Apesar dos apelos para um cessar-fogo global, a violência e a perseguição estão aumentando. Unhcr: “mais um trágico marco” ultrapassado, que está destinado a “crescer”. A comunidade internacional "falhou" em sua tarefa de "salvaguardar a paz". Na primeira metade do ano, o número de refugiados vulneráveis reassentados em países terceiros caiu pela metade.
AsiaNews / IHU-Unisinos, 9 de dezembro de 2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Apesar dos repetidos apelos por um cessar-fogo e políticas compassivas durante a pandemia de Covid-19, a violência e a perseguição continuaram sem descanso e contribuíram para a expulsão de muitas pessoas de suas casas. O suficiente para atingir um número recorde entre refugiados e deslocados, nunca alcançado antes. Este é o alarme lançado hoje pelas Nações Unidas, segundo o qual até ao final de 2020 “mais de 80 milhões” de pessoas serão deslocadas.
De acordo com relatórios do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), no final do ano passado o número de pessoas desenraizadas e expulsas de suas casas era de 79,5 milhões, incluindo 30 milhões de refugiados. De acordo com as estimativas preliminares para o ano que está se encerrando, o número voltou a crescer, ultrapassando os 80 milhões, bem mais que 1% da população mundial.
“Estamos superando outro marco trágico - ressalta Filippo Grandi do ACNUR - que estará destinado a crescer, a menos que os líderes mundiais parem as guerras”. Em março, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu um cessar-fogo global dos conflitos em tempos de pandemia, com um vírus que já matou mais de 1,5 milhão de pessoas em todo o mundo.
Um apelo que caiu no vazio, com os números do primeiro semestre de 2020 que confirmam novos deslocados na Síria, República Democrática do Congo, Moçambique, Somália e Iémen. Violências brutais também geraram novos refugiados na região do Sahel, na África Central, vítimas de estupros e execuções brutais. “Com o dobro do número de deslocados na última década - diz Grandi - a comunidade internacional falhou na tarefa de salvaguardar a paz”.
Para os especialistas das Nações Unidas, a nova pandemia de coronavírus "interrompeu todos os aspectos da vida humana e agravou ainda mais os desafios já presentes para os deslocados e apátridas". E algumas medidas implementadas pelos governos para conter as infecções têm dificultado ainda mais a tarefa de garantir proteção e segurança aos refugiados.
No auge da primeira onda em abril, pelo menos 168 países haviam fechado total ou parcialmente suas fronteiras; destes, 90 não abriram exceções para os requerentes de asilo. Em 2020, os novos pedidos de acolhimento diminuíram um terço em relação ao mesmo período do ano anterior. Ao mesmo tempo, o número de refugiados vulneráveis reassentados em países terceiros caiu pela metade (apenas 17.400 na primeira metade do ano).