[Esta não é uma discussão que diz respeito apenas aos cientistas do clima, mas a toda a sociedade. Se a Corrente do Golfo for desligada, o clima do mundo todo mudará de forma abrupta. O degelo da Groenlândia é, junto com o desmatamento da Floresta Amazônica, o ponto de ruptura mais frágil do sistema climático].
Fenômeno ocorreu em local a 3.216 metros de altitude, onde as temperaturas ficaram acima de zero durante nove horas. Para especialistas, este é mais um alerta para aquecimento da camada de gelo na região.
Reuters, 21 de agosto de 2021
O ponto mais alto do manto de gelo da Groenlândia registrou chuva pela primeira vez na história. O fenômeno aconteceu no sábado passado (14 de agosto) em um local a 3.216 metros de altitude, onde as temperaturas permaneceram acima de zero por cerca de nove horas.
A chuva foi relatada na quarta-feira (18) por cientistas do Centro de Dados Nacional de Neve e Gelo dos Estados Unidos. Segundo especialistas, este é mais um sinal preocupante de aquecimento da camada de gelo, que já está derretendo em um ritmo crescente.
"Isso não é um sinal saudável para um manto de gelo", disse Indrani Das, glaciologista do Observatório Terrestre Lamont-Doherty da Universidade de Columbia à agência Reuters. "Água no gelo é ruim. Torna a camada de gelo mais propensa a derreter".
O Centro de Dados Nacional de Neve e Gelo afirmou que, por conta do clima, a região registrou derretimento de gelo durante três dias seguidos. "A causa do derretimento que ocorreu de 14 a 16 de agosto de 2021 foi semelhante aos eventos ocorridos no final de julho", disse.
Segundo o órgão, a área do derretimento de gelo na superfície chegou a 872 mil quilômetros quadrados no sábado (14) e reduziu de tamanho nos dias seguintes.
A perda de massa de gelo na superfície registrada no domingo (15) foi sete vezes acima da média para meados de agosto.
Com o derretimento do gelo, a água flui para o oceano e faz com que o nível do mar suba. O derretimento da camada de gelo da Groenlândia – a segunda maior do mundo depois da Antártica – causou cerca de 25% do aumento do nível do mar global nas últimas décadas, estimam os cientistas.
A chuva 'preocupante' registrada pela primeira vez no ponto mais alto da Groenlândia
Cientistas da estação Summit ficaram surpresos ao verem gotas de água escorrer pela janela - algo inédito desde que o alojamento foi construído em 1989.
BBC 21 de agosto de 2021
Ninguém sabe quando foi a última vez que choveu nesta área remota da Terra.
Por estar localizado a 3.216 metros de altitude na região do Ártico, com temperaturas abaixo de zero quase o tempo inteiro, o pico da Groenlândia normalmente não apresenta condições atmosféricas para gerar precipitação.
Por isso, o que aconteceu no dia 14 de agosto surpreendeu os pesquisadores da estação Summit, da agência americana National Science Foundation, que monitora o clima nesta parte do planeta.
Choveu "por várias horas", de acordo com as informações do Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos Estados Unidos (NSIDC). Nada parecido tinha sido observado desde que os registros começaram a ser feitos em 1987, conforme as informações compartilhadas pelo cientista Martin Stendel em suas redes sociais.
Conforme o relatório, "a temperatura do ar ficou acima de zero por cerca de nove horas". O aumento nos termômetros criou condições de degelo que só foram vistas anteriormente em três ocasiões: 1995, 2012 e 2019.
Mais um exemplo de como o aquecimento global está afetando lugares tão remotos como o pico da Groenlândia, de acordo com especialistas.
"Isso não é um sinal saudável para um manto de gelo", disse à agência de notícias Reuters Indrani Das, glaciologista do Observatório Terrestre Lamont-Doherty da Universidade de Columbia.
"Água no gelo é ruim... Torna o manto mais propenso a derreter na superfície."
'Choveu o dia todo'
Embora muitas vezes chova na superfície congelada da Groenlândia, o fenômeno nunca tinha sido observado no ponto mais alto.
Na estação de pesquisa, os cientistas ficaram surpresos ao verem gotas de água escorrer pelas janelas do alojamento — e chegaram a compartilhar imagens nas redes sociais.
"No sábado, choveu basicamente o dia inteiro, a cada hora em que a equipe fazia observações do tempo", disse a engenheira Zoe Courville ao The Washington Post.
"E é a primeira vez que se vê isso na estação."
A temperatura chegou a 0,48°C — a quarta vez nos últimos 25 anos que ela ultrapassa zero naquela área.
Os termômetros ficaram acima de 0°C durante várias horas, o que, combinado com a chuva, criou condições para o degelo na superfície do pico e arredores, segundo dados do NSIDC.
No total, o derretimento atingiu 872 mil quilômetros quadrados no dia 14.
"Somente em 2012 e 2021 houve mais de um evento de derretimento de 800 mil quilômetros quadrados", destaca o relatório do NSIDC.
A região do Ártico está esquentando duas vezes mais rápido que o resto do planeta devido às mudanças climáticas, explica Steve Turton, pesquisador de geografia ambiental da Universidade Central de Queensland, na Austrália, em um artigo no site The Conversation.
Enquanto no resto do planeta a temperatura aumentou em média em 1°C, na região esse ritmo chegou a quase 2°C.
"Esta chuva preocupante no topo da Groenlândia não é um evento isolado", ressaltou Twila Moon, cientista do NSIDC.
Junto com o aumento de enchentes, incêndios e outros eventos extremos, é um dos muitos "sinais de alarme" que apontam a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa.