Dani Monteiro*
A negação da política como ela deve ser, prática e tática difundidas nos anos recentes no Brasil, nos trouxe até aqui. A falsa moralidade e a ética duvidosa impregnaram casas legislativas e postos executivos país afora. Com mais um governador enredado em denúncias de corrupção, o Rio de Janeiro parece o modelo mais bem acabado dessa barafunda. Estamos desesperançosos, quase arruinados, e não é só pela pandemia que nos devasta e mata os nossos.
Em minha curta estada até agora no parlamento, sou assombrada pelas falácias e arroubos que alguns colegas na mesma função vociferam: contra as mulheres, contra os pretos, contra os jovens, contra direitos adquiridos e inquestionáveis, à revelia dos cidadãos - esses os donos reais das nossas cadeiras. Mas me mantenho altiva e orgulhosa do lugar, conquistado pelo voto, que ocupo.
Lembro-me bem da eleição de 2018. Lá, Wilson Witzel urrou, uniu-se aos trogloditas e enganadores e foi ungido por eles. Não era só falácia. Quiséramos nós que o discurso de ódio e a virulência fossem mero brado. Não foi. Não é. E as consequências são latentes: na saúde, na educação, na cultura, na economia do estado. Gerir um estado requer preparo, e não considerar esse princípio deu na calamidade exaustivamente continuada que vivemos. Cria do Bolsonarismo, Witzel faz parte de um movimento que estimulou o descrédito na política e nos lançou ao caos, foi um governador que, em exercício, estimulou o extermínio da população negra e periférica com sua necropolítica de ‘mirar na cabecinha’, fez vista grossa diante das milícias e desconsiderou os princípios básicos de administração justa e correta.
Não podemos nos dar ao luxo de não nos indignarmos. O governador agora afastado tem de prestar contas e dar respostas a todos nós, os cidadãos, em primeira instância. A despeito de eventuais questionamentos sobre uma decisão monocrática do Judiciário, Wilson Witzel não é inimputável. Todos os fatores que o trouxeram - e também a nós - até aqui são aterradores. Ainda assim, temos por obrigação respeitar os votos que lhe foram dados.
O embate pela verdade e pela justeza, por sua vez, tem arena própria: cabe aos deputados estaduais, os legítimos representantes e guardiões do voto popular, apurar, ouvir, promover as réplicas e tréplicas que se fizerem necessárias para que não restem dúvidas quanto ao julgamento final. É tarefa do Legislativo, portanto, tratar do devido impedimento do governador eleito em 2018. É uma demonstração de respeito ao eleitor, será a melhor resposta que a boa política dará à sociedade.
Dani Monteiro é líder do Psol na Alerj