O Estado de S.Paulo, 15 de abril de 2021
Brasil e EUA não devem assinar um acordo bilateral formal durante a Cúpula do Clima, convocada para o Biden e que começa na semana que vem. Segundo diplomatas envolvidos nas negociações, um eventual acordo pode ser realizado no futuro, mas, no momento, os dois países fazem "conversas exploratórias" para chegar a convergências possíveis em nível bilateral e multilateral.
Vista em Washington em um primeiro momento como um passo ainda tímido do Brasil, a mais recente carta de Bolsonaro a Biden é considerada por diplomatas brasileiros como uma vitória do Itamaraty.
Nas últimas semanas, diplomatas brasileiros vêm argumentando que o discurso do ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, de que o Brasil só irá avançar na agenda climática se receber dinheiro dos americanos, não ajuda na negociação com Washington.
A avaliação corrente é de que há uma série de canais de financiamento para projetos ambientais dos quais o País poderia se beneficiar, como fundos dos organismos multilaterais, como o Banco Mundial e um mais recente criado no Banco Interamericano de Desenvolvimento por sugestão do próprio Brasil.
O que falta, portanto, segundo interlocutores do próprio governo, era a sinalização clara de Bolsonaro de que está comprometido com metas ambientais e uma agenda concreta de execução. "Os recursos existem. Com o compromisso do governo, eles virão", diz um diplomata.
Apesar de o governo já ter se comprometido antes com a eliminação do desmatamento ilegal até 2030, alegam os diplomatas brasileiros, a realização do compromisso pelo próprio presidente teria outro peso, ainda mais em texto encaminhado à Casa Branca.
Na outra ponta, os americanos sinalizam que assumir esse compromisso não é o bastante caso não haja um desenho concreto de como executar a meta com resultados apresentados ainda neste ano.
No MRE, também foi vista como uma fala importante a promessa de Bolsonaro de consultar lideranças de comunidades locais e do terceiro setor sobre o tema da Amazônia. Representantes de ONGs, no entanto, têm articulado uma resistência a qualquer movimento de aproximação de Biden com Bolsonaro através e eventos e conversas com parlamentares do partido democrata.