[Este artigo foi escrito antes da COP 26, a partir da análise das contribuições nacionalmente determinadas - voluntárias - apresentadas pelos países para a COP 26 e sistematizadas pelo Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (PNUMA). Como previsto, o resultado da COP de Glasgow confirmou este diagnóstico. Outra matéria, publicada na sequencia, explicita o que significam os cenários de 1,5, 2 e 2,7 graus de aquecimento].
Nesse ritmo, a temperatura média da Terra no final do século irá aumentar 2,7 graus centígrados, mais do que 1,5 graus estabelecidos pelos Acordos de Paris. A amarga observação está contida no mais recente e fundamental relatório Emission Gap, elaborado anualmente pelo PNUMA, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
Luca Fraioli, La Repubblica, 26 de outubro de 2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Esta última edição chega poucos dias antes do início da COP26 em Glasgow e será o documento fundamental a partir do qual se iniciarão as negociações das delegações presentes na cidade escocesa. O Emission Gap Report, de fato, registra os empenhos assumidos pelas várias nações em termos de cortes nas emissões de gases de efeito estufa (a sigla é Ndc e significa Nationally determinated contributions) e comunicados à ONU. Bem, o PNUMA relata que os Ndc que chegaram nas últimas semanas (e também outros empenhos anunciados, mas não formalizados) aumentam os cortes de CO2 até 2030 em mais 7,5% em relação aos cálculos do relatório anterior. Mas ainda estamos dramaticamente longe da redução de 55% necessária para manter o aumento da temperatura em 1,5 grau. E também longe dos 30% que permitiriam ficar pelo menos abaixo de 2 graus centígrados, o Plano B dos Acordos de Paris.
“Para ter uma chance de não ultrapassar 1,5 grau, nos sobram oito anos em que teremos que praticamente reduzir quase pela metade as emissões de gases de efeito estufa: oito anos para fazer os projetos, traduzi-los em políticas, implementar essas políticas e finalmente conseguir concretamente os cortes”, escreve Inge Andersen, diretora executiva do PNUMA.
Mas onde estamos hoje? O Emission Gap Report atualiza a situação em 30 de setembro passado: 120 países, que representam cerca de metade das emissões globais, comunicaram seus Ndc atualizados. Três nações membros do G20 anunciaram outras medidas de mitigação a serem implementadas até 2030. Mas os cortes anunciados, conforme mencionado, estão bem abaixo das 28 gigatoneladas de CO2 equivalente que deveriam ser eliminadas a cada ano para permanecer em 1,5 grau: com os cortes atuais em 2100, a temperatura da Terra terá subido em 2,7 graus.
Uma pequena esperança vem de promessas de longo prazo: 49 nações, mais toda a União Europeia, se comprometeram a atingir a neutralidade de carbono (ou seja, tanto CO2 emitido quanto absorvido) em 2050. Mas apenas 11 países formalizaram em uma lei tal promessa. O PNUMA, em seu relatório, aponta que esses empenhos são "vagos, ambíguos e frequentemente inconsistentes com os Ndc comunicados para 2030". Mas se quisermos acreditar nas promessas dos governos, a neutralidade de carbono em 2050 reduziria o aquecimento em 0,5 grau, passando de 2,7 para 2,2 graus.
Uma temperatura ainda muito elevada para evitar que a febre do planeta se traduza em desastres para quem o habita.
COP26, por um grau a mais: cenários futuros com base no aumento da temperatura
Três hipóteses que vão de um aumento de 1,5 ° a 2,7 °: para o IPCC-ONU apenas a primeira pode evitar a catástrofe.
Repubblica, 11-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O que aconteceria se a temperatura da Terra aumentasse em média 1,5 graus nas próximas décadas? E 2 graus? Ou 2,7º ou ainda mais?
Spoiler: o primeiro caso é o único sustentável de acordo com o IPCC-ONU. Os outros logo levariam à deterioração da Terra e de sua habitabilidade, desencadeando migrações, tensões e catástrofes. Aqui estão os três cenários.
1,5 ° - O objetivo: uma esperança para o futuro
O que aconteceria: Em relação ao derretimento das geleiras, o nível do mar subiria "apenas" 48 cm e, em média, seriam 19 dias a mais por ano de calor extremo. 17% da superfície da Terra estaria em risco de chuvas extremas. Mas haveria tempo para desenvolver e melhorar as fontes de energia renovável.
O que fazer: O aumento da temperatura poderia ser limitado a 1,5 ° nestas condições: redução das emissões globais até 2035 e zero em 2050, cumprimento do Acordo de Paris de 2015 e compromissos da COP26 sobre desmatamento, gás metano e os milhares de bilhões de assets privados para a virada verde.
As negociações políticas: “COP26, promessas vagas e phase-out do carvão demasiado distante”, porque a minuta de acordo não agrada aos especialistas.
2 ° - O risco: alarme de migrantes e extinções
O que aconteceria: O nível das águas aumentaria 56 centímetros e haveria cerca de 29 dias a mais de calor extremo no mundo por ano e 36% da superfície terrestre exposta a chuvas extremas. As migrações aumentariam significativamente, assim como triplicaria a tendência atual de extinção de espécies animais e vegetais.
O que fazer: Cenário "intermediário", mas muito perigoso, que poderia ser desencadeado também com base no que foi decidido até agora pela COP26de Glasgow e por aquela de Paris. O chefe da Agência de Energia Fatih Birol explicou que se tudo fosse implementado se chegaria a +1,8 graus. Em suma, é preciso fazer ainda mais.
As negociações políticas: COP26 eis a minuta de acordo: renúncia ao carvão e aos subsídios para os combustíveis fósseis.
2.7 ° - A catástrofe: fome e desertos em meio mundo
O que aconteceria: O nível das águas subiria 65cm. Centenas de milhões de pessoas seriam deslocadas porque 80% das grandes cidades do mundo estão na costa. A fome e a desertificação, especialmente na África, causariam uma migração descontrolada e muitas espécies animais desapareceriam. Danos gravíssimos à fauna e flora aquáticas.
O que fazer: Conforme apontado por diversos especialistas antes e durante a COP26, é importante agir imediatamente para limitar as emissões e a poluição causadas pelos combustíveis fósseis, pois nesse ritmo o aumento da temperatura de 2,7 graus já poderia ocorrer até o final do século.
As negociações políticas: Desde 2003, ano do nascimento de Greta Thunberg, a China foi responsável por dois terços do aumento mundial das emissões de CO2 e por 93% do aumento do consumo de carvão. Além de um esforço internacional conjunto, é claro que a cooperação da China é fundamental para evitar o pior cenário.