Dani Monteiro, setembro de 2021
Estamos com 2 anos e 6 meses da maior crise sanitária enfrentada pelo Brasil, segundo informações do Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19 da Fiocruz. Ao menos 19 milhões de brasileiros passaram fome no último ano, de acordo com a pesquisa divulgada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN). Somado a isso, ainda temos um dado alarmante sobre o suícidio no país. Conforme os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, mais de 12 mil pessoas tiraram suas vidas em 2020, um crescimento de 0,4% comparado ao ano de 2019. Diante desses dados, é muito complexo falarmos sobre saúde mental, mas ainda assim o assunto torna-se ainda mais necessário.
Inevitável eu não falar sobre minha vivência enquanto uma mulher preta favelada e como o tema da saúde mental parece sempre estar muito longe das periferias. É incontestável dizer que na favela nós temos talentos e diversos coletivos que fazem e acontecem dentro dessas regiões, mas também não temos como fechar os olhos para as violências que acontecem dentro desses territórios diariamente. Não é só o ato de uma autoridade policial cometer abuso de poder.
A falta de saneamento básico também é uma violência estatal, a falta de investimento em cultura, lazer e educação, também é mais uma forma de violência que se apresenta para os moradores desses locais. A dificuldade de locomoção devido a escassez dos transportes públicos, também é mais uma. Há várias formas em que o Estado não garante direitos básicos previstos na constituição para pretos, pobres e favelados. Como falar de saúde mental para essas pessoas que conhecem mais o significado de sobreviver do que de viver? Comida na mesa é prevenção ao suicídio, lazer, cultura, educação e segurança, também são.
Mesmo diante de tantas atrocidades que provam que a guerra às drogas é um projeto de genocídio desse povo, (visto que as que mais matam são as que são legalizadas e têm regulamentação), temos um governo que insiste em investir nessa prática que resultou em uma das maiores chacinas da história do Rio de Janeiro, na favela do Jacarézinho.
Ainda que saúde mental possa parecer um assunto distante de pessoas como nós, somos nós mesmos que batalhamos para que possamos continuar vivos e nos levantando para que possamos levantar quem vem depois. É o Ubuntu na prática: eu sou porque nós somos. É a lição dos nossos ancestrais.
Sabemos que é difícil pensar em cuidar da saúde mental numa sociedade que ainda banaliza doenças como depressão, ansiedade, TDH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade), entre outras. Mas o cuidado é preciso e necessário para que consigamos continuar. Procure aquele coletivo ou liderança de referência na sua comunidade, peça ajuda e indicação de profissionais. Cuidem-se, se possível vão a terapia. NÃO SE ABANDONEM!
Dani Monteiro é militante da Insurgência/RJ e deputada estadual da ALERJ