A terceira fase de desconfinamento em Israel garante o acesso à vida "normal" apenas para quem tiver um “crachá verde”. Uma nova forma de aparthaid sanitário e social está se consolidando e pode tornar-se a regra pelo mundo.
Esquerda.net, 21 de fevereiro de 2021
Com 7 milhões de doses administradas e metade da população com pelo menos uma dose recebida, Israel entra na terceira fase de desconfinamento com liberdade de circulação e atividade apenas para quem tiver o “crachá verde”. A população fica assim efetivamente separada entre imunizados e não imunizados.
A partir deste domingo, reabre o comércio, museus e bibliotecas, seguindo-se restaurantes e bares a partir de 1 de março. Contudo, as regras sanitárias de distanciamento e uso obrigatório de máscara continuarão em vigor.
O crachá é um código QR que funciona como certificado de imunidade da pessoa, que terá assim permissão para circular, sendo exigido para frequentarem restaurantes, hotéis, pavilhões desportivos, salas de espetáculos ou conferências.
A população fica assim efetivamente separada entre imunizados e não imunizados, numa estratégia que levanta inúmeras questões éticas e de quebra de solidariedade social, bem como questões democráticas e discriminação laboral, seja na manutenção ou no acesso ao trabalho. Nada impede uma empresa de recusar trabalhadores sem passaporte verde apesar do acesso à vacina não ser livre.
O New York Times dá o exemplo da cidade de Karmin, cujo presidente da câmara começou a receber pedidos de reabertura de vários empregadores que verificaram que os seus trabalhadores estavam vacinados ou que tinham recuperado da doença.
A estratégia levanta também questões sobre a relação com países terceiros ou populações pobres. Sendo cada vez mais clara a vontade de vários países e empresas em retomar a circulação de pessoas para efeitos de comércio ou atividade turística, a estratégia, defendida em Portugal pela eurodeputada do PSD Cláudia Aguiar, passará por criar corredores para quem tiver este passaporte verde, o que discrimina países e populações pobres.
Para países como o Paquistão, onde a vacina poderá ser comprada pelos que tiverem dinheiro para tanto, isto instituiria um verdadeiro apartheid sanitário. Parlamentares brasileiros também estão defendendo que a "iniciativa privada" possa comprar a vacina.