Robert Boyer, analista das evoluções históricas divergentes dos capitalismos – ele prefere usar o termo no plural –, publicou, no início deste mês, pelas edições La Découverte, uma obra marcante, Les capitalismes à l'épreuve de la pandémie (Os capitalismos à prova da pandemia, 200 páginas, 19 euros), em que faz um diagnóstico do choque que hoje abala a economia mundial e dos seus possíveis desdobramentos.
Antoine Reverchon entrevista Robert Boyer, Le Monde, 3 de novembro de 2020. Tradução é de André Langer.
Para qualificar a crise que atravessamos, os economistas oscilam entre “crise sem precedentes”, “recessão mais grave desde 1929”, ou mesmo “terceira crise do século” – após as crises dos subprimes de 2008 e do euro em 2010. O que você pensa?
Não podemos aplicar palavras herdadas das crises anteriores a uma nova realidade. Mais do que um erro, é um engano porque indica que esperamos aplicar os remédios conhecidos, que não terão, portanto, nenhuma eficácia.
O termo “recessão” aplica-se quando um ciclo econômico, que atingiu um determinado estágio, muda por motivos endógenos – o que implica que a etapa seguinte será mecanicamente a recuperação, também por razões endógenas, com um retorno ao estado anterior. Ora, não se trata aqui de uma recessão, mas de uma decisão das autoridades políticas de suspender toda a atividade econômica que não seja essencial para o combate à pandemia e para a vida cotidiana.
A persistência de um vocabulário econômico para designar uma realidade política é surpreendente. Falou-se de “apoio” à atividade, quando se tratava mais de um congelamento da economia. O plano de “estímulo” é, na verdade, um programa de compensação às empresas pelos prejuízos sofridos, levado a cabo graças à explosão das despesas orçamentárias e ao relaxamento da restrição ao seu refinanciamento pelos bancos centrais. É um “cuidado paliativo” que só fará sentido se epidemiologistas, médicos e biólogos encontrarem a solução para a crise de saúde – mas isso não depende de modelos ou de políticas econômicas.
Esta brutal e assumida paralisação da produção provoca tais mudanças – sobretudo porque vai durar muito tempo – econômicas, mas também – o que os economistas negligenciam – institucionais, políticas, sociológicas, psicológicas, de modo que é impossível que tudo “recomece” como antes. Um terço da capacidade de produção revelou-se, assim, não ter nenhuma utilidade social “indispensável”. Alguns setores são afetados por uma mudança estrutural nos padrões de consumo (turismo, transporte, aeronáutica, publicidade, indústria cultural, etc.) e pelo colapso das redes de subcontratação e o desaparecimento de diversos pontos na cadeia de valor.
A destruição de capital e renda já é colossal – devemos esperar, portanto, um declínio duradouro no padrão de vida médio. E dificilmente se pode contar com a liberação repentina das economias bloqueadas durante a quarentena porque, dada a transformação do desemprego parcial em desemprego integral, devido ao acúmulo de perdas. Espera-se que essa economia se transforme em economia de precaução, que não será liberada até que a confiança seja restaurada.
A paralisação da economia prejudicou os arranjos institucionais e as regras que, sem que tenhamos consciência, garantem a coordenação entre os atores: a segurança sanitária, a confiança nas autoridades públicas, a previsibilidade dos mercados, a complementaridade das atividades econômicas, a sincronização dos tempos sociais – escola, transporte, trabalho, lazer –, a definição das responsabilidades jurídicas, etc.
A estratégia econômica pautada pela ideia de que se trata de uma recessão – e que basta, portanto, manter o que resta da economia como está, para então reavivar a atividade para voltar à situação anterior (a famosa recuperação em “V”) – está, portanto, fadada ao fracasso. O ano de 2020 pode entrar para a história não apenas como o ano de um choque econômico devido às perdas colossais do PIB e do empobrecimento de amplas camadas da sociedade, mas também como o momento em que os regimes socioeconômicos, incapazes de garantir as condições de sua reprodução, atingiram seus limites. Só haverá “saída da crise” quando a transformação estrutural da economia que se desenrola aos nossos olhos estiver suficientemente avançada.
Uma transformação para uma economia mais respeitosa do meio ambiente e menos desigualitária?
