Mais de 60 cientistas climáticos e acadêmicos de todo o mundo lançaram no dia 17 uma iniciativa global pedindo um Acordo Internacional de Não-Uso de Geoengenharia Solar. Eles argumentam que a implantação da geoengenharia solar não pode ser governada de forma justa globalmente e representa um risco inaceitável se implementada como uma futura opção de política climática. O grupo, portanto, pede a colegas acadêmicos, organizações da sociedade civil e pessoas interessadas que assinem uma carta aberta aos governos, às Nações Unidas e outros atores para interromper o desenvolvimento e o uso potencial de tecnologias de geoengenharia solar em escala planetária. A iniciativa baseia-se em um artigo acadêmico publicado no WIREs Climate Change, coautoria de 16 cientistas e pioneiros deste projeto.
Frank Biermann e outros, https://www.solargeoeng.org, 17 de janeiro de 2022
Mais de 60 cientistas climáticos e acadêmicos de todo o mundo lançaram no dia 17 uma iniciativa global pedindo um Acordo Internacional de Não-Uso de Geoengenharia Solar. Eles argumentam que a implantação da geoengenharia solar não pode ser governada de forma justa globalmente e representa um risco inaceitável se implementada como uma futura opção de política climática. O grupo, portanto, pede a colegas acadêmicos, organizações da sociedade civil e indivíduos interessados que assinem sua carta aberta aos governos, às Nações Unidas e outros atores para interromper o desenvolvimento e o uso potencial de tecnologias de geoengenharia solar em escala planetária. A iniciativa baseia-se em um artigo acadêmico publicado hoje no WIREs Climate Change, co-autoria de 16 cientistas e pioneiros deste projeto.
A iniciativa de um acordo de não-uso diz respeito especialmente contra a tecnologia mais amplamente debatida: a pulverização massiva de aerossóis na estratosfera para bloquear uma parte da luz solar que entra para resfriar o planeta. Tais intervenções perigosas em escala planetária não podem ser governadas de maneira globalmente inclusiva, justa e eficaz e, portanto, devem ser proibidas, de acordo com esse grupo de cientistas e especialistas em governança climática.
Conforme declarado pelo professor Frank Biermann da Universidade de Utrecht, líder da chamada e primeiro autor do artigo WIREs, “A implantação da geoengenharia solar é ingovernável de maneira justa, democrática e eficaz. Nas últimas décadas, a geoengenharia solar tem sido um tópico de pesquisa para apenas um pequeno grupo de cientistas baseados principalmente em universidades de elite nos EUA e no Reino Unido. Agora, outras comunidades científicas e a sociedade civil devem intervir e levantar a voz. Os governos devem assumir o controle. O desenvolvimento de tecnologias de geoengenharia solar deve ser interrompido”.
A Carta Aberta também destaca que apostar na geoengenharia solar como uma possível solução futura ameaça “os compromissos de mitigação e pode desincentivar governos, empresas e sociedades a fazer o máximo para alcançar a descarbonização ou a neutralidade de carbono o mais rápido possível. A teórica possibilidade futura de geoengenharia solar corre o risco de se tornar um argumento poderoso para lobistas da indústria, negacionistas climáticos e alguns governos para atrasar as políticas de descarbonização”.
No início de 2021, essa foi uma das razões apresentadas pelo Conselho indígena Saami e ONGs ambientais para interromper um teste de balão para um programa de pesquisa de geoengenharia solar da Universidade de Harvard. Planejado para junho de 2021 acima do território indígena na Suécia, o teste foi interrompido após forte oposição da sociedade civil. Esses testes deveriam ser proibidos em todo o mundo, argumentam agora o grupo de 60 especialistas.
Os 60 cientistas climáticos e especialistas em governança também temem que, sem uma proibição ou restrições internacionais, alguns países poderosos, com apoio de grandes corporações e filantropos, possam se envolver em geoengenharia solar unilateralmente ou em pequenas coalizões, mesmo quando o resto do mundo se opõe a tal implantação - ou ainda não tenham tido tempo para avaliá-la e seus perigos potenciais. Essa ameaça, argumenta o grupo, requer ação imediata dos governos e das Nações Unidas por um Acordo Internacional de Não-Uso de Geoengenharia Solar.
Mais precisamente, a Carta Aberta pede aos governos que apoiem cinco proibições e medidas básicas para:
1. O compromisso de proibir suas agências públicas de financiamento de apoiar o desenvolvimento de tecnologias para geoengenharia solar, internamente e por meio de instituições internacionais.
