Antônio Souza e Aparecida Dias, Ceará e Rio de Janeiro, 23 de Setembro de 2020
O funcionamento normal do capitalismo, como um modelo de produção e reprodução social, depende do controle e de que tombem os corpos de negros, LGBT e mulheres.
O capitalismo depende de que mulheres e homens sigam um modelo de família que garanta a continuidade do sistema, tanto no sentido biológico quanto na continuidade desses valores. A cisheteronormatividade, entendida pelo capitalismo como um local de privilégios, precisa acabar para que haja espaço para se construir uma sociedade plural, livre e socialista. A partir disso apresentamos uma formulação essencial: o movimento LGBT é necessariamente anticapitalista.
Hoje é o dia da visibilidade bissexual, e pouco se ouve falar nisso porque o padrão de cisheteronormatividade e os padrões de gênero e sexualidade atuam sobre nós, bissexuais, tanto dentro quanto fora do movimento LGBT quanto fora dele.
A performatividade bissexual em si faz com que tanto heterossexuais quanto LGTQ+ pratiquem, em níveis diferentes, bifobia, que se dá, principalmente, a partir da fuga aos padrões normativos estabelecidos tanto entre os primeiros quanto entre as segundas.
Assim entramos em uma questão fundamental que esse estranhamento a uma performance de sexualidade (a bissexual) tão natural quanto qualquer outra suscita: a compreensão da bissexualidade, e das/dos bissexuais, como indecisos, como uma fase, como uma "escolha" pra ter maior variedade de conquistas na balada. E a consequência disso é, naturalmente, a marginalização e a invisibilização.
Nós, bissexuais, existimos e resistimos. E somos anticapitalistas e insurgentes porque queremos um mundo onde possamos amar e expressar nossas subjetividades plenamente. Um mito muito forte criado pela propaganda capitalista é que a única possibilidade socialista é uma sociedade totalitária, controladora, normalizadora, o que não corresponde em nada à realidade. Somos anticapitalistas porque somente uma sociedade onde nós, bissexuais trabalhadoras e trabalhadores, jovens, negras e negros, cis, intersexuais e transsexuais, possamos viver além da exploração do trabalho mal pago, das angústias do fascismo presente, da carestia e da precarização completa da vida, é que conseguiremos expressar plenamente nossas subjetividades. Uma sociedade socialista radicalmente democrática, antirracista, feminista que elimine a LGBTfobia e o patriarcado, é o modo de viver que demandamos e sabemos que é possível.
Somos insurgentes porque nos unimos para construir esse outro mundo possível.
"Bissexuais & anticapitalistas & insurgentes" porque não há tempo pra recuar, e por lutamos para a transformação do presente e do futuro.
Antonio e Aparecida são militantes da Insurgência Babadeira, setorial LGBTI da Insurgência