Nem um pouco, infelizmente! Não pretendo participar do concurso do “dia seguinte”, em que cada especialista que aponta este ou aquele defeito do sistema se propõe a corrigi-lo: menos desigualdades através do aumento de tributos e dos gastos públicos, mais ecologia através de uma estratégia forte e coerente de proteção do clima e da biodiversidade, mais inovação graças à “destruição criativa” de atividades obsoletas, mais competitividade pela redução dos impostos de produção, etc. Ao contrário do mito de uma lousa limpa que seria criada por uma situação “sem precedentes”, essa recomposição já está em ação. A pandemia nada mais fez do que reforçar as coisas.
Então, que transformação é essa?
O “congelamento” da economia acelerou o fluxo de valor entre as indústrias em declínio e uma economia de plataformas em pleno crescimento – para dar um exemplo, a passagem do engenheiro da aeronáutica ao entregador da Amazon. No entanto, esta economia oferece baixíssimo valor agregado, um nível de qualificação medíocre para a maioria dos que nela trabalham e gera baixíssimos ganhos de produtividade. Durante muito tempo pensei que essas características levariam a uma crise estrutural do capitalismo, mas agora admito que estava errado.
Os atores desta economia de plataforma, os GAFA [Google, Apple, Facebook, Amazon], muito mais do que o investimento “verde”, captam as rendas do capitalismo financeiro, salvando-o dos seus erros anteriores, que o levaram do crash das start-ups digitais, em 2000, ao crash imobiliário, em 2008. Enquanto os ambientalistas proíbem as árvores de Natal, os GAFA estão investindo no futuro. Em suma, o capitalismo não está em crise; ele está até saindo consideravelmente fortalecido desta pandemia.
Mas a economia de plataforma reforça as desigualdades econômicas. As start-ups inovadoras, as indústrias e os serviços tradicionais vão sofrer muito. As plataformas oferecem apenas uma remuneração medíocre para aqueles que – afora seus poucos funcionários e, claro, seus acionistas – trabalham para eles. Os GAFA não estão preocupados com a produção ou a melhoria das qualificações – eles são predatórios no mercado das competências, em escala transnacional. A pandemia, a quarentena e as medidas de “apoio” à economia somente reforçaram estes fenômenos: aumento do subemprego, perda de rendimentos para os menos qualificados, alargamento do fosso digital tanto entre as empresas como entre os indivíduos, acesso desigual à escola.
Os “perdedores” desta economia, e são muitos, são então levados a recorrer aos Estados, os únicos capazes de protegê-los da miséria e da degradação face à onipotência das empresas transnacionais digitais e financeiras – mas também reabilitados em suas funções soberanas e reguladoras pela “magia” da pandemia. O poder dos GAFA produz, pois, sua contrapartida dialética: o impulso de diferentes capitalismos de Estado dispostos a defender suas prerrogativas – e suas próprias empresas – ao interno de suas fronteiras, cujo modelo mais completo é a China.
A crescente concorrência entre essas duas formas de capitalismo é um fator de desestabilização das relações internacionais, como mostra a rivalidade entre a China e os Estados Unidos, exacerbada ainda mais pela crise da Covid-19 e cujo resultado é impossível, nesta fase, prever.
A consolidação de poderes econômicos em poderes políticos – imperiais ou nacionais – poderia abalar as tentativas de gestão multilateral das relações internacionais, já que a pandemia demonstrou mais uma vez a necessidade de uma gestão global das questões relativas à saúde, por exemplo. Esta ascensão dos chamados “populismos” também pode abortar projetos de coordenação regional, como a União Europeia, em favor de uma divisão de Estados soberanos ávidos para “recuperar o controle”, como proclama Boris Johnson, ajudado nisso por toda a panóplia das ferramentas digitais. Teríamos, assim, a “escolha”, se assim ouso dizer, entre um poder digital exercido por multinacionais e um poder digital exercido por Estados soberanos rivais.
Mas, novamente, como mostra a incerteza sobre as eleições americanas de 3 de novembro, a história não está escrita. Também é possível que coalizões políticas consigam o desmantelamento do monopólio dos GAFA, como foi o caso das ferrovias e do petróleo no final do século XIX nos Estados Unidos, ou ainda que o regime chinês seja contestado por uma repentina revolta social.
