Solidarités, março de 2023.
Aos representantes da imprensa e dos meios de comunicação social
Ao contrário do que as autoridades federais, os partidos burgueses e, infelizmente, também o Partido Socialista e os Verdes repetem sem parar, o fracasso do Crédit Suisse não é o resultado de “má gestão” ou “os erros da sua gestão”, em suma, de erros ou falhas individuais. Pelo contrário, é o produto lógico de uma escolha feita há mais de um século pelos pequenos círculos que dirigem os bancos e por aqueles que os representam a nível político. A escolha de especializar o centro financeiro suíço num nicho específico: serviços ligados à fraude fiscal e à lavagem de capitais à escala internacional. Por outras palavras, fazer da Suíça o paraíso fiscal mais antigo e mais importante do mundo.
Este posicionamento teve e continua tendo resultados muito negativos para os trabalhadores e as classes populares em todo o mundo e, como podemos ver hoje, também na Suíça:
- Ao nível internacional, a pilhagem dos recursos fiscais de outros Estados e a proteção dos ultra ricos, oligarcas (russos, mas não somente!), líderes políticos corruptos, ditadores, etc.
- A nível suíço, este sistema levou a indústria bancária a ir constantemente além da legalidade, o que levou à revelação repetida de escândalos (como o famoso escândalo de Chiasso em 1977), pelo qual o Crédit Suisse acabou por pagar o preço.
É com este modelo de desenvolvimento que precisamos acabar, e para o fazer precisamos atacar o coração do paraíso fiscal suíço. O segredo bancário e os numerosos privilégios fiscais concedidos pela Confederação e pelos cantões a particulares e empresas devem ser abolidos.
Após a aquisição do Crédit Suisse, o UBS alcançou, e vai alcançar mais, uma dimensão importante demais na economia suíça, e mesmo na economia mundial, para continuar a ser um negócio privado orientado para a procura do lucro máximo. O UBS deve, portanto, ser colocado sob o controlo das autoridades públicas, assalariados e usuários, a fim de servir a grande maioria da população. Em particular, deve financiar a urgente mas dispendiosa transição ecológica para um sistema que reduza maciçamente as emissões de gases com efeito de estufa, baseado nas energias renováveis e no respeito pela natureza.
Não pode recair sobre os empregados do Crédit Suisse ter de pagar pela aquisição do banco. As autoridades públicas – o Conselho Federal e o Banco Nacional Suíço – que estão a resgatar o centro financeiro suíço pela segunda vez em 15 anos com dezenas de biliões de francos, devem condicionar a sua ajuda à preservação dos postos de trabalho, proibindo o UBS de despedir empregados do Crédit Suisse (ou UBS) a curto prazo. A médio prazo, o objetivo é estabelecer um plano de reconversão profissional dos empregados bancários, para outros empregos no sector bancário se assim o desejarem, ou para outros campos que sejam mais úteis do ponto de vista social e ecológico do que a gestão de fortunas. Esta última permite essencialmente que os ultra ricos se tornem ainda mais ricos, nomeadamente pagando pouco ou nenhum imposto.
O Chefe do Departamento de Finanças do Cantão de Zurique, o UDC [partido conservador e nacionalista, perto da extrema-direita] Ernst Stocker, já sugeriu um plano de economia em Zurique, para compensar as receitas fiscais perdidas devido à derrocada do Crédit Suisse. Essa é a gota d’água! Não são os empregados e as classes trabalhadoras na Suíça que têm de pagar o preço de uma política de evasão fiscal internacional e lavagem de dinheiro à escala global. As autoridades públicas – o Conselho Federal e o Banco Nacional Suíço – apoiadas pelos círculos patronais e pelos partidos burgueses vão disponibilizar mais de 100 bilhões de francos suíços, como fizeram em 2008 (UBS), para ajudar a minúscula minoria de acionistas que possuem e gerenciam o centro financeiro suíço. Há seis meses, diziam-nos que a idade de reforma das mulheres tinha de ser aumentada de 64 para 65 porque não havia dinheiro, e que tinha de reduzir as despesas do AVS [o sistema previdenciário] em um ou dois bilhões. E apenas há poucos dias, a 16 de março, aprovaram uma reforma do fundo de pensões que irá reduzir os rendimentos da maioria dos reformados, sob o mesmo pretexto: poupar dois ou três bilhões e maximizar os lucros das seguradoras privadas. Em suma, quando se trata de algumas centenas ou milhares de grandes capitalistas, há todo o dinheiro que se quer, mas quando se trata de milhões de empregados, parece que os cofres estão vazios. Esta mascarada tem de acabar: temos de baixara idade da aposentadoria e acabar com a reforma que só fez piorar o sistema dos fundos de pensão.
Nossas reivindicações:
- Colocar a UBS sob o controlo das autoridades públicas, funcionários e usuários
- Desmantelar o paraíso fiscal suíço, abolindo o segredo bancário e os muitos privilégios fiscais concedidos aos ultra ricos e às grandes empresas
- Proibir a UBS, a curto prazo, de demitir seus funcionários e estabelecer, a médio prazo, um plano de reconversão profissional
- Dinheiro tem! Nenhum plano de austeridade para os empregados. Não à reforma do que irá reduzir as pensões. Redução da idade da reforma para todos e todas!