2. O compromisso de proibir experimentos ao ar livre de tecnologias de geoengenharia solar em áreas sob sua jurisdição.
3. O compromisso de não conceder patentes para tecnologias de geoengenharia solar, incluindo tecnologias de apoio, como a adaptação de aviões para injeções de aerossol.
4. O compromisso de não implantar tecnologias de geoengenharia solar se desenvolvidas por terceiros.
5. O compromisso de se opor à futura institucionalização da geoengenharia solar planetária como uma opção de política pública em instituições internacionais relevantes, incluindo relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
O site da iniciativa oferece informações científicas atualizadas sobre os diversos riscos da geoengenharia solar e seu conjunto teórico de tecnologias. Para mais informações e atualizações, siga @SolarGeoeng no Twitter.
Contact:
Carol Bardi (brasileira, comunica-se em português, inglês, alemão, espanhol e holandês) – c.costadesouza@uu.nl – WhatsApp + 31 6 51 35 62 05
Para mais informações e solicitações de entrevistas com o autor principal, coautores do artigo do WIREs ou outros signatários proeminentes, entre em contato com Carol Bardi, coordenadora global da iniciativa de um Acordo Internacional de Não-Uso em Geoengenharia Solar.
O site da iniciativa será lançado em 17 de janeiro. Em 14 de janeiro, estará online como um soft launch.
Notas de edição:
A iniciativa é liderada por Frank Biermann, Professor de Governança de Sustentabilidade Global no Instituto Copernicus de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Utrecht, Holanda.
Os 16 cientistas que são coautores do artigo na WIREs Climate Change são:
• FRANK BIERMANN, Professor de Governança de Sustentabilidade Global no CopernicusInstitute of Sustainable Development, Utrecht University, Países Baixos
• JEROEN OOMEN, Pesquisador, Urban Futures Studio, Copernicus Institute of SustainableDevelopment, Utrecht University, Países Baixos• AARTI GUPTA, Professor de Governança Ambiental Global, Universidade de Wageningen, Países Baixos • SALEEM H. ALI, Distinguido Professor de Energia e Meio Ambiente, Universidade de Delaware; Membro do Painel Consultivo Científico e Técnico do Global Environment Facility, Estados Unidos da América • KEN CONCA, Professor de Relações Internacionais, School of International Service, American University, Estados Unidos da América • MAARTEN A. HAJER, Distinguished Professor of Urban Futures e Diretor Científico, programa “Pathways to Sustainability”, Universidade de Utrecht, Países Baixos • PRAKASH KASHWAN, Professor Associado de Ciência Política, Departamento de Ciência Política, Universidade de Connecticut, Estados Unidos da América • LOUIS J. KOTZÉ, Professor Pesquisador de Direito, Faculdade de Direito, North-West University, Potchefstroom, África do Sul • MELISSA LEACH, Professora de Antropologia e Diretora, Institute of Development Studies, Reino Unido • DIRK MESSNER, Professor e Presidente, Agência Ambiental Alemã, Alemanha • CHUKWUMERIJE OKEREKE, Professor de Governança Climática e Desenvolvimento Internacional e Diretor do Centro de Mudanças Climáticas e Desenvolvimento da Universidade Federal Alex-Ekwueme Ndufu-Alike, Nigéria • ÅSA PERSSON, Diretora de Pesquisa, Instituto do Meio Ambiente de Estocolmo e Professora Adjunta, Departamento de Estudos Temáticos – Mudanças Ambientais, Universidade de Linköping, Suécia • JANEZ POTOČNIK, Co-presidente, Painel de Recursos Internacionais, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e sócio da SYSTEMIQ, Eslovênia • DAVID SCHLOSBERG, Professor de Política Ambiental e Diretor, Sydney Environment Institute, University of Sydney, Austrália • MICHELLE SCOBIE, Professora de Direito Internacional e Governança Ambiental Global, Instituto de Relações Internacionais, Universidade das Índias Ocidentais, Trinidad e Tobago • STACY D. VANDEVEER, Professora e Chefe de Departamento, Resolução de Conflitos, Segurança Humana e Governança Global, Escola de Pós-Graduação de Políticas e Estudos Globais de McCormack, Universidade de Massachusetts Boston, Estados Unidos da América