Depois de levar a pior no embate com o STF e com Comissão da Câmara dos Deputados sobre o voto impresso, na semana passada, Bolsonaro e seus asseclas, com apoio das cúpulas das Forças Armadas, resolveram avançar mais uma casa nas ameaças antidemocráticas: de forma inusitada na história, um desfile de tropas e equipamentos que costuma dar largada à Operação Formosa – um exercício militar periódico realizado em Goiás, liderado pela Marinha – é anunciado para ocorrer na Esplanada dos Ministérios na manhã de terça, 10 de agosto, com a presença do próprio presidente da República e do Ministro da Defesa, Walter Braga Neto.
Poderia ser mera coincidência, mas até as pedras sabem que não é. Tropas e blindados (sim, tanques!) diante do Planalto configura uma grande provocação ao Congresso, ao Judiciário e ao que de mais significativo institucionalmente resta de sistema democrático. Como já havia anunciado na sexta passada o presidente da Câmara, Artur Lira, o plenário da casa vai apreciar e votar a chamada PEC do Voto Impresso, defendida pelo bolsonarismo e derrotada na Comissão que a analisou. Com essa PEC, Bolsonaro e seus apoiadores questionam o sistema eletrônico de votação e apuração eleitoral vigente há 20 anos no país, ao qual acusam de fraudes que nunca conseguiram comprovar.
O questionamento à “urna eletrônica” tem sido há pelo menos dois meses a campanha central com a qual Bolsonaro e a ultradireita, fardada ou não, procura responder com antecedência a uma muito possível derrota nas urnas em 2022 – possibilidade resultante do desastre de sua gestão em todos os terrenos, com a consequente queda de popularidade. Bolsonaro parece querer superar o guru Trump: já ameaçou publicamente com a não realização de eleições, caso não vença na imposição do voto impresso, enquanto nos bastidores, como noticia há dias a imprensa, Braga Neto e outros ministros militares coagem a torto e à direito pela mudança nas regras do jogo eleitoral. Mais do que campanha, é golpismo descarado: o marketing bolsonarista tem ruído de coturnos como música de fundo.
Está mais do que na hora de a oposição ao bolsonarismo e a esquerda em particular – PT, PCdoB – reagir com vigor a essa campanha da ultradireita. Repetimos há mais de dois anos que o projeto de Bolsonaro é golpista – não tem o menor respeito pela vontade da maioria e pela alternância de poder característica das democracias parlamentares. Não é um projeto de longo prazo, nem médio. É um objetivo para quando a necessidade (de perpetuação no poder) e a oportunidade se combinarem a ponto de permiti-lo. Para criar a oportunidade, Bolsonaro e seus mentores fardados estão apostando todo o estoque no caos, testando os limites dos adversários e das regras do jogo, agindo para aprofundar a crise institucional até que o sistema político se mostre tão disfuncional que um cavalo de pau autoritário apareça como solução de estabilidade.
É hora de ação! É preciso impor derrotas a Bolsonaro o quanto antes, começando por derrotar o voto impresso e não aceitar que o covarde Lira adie a votação. A oposição parlamentar e os movimentos democráticos da sociedade civil têm um papel fundamental a cumprir no repúdio a essa provocação militarista do governo e das FFAA. Mas é imprescindível repensar o calendário de rua, para mobilizar contra mais esta investida golpista do bolsonarismo. Não se pode depositar todas as fichas nas instituições do sistema político. É preciso buscar a maioria social e a mobilização das ruas como o fator que será determinante para barrar as provocações e aventuras golpistas.
Nessa praia, as organizações e movimentos da Campanha Fora Bolsonaro, UNE, centrais sindicais, Coalizão Negra, APIB, artistas, movimento ambientalista - que têm organizado a unidade contra Bolsonaro - têm todas as condições de encabeçar uma unidade ainda mais ampla, com todos os dispostos a barrar o golpismo. Não é hora para sectarismo nem disputas fora de hora e lugar.
Podemos continuar debatendo o quanto Bolsonaro têm de apoio, o quanto as Forças Armadas em seu conjunto fecham com a estratégia do caos, e a até as possíveis táticas eleitorais para 2022. O que é inadmissível é pagar para ver. Não se trata mais de bravata verbal, mas de uma ação ameaçadora e provocativa militarizada dos que defendem um regime autoritário. É preciso estar atento e forte em 2021, para que haja 2022.
Ditadura Nunca Mais!
Fora Bolsonaro e golpistas!