A contingência dos acontecimentos deve, além disso, encorajar economistas e cientistas políticos a desconfiarem das previsões feitas por modelos teóricos, aos quais a realidade histórica deveria ter o bom gosto de se dobrar... porque raramente é o caso. Cinquenta anos de prática da teoria da regulação me ensinaram que devemos sempre reinjetar na análise o surgimento de novas combinações institucionais e políticas que cria de maneira contingente o curso da história. Como disse Keynes [1883-1946], “Os economistas estão na condução da nossa sociedade, quando, na verdade, deveriam estar no banco de trás”.
Além disso, em seu livro, você é extremamente crítico em relação à sua profissão e às elites políticas e tecnocráticas em geral, em particular sobre a maneira como lidam com esta crise.
Isso não está errado... Eu tomaria apenas um exemplo, não inteiramente ao acaso: a economia da saúde. Para os macroeconomistas, o sistema de saúde representa um custo que pesa sobre a “riqueza nacional” e, portanto, deve ser reduzido – e os políticos os seguiram neste caminho. Nos últimos vinte anos, os ministros de Economia estão de olho no “spread”, diferencial de taxas entre títulos públicos de diferentes países. Seu objetivo é que a economia nacional atraia capital suficiente para vir e investir aqui e não em outro lugar. Isso não é bobagem em si, mas a consequência que se tirou foi a de limitar os gastos públicos com saúde, educação, equipamentos...
As palavras contam: os economistas e os políticos chamam o financiamento dessas “taxas” de “custos” – quando, na verdade, são a contrapartida de serviços prestados à coletividade. Esta estrutura de pensamento significa que as administrações e os políticos não dispõem de ferramentas adequadas de avaliação. Tem levado ao estabelecimento, nos hospitais, da gestão por atividade, o que tem resultado em desperdícios incríveis, enquanto um bom indicador de uma política de saúde deveria ser o número de anos de vida com boa saúde, e a boa gestão aquela que permite uma coordenação eficaz do trabalho das equipes médicas.
Assim, durante a pandemia, testemunhamos um belo exemplo de como uma contingência, o surto de um vírus, muda uma estrutura de pensamento. Antes, eram as finanças que definiam o quadro da ação pública, inclusive na saúde; hoje, é o estado de saúde do país que determina o nível de atividade econômica, e são as finanças que esperam como o messias uma vacina ou um tratamento para finalmente saber onde investir seus trilhões de liquidez. A decisão de priorizar a vida humana reverteu a tradicional hierarquia de temporalidades instituída pelos programas de liberalização em detrimento do sistema de saúde e gerou uma série de ajustes na esfera econômica: pânico na bolsa de valores, queda do preço do petróleo, paralisação dos empréstimos bancários e de investimentos, abandono da ortodoxia orçamentária, etc.
Esta crise revelou, portanto, como faria um raio-X, o verdadeiro papel de uma instituição, a saúde pública, cujo funcionamento era subestimado pela ideologia implícita na teoria econômica de referência. Isso de fato prevê que, como para uma empresa, o setor da saúde pode obter ganhos de produtividade graças às inovações técnicas. No entanto, a saúde é o único setor onde o progresso técnico aumenta os custos, porque mesmo que o preço unitário de um tratamento diminua, o custo total aumenta, porque temos que dar acesso a esse tratamento inovador a toda a população, e que há sempre novas doenças para combater. É, portanto, um erro fundamental querer “baixar o custo da saúde”. Além disso, nem a opinião pública nem os profissionais querem isso, apenas os economistas.
Essa pandemia também levou a melhor sobre um dogma fundamental da teoria econômica: o mercado teria, melhor do que o poder público, a capacidade de voltar ao equilíbrio dos custos de forma “natural”, pois teria a capacidade de difundir e sintetizar as informações veiculadas na sociedade e, assim, organizar as previsões dos atores econômicos para alocar eficientemente o capital.
Porém, com a pandemia, passamos de uma economia do risco a uma economia da incerteza radical, sobre o próprio modelo da epidemiologia. Porque a gestão da epidemia consiste em gerir a incerteza à medida que novas informações surgem e são imediatamente processadas por modelos probabilísticos... eles próprios postos em questão pelo aparecimento de novos dados.
