio de criar esperança para libertar o futuro, apresentando candidaturas que possam fazer uma vereança a serviço das lutas por mais, e não menos, direitos para a população. Defendemos a classe trabalhadora a partir do combate ao racismo e ao patriarcado, que incidem sobre políticas públicas contra LGBT’s, mulheres e negritude.
Defendemos a democracia real, que nunca chegou nas periferias e que jamais será conquistada enquanto houver o racismo estrutural e ambiental. É compreender que a natureza não é um recurso, é enfrentar os bancos, a especulação imobiliária e as máfias do transporte e do lixo. É democratizar a renda e a terra urbana, preservar nossos biomas e povos tradicionais, construir uma política municipal participativa, com financiamento para política públicas comunitárias, e de combate às mudanças climáticas, estimulando a agroecologia urbana com restaurantes populares comunitários para atacar a fome e o desemprego na capital.
Lutaremos por uma renda básica permanente, já que 115 mil aracajuanos receberam o auxílio-emergencial durante a pandemia e, muito provavelmente, não vão recuperar seus empregos e renda. São ambulantes, microempreendedores, trabalhadores informais, sem-teto e pessoas em situação de rua que merecem ter sua dignidade garantida. Na cidade onde a classe dominante não quis alimentar a cultura popular da gente, preferindo sempre importar cultural de outros Estados, queremos impulsionar a economia comunitária, resgatando o financiamento das artes e da comunicação para a autossustentação de artistas, artesãs, produtores, MC’s, poetas, fotógrafos, cineastas, jornalistas e pesquisadores.
Por isto, apresentamos para a vereança uma pré-candidatura coletiva e comunitária, articulada no calor das necessidades e lutas comunitárias. Que estava na luta dos sem-teto em suas ocupações de lona preta gritando que o povo sem medo ocuparia seu direito à cidade. Que está presente nas lutas dos entregadores de aplicativo por direitos trabalhistas e sociais, que denuncia a epidemia de doenças que ameaçam a saúde das comunidades, que mete o peito contra o genocídio e contra a criminalização das favelas e dos movimentos sociais. Que defende e pratica a nossa cultura ancestral, seja através da capoeira ou do candomblé, seja pelos saraus ou eventos que tenham nosso sotaque e nossa potência.
Somos a Bancada Comunitária!
Somos a resistência paciente de Niely Santos — jovem negra, mãe, sem-teto que parou uma bala no peito, mobilizadora no Coqueiral. Somos a coragem focada de Daniel Santos, motoboy criado nas ocupações da terra dura no Santa Maria, mobilizador da parte baixa da Coroa do Meio. Somos a empatia e a responsabilidade de Soayan Almeida, mãe, cantora negra autônoma, candomblecista que já cantou com os sem-terra e mobiliza sua experiência militante pela cultura sergipana. E somos a solidariedade insurgente de Vinícius Oliveira, educador popular, capoeira, jornalista, que foi o candidato mais jovem a vice-prefeito na história de Aracaju, poeta e militante histórico das lutas comunitárias pelo direito à cidade.
Essas eleições serão históricas para o nosso futuro e com as mudanças nas regras eleitorais o PSOL Aracaju tem a chance de eleger vereadores. É necessário construir uma nova política comum, não apenas com falas, mas com gestos, com exemplo, como dizia Paulo Freire. A Bancada Comunitária quer ter um pé no parlamento com milhares de mãos nas ruas.
Chega de gente mansa nos representando! Vamos ocupar nossos direitos!
Somos semente de Marielle!
Aqui, é COMUNIDADE acima do lucro.
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