Declaração do 5º Congresso do Novo Partido Anticapitalista francês. Dezembro de 2022.
As grandes potências imperialistas se reorganizando, a concorrência se intensifica, a extrema-direita se faz ameaçadora. As políticas de guerra e a corrida aos armamentos estão se tornando mais fortes. Por toda a parte, estamos do lado dos povos e do seu direito à autodeterminação, como na Ucrânia, em solidariedade contra a agressão de Putin.
Na ausência de uma alternativa ecossocialista, baseada na auto-organização dos e das de baixo, a máquina capitalista infernal continuará a girar fora de controlo. Como internacionalistas e anticolonialistas, as nossas esperanças são alimentadas pelas mobilizações feministas e antiditadura no Irão, as greves salariais em Inglaterra, as manifestações pela democracia na China, as lutas contra o racismo nos Estados Unidos, as lutas contra o clordecone [inseticida usado no cultivo da banana] nas Antilhas… Agimos em solidariedade com todas estas mobilizações. Porem se essas lutas são bem reais, elas encontram dificuldades para vencer. As mais maciças e radicais, nomeadamente os da Primavera Árabe, conseguiram livrar-se de regimes autoritários e corruptos. Mas nenhuma delas levou a uma alternativa emancipatória. A contraofensiva reacionária veiou acompanhada por massacres em massa e pelo regresso de regimes ditatoriais.
Para manter o seu domínio, os capitalistas estão prontos para tudo. Eles reforçam as suas ofensivas racistas, islamófobicas e autoritárias. Governos de extrema-direita impõem políticas discriminatórias, climáticidas e reacionárias. A ameaça fascista está de volta. Ela exige vigilância, lutas específicas e estruturas unitárias para a combater.
Macron ataca os mais precários entre nós com a reforma do seguro de desemprego, com a lei Darmanin contra os migrantes. A reforma das aposentadorias pretende fazer recuar a idade da aposentadoria para os 65 anos. Mais do que uma nova “reforma”, esta ofensiva a favor dos capitalistas traz consigo o projeto de uma sociedade de sobre-exploração: trabalhar mais e mais, por cada vez mais tempo… e por rendimentos cada vez mais baixos. É uma verdadeira provocação contra todos aqueles que, através do seu trabalho manual ou intelectual, mantêm a sociedade em movimento, especialmente as mulheres.
Macron aposta muito alto. Para ele, é passar ou quebrar: reforma ou dissolução [do parlamento]. Ele não nos deixa outra escolha senão bloquear o país. Temos de tirar Macron de lá. Isto implica a unidade dos trabalhadores e dos jovens, das suas organizações, desde a base até ao topo. Acima de tudo, requer um movimento vindo de baixo, nos locais de trabalho e escolas, nas comunas e bairros, que organiza e decide sobre a luta.
Recusa das demissões, aumentos salariais, redução das horas de trabalho… temos de romper com a exploração capitalista que coloca os lucros à frente das nossas vidas. Nas empresas e em todos os locais de trabalho, agimos para construir ferramentas de resistência coletiva – sindicatos, coletivos, etc. Os combates contra a exploração, contra todas as opressões e a favor da preservação do planeta estão ligados. As lutas ambientais, feministas, LGBTI e antirracistas têm as suas próprias dinâmicas e formas organizacionais. A sua auto-organização constrói a emancipação de todos e todas. A sua convergência abre o caminho a um confronto com este sistema e com os poderes que o defendem.
Uma organização internacionalista, anticapitalista, feminista e ecossocialista
Em 2009 iniciámos o NPA na esperança de nos reagruparmos num único partido com todos aqueles que estavam numa perspectiva anticapitalista, rompendo com a esquerda de gestão do sistema. Este projeto é mais relevante do que nunca. Hoje, retomamos o fio da construção de um partido útil para os explorados e os oprimidos. Na última sequência, a voto Mélenchon e depois NUPES foi o instrumento utilizado por uma parte importante das classes trabalhadoras para se defenderem contra Macron e a extrema-direita. Mas a um nível militante, dezenas de milhares de anticapitalistas são órfãos de uma organização política que atua praticamente na luta de classes, para além dos períodos eleitorais. Uma organização convencida de que a exploração, a opressão e a destruição dos ecossistemas não podem acabar sem derrubar o capitalismo, sem uma transformação revolucionária da sociedade, uma organização em diálogo e confronto sem sectarismos com outras correntes do movimento social.
Grupos que discordam destas perspectivas se desenvolveram no seio do NPA. Em algumas cidades e sectores, nos nossos organismos, a NPA tornou-se uma frente de organizações, em competição entre si. Recusamos esta situação que transforma o nosso partido num campo de batalha. Perante a sua recusa desses grupos em mudar sua forma de funcionar, decidimos continuar o NPA registrando a separação destes grupos.
Nas próximas semanas, o NPA estará presente em todas as mobilizações: contra a reforma das pensões, pela saúde e hospitais públicos, em defesa dos trabalhadores migrantes desde as próximas marchas de solidariedade, para construir a greve feminista de 8 de março, contra os projetos das megabassines [enormes reservatórios para a agricultura], contra o relançamento da energia nuclear e o enterramento dos resíduos em Bure…
À escala local e nacional, estamos a lançar uma campanha militante para abordar todos aqueles que têm o desejo comum de construir uma organização anticapitalista, revolucionária e unitária.
A primeira iniciativa será um encontro público em Paris na terça-feira 17 de janeiro na Bellevilloise, com os nossos porta-vozes Olivier Besancenot, Christine Poupin, Philippe Poutou e Pauline Salingue.
Aprovado por unanimidade dos 102 delegados, com três abstenções