Inicialmente, os governos enfrentaram um dilema – escolher entre a vida humana e a atividade econômica. Diante do risco de sofrer milhões de mortes, seguindo o modelo de algumas epidemias passadas, a escolha foi rápida: salvamos vidas e esquecemos todo o resto. Um cálculo simples parecia ser capaz de permitir arbitrar o momento do desconfinamento, ou seja, o momento em que o custo econômico, em alta, fosse superior ao preço da vida humana salva.
Os governos acreditavam que podiam confiar nos cientistas para afirmar tais certezas. Mas, historicamente, a gestão das pandemias sempre apresenta problemas que ultrapassam o conhecimento científico do momento: cada vírus é novo, apresenta novas características que devem ser descobertas ao mesmo tempo em que se espalha, e que derrubam os modelos herdados do passado. Então, como podemos decidir hoje, quando sabemos que ainda não sabemos o que saberemos amanhã? Disso resulta um mimetismo geral: é melhor estarmos todos errados do que estar certo sozinho.
Confiar nas “certezas” da ciência é confundir o estado dos conhecimentos dos manuais com a ciência em formação. É assim que a incerteza, intrínseca, da ciência epidemiológica fez os políticos perderem a confiança do público. Oscilar entre injunções contraditórias, por exemplo, sobre as máscaras e depois no acesso aos testes, só pode desestabilizar a capacidade dos agentes de antecipar o que vai acontecer. Os governos estão, portanto, diante de um trilema: à preservação da saúde e ao apoio à economia soma-se o risco de um ataque à liberdade, temido por uma opinião pública desconfiada.
O Estado, como o mercado, é capaz de administrar os riscos, mas é desafiado por uma incerteza radical. Os financiadores também odeiam estes “cisnes negros”, estes acontecimentos extremos que se desviam das distribuições estatísticas, base da valorização dos seus instrumentos, e que paralisam todas as previsões e, portanto, as decisões de investimento. E tanto epidemiologistas como climatologistas prometem acertadamente a multiplicação de tais eventos...
Você não oferece apenas cenários sombrios em seu livro. A pandemia, você afirma, fez surgir instituições e necessidades “ocultas” até agora por ideologias econômico-tecnocráticas, como a saúde...
Viajo bastante para o Japão, onde a falta de crescimento nas últimas duas décadas, apesar dos repetidos “pacotes de estímulo”, é vista pelos macroeconomistas como uma anomalia. E se, ao contrário, o Japão explorou um modelo econômico para o século XXI, onde os dividendos da inovação tecnológica não sejam colocados a serviço do crescimento, mas para o bem-estar de uma população que envelhece? Afinal, quais são as necessidades básicas dos países desenvolvidos: o acesso de todas as crianças a uma educação de qualidade, a vida saudável para todos os outros, inclusive os mais velhos, e, finalmente, a cultura, porque esta é a condição da vida em sociedade – não somos apenas seres biológicos que só precisam se alimentar, vestir e abrigar. Devemos, portanto, ser capazes de criar um modelo de produção da humanidade para os seres humanos. É o que chamo, no livro, de economia “antropogenética”.
Ora, este modelo já está em funcionamento, mas não é reconhecido. Não houve nenhuma queda nos gastos com saúde nos Estados Unidos desde 1930. A saúde é, neste país, o maior setor da economia, muito à frente da indústria automotiva, da tecnologia digital, etc. A educação, a saúde e o lazer têm sido os maiores empregadores nos Estados Unidos desde 1990 e estão crescendo continuamente, enquanto o emprego continua diminuindo na indústria e, desde o final desta década, nas finanças. Por que deveríamos achar “natural” trocar constantemente nossos carros e smartphones, e não renovar nosso acesso à educação, aos cuidados de saúde, ao lazer e à cultura? As inovações nestes setores estão, mais do que as tecnologias digitais, no cerne da vida social e do seu aperfeiçoamento.
A crise da Covid-19, ao nos fazer tomar consciência da fragilidade da vida humana, poderia mudar as prioridades que nos propomos: por que acumular capital? Por que consumir cada vez mais objetos para renová-los constantemente? Para que serve um “progresso técnico” que esgota os recursos do planeta? Como Keynes propôs em sua Carta a neus Netos (1930), por que uma sociedade em que, uma vez superada a pobreza, uma vida saudável aberta à cultura e à formação de talentos não deveria ser atraente e possível de realizar? Posto que estamos apenas começando a perceber que “as despesas de produção dos seres humanos” tornaram-se a maior parte das economias desenvolvidas, a Covid-19 deu ao Estado a prioridade de proteger os seres vivos e obrigou-o a investir nisso, comprometendo-o de fato com uma “biopolítica”, inicialmente restrita, mas escolhida amanhã.
Mas seria necessária uma coalizão política e, por conseguinte, novas instituições para transformar essa constatação em um projeto. Infelizmente, é possível que outras coalizões – a serviço de uma sociedade da vigilância, consubstanciada no capitalismo de plataforma ou em capitalismos de Estado soberano – prevaleçam. A história o dirá.
Robert Boyer, membro de uma “escola francesa” que permaneceu sob os radares
A notoriedade das publicações e dos seminários do economista é muito maior no continente sul-americano, no Japão e na China, do que na França.
Antoine Reverchon, Le Monde, 3 de novembro de 2020. A tradução é de André Langer.
Nascido em 1943, Robet Boyer é um daqueles “engenheiros economistas” ao estilo francês que, forjados pelo sistema meritocrático da seleção pela matemática, ingressou em uma das melhores escolas da República, a École Polytechnique, em 1962, onde descobriu a sedução da economia através de um professor que veio do INSEE, Jacques Dumontier. Na época, os ministérios eram loucos pelo cálculo econômico e modelos matemáticos capazes de “prever” a evolução dos preços, da produção, do consumo... Tratava-se de esclarecer “cientificamente” a política econômica e o planejamento.
Formado pela École Nationale des Ponts et Chaussées e de Sciences Po, Robert Boyer iniciou a carreira de economista como funcionário público, o que o levou ao Ministério de Equipamentos, ao Centro de Estudos de Renda e Custo e à direção de previsão do Ministério das Finanças. Lá, ele trabalhou em uma equipe encarregada de desenvolver um modelo econométrico, que se mostrou incapaz de fazer qualquer previsão válida sobre os efeitos do choque do petróleo de 1973, quando a inflação disparou e a produção entrou em colapso.
É a este fracasso que remonta a conversão do funcionário público ao mundo da pesquisa. Ingressou no centro de estudos prospectivos de economia matemática aplicada ao planejamento (Cepremap), onde se formou uma comunidade de pesquisadores que, seguindo Michel Aglietta, reuniu Jacques Mistral, Jean-Pascal Benassy, Alain Lipietz e Hugues Bertrand, e elaborou a “teoria da regulação”: os fenômenos econômicos não podem ser compreendidos por meio de modelos abstratos e axiomáticos, mas levando em consideração as combinações entre eventos históricos, instituições políticas, jurídicas e culturais, relações sociais e quadros ideológicos da ação pública e das decisões privadas.
Mas esta “escola francesa” nasceu quando a onda neoclássica e monetarista vinda da Escola de Chicago foi conquistando gradativamente os departamentos de economia das universidades americanas, depois cruzou o Atlântico e converteu a administração francesa às virtudes do mercado em vez da intervenção pública. Embora Robert Boyer tenha obtido um acesso ao CNRS (1978), depois à École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS, 1982), os “regulacionistas” permanecem à margem das instituições acadêmicas. Robert Boyer ingressará no Institute des Amériques, um instituto multidisciplinar do qual é um dos poucos economistas.
Mas, de fato, a notoriedade de suas publicações e de seus seminários é muito mais forte no continente sul-americano, no Japão e na China, para onde ele viaja constantemente, do que na França, onde apenas uma revista on-line, a Revue de la Régulation, alguns livros e um manual, relembram a existência desta economia à moda francesa. Graças à Covid-19, que cancelou incessantes deslocamentos, o economista, escrevendo doze horas por dia durante três meses, acaba de publicar Les capitalismes à l'épreuve de la pandémie (Os capitalismos à prova da pandemia, La Découverte, 200 páginas, 19 euros), uma obra magistral. Porque Robert Boyer nunca para. Ele já sonha com o próximo livro: uma história social e epistemológica da macroeconomia, para entender por que e como sua profissão perdeu-se no dogmatismo cientificista.