Vincent Lucchese entrevista Daniel Tanuro, Usbek & Rica, 13 de junho de 2020
Engenheiro agrônomo, Daniel Tanuro publicava, em 2010, O impossível capitalismo verde (L’impossible capitalisme vert, editora La Découverte)[1]. Em um novo ensaio publicado em 10 de junho, Tarde demais para sermos pessimistas! Ecossocialismo ou colapso (Trop tard pour être pessimistes! Écosocialisme ou effondrement, Éditions Textuel, 2020), o autor belga vai mais longe: ele denuncia uma incompatibilidade entre o capitalismo e a resolução das crises ecológicas, e convoca à utopia ecossocialista: “produzir menos, transportar menos, partilhar mais”. Um texto muito rico e documentado, que nos deu vontade de trocar ideias com o autor.
Usbek & Rica: O senhor denuncia, em 2010, em O impossível capitalismo verde, uma incompatibilidade fundamental entre o capitalismo e a resolução das crises ecológicas. Dez anos mais tarde, a evolução do mundo confirmou a sua opinião?
Daniel Tanuro: A situação apenas se agravou desde 2010. As emissões de CO2 continuaram a aumentar e a taxa de alta foi, inclusive, mais alta, em média, que aquela do século passado. Entre os numerosos estudos podemos citar aquele publicado na revista PNAS, em agosto de 2018 [2], que fez muito barulho. Ele revelou a possibilidade de um efeito dominó, a partir da ultrapassagem de pontos de inflexão no sistema climático uma vez atingido 1,5°C de aquecimento, fazendo a Terra mover-se para um novo regime climático que a espécie humana nunca conheceu. Nós já atingimos um nível de CO2 na atmosfera que não existia desde o Plioceno, há 3 milhões de anos, ou seja, muito antes que a nossa espécie existisse. De grave, a situação se tornou gravíssima. A catástrofe não é mais uma ameaça, ela é uma realidade. E é por isso que eu digo que está tarde demais para sermos pessimistas: nós já estamos dentro, precisamos lutar.
Usbek & Rica: Lutar contra o capitalismo então?
Daniel Tanuro: A ideia mesma de “capitalismo verde” é um embuste. Joseph Schumpeter, de quem não podemos suspeitar de simpatias marxistas, ele mesmo sublinhou que falar de “capitalismo sem crescimento é uma contradição em termos”. Os detentores de capital, que querem, por natureza, acumular mais, demandam um crescimento cego aos mercados, que são, aliás, pressionados a crescer pelas leis da concorrência. Existe, portanto, uma tendência espontânea à superprodução. Esse sistema é depurado por crises periódicas, mas a única coisa que ele faz, em seguida, é partir de bases mais elevadas. Há uma incompatibilidade manifesta entre, de um lado, essa dinâmica de acumulação congênita do sistema capitalista e, de outro lado, a estabilização do clima em 1,5°C ou 2°C de aquecimento.
Seria necessário, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), reduzir nossas emissões de CO2 em 58% entre hoje e 2030, para termos uma chance sobre duas de ficarmos abaixo de 1,5°C de aquecimento. E isso já não é muito: quantas pessoas subiriam em um avião que tem uma chance sobre duas de chegar inteiro ao seu destino? E, ainda, se nós considerarmos as responsabilidades históricas nas emissões de CO2, os países desenvolvidos, como os nossos, deveriam reduzir suas emissões em 65% entre hoje e 2030. É enorme! Ora, as energias fósseis responsáveis por essas emissões representam 80% da energia consumida no mundo. A única solução para atingirmos nossos objetivos consiste em consumir radicalmente menos energia e, logo, produzir e transportar menos mercadorias.
Usbek & Rica: Os promotores do “desenvolvimento sustentável” retorquem que a transição energética e a desmaterialização da economia podem tornar o crescimento verde...
Daniel Tanuro: Isso se não mencionarmos que, todo o resto se mantendo igual, a própria transição energética também emite CO2! A construção de conversores de energias renováveis não se pode fazer sem a ajuda da energia atualmente disponível, que é, essencialmente, fóssil. Respeitar as reduções globais de emissões necessita, então, produzir menos; é infalível. Quanto à desmaterialização da economia, é um mito completo: o digital consome uma enormidade de materiais, de minerais, e seus servidores necessitam enormes quantidades de energia [3]. As energias ditas limpas, igualmente, necessitam de muitos recursos: é preciso dez vezes mais metais para produzir uma máquina que converte 1 KWh de eletricidade “verde” do que para uma máquina que converte 1 KWh de eletricidade fóssil.
Para escapar desse antagonismo entre acumulação e salvação do planeta, os governos encontram subterfúgios, como os mecanismos de compensação de carbono ou de compensação de biodiversidade. Mas esses mecanismos são limitados. Por um lado, porque plantar uma árvore cuja longevidade é, em média, de 60 anos, para compensar a liberação de matérias fósseis acumuladas há milhões de anos não é coerente em termos de temporalidade. Por outro lado, porque o potencial dessas compensações está em vias de esgotamento, não somente por falta de superfícies disponíveis – as terras entrando em concorrência com as necessidades alimentares -, mas também porque esses “poços de carbono” naturais, como as florestas, estão chegando à saturação [4]. Em função de fenômenos ligados ao aquecimento climático, é possível que as florestas tropicais emitam, hoje, mais carbono do que elas capturam.
Um outro subterfúgio consiste em focar nas tecnologias de emissões negativas para capturar e armazenar CO2 atmosférico, mas essas tecnologias não são sempre perfeitas, a sua eficácia não está demonstrada e elas podem ter inúmeros efeitos perversos [5].
Usbek & Rica: Em sua obra, o senhor sublinha a inviabilidade de tais soluções. “Um estudo recente concluiu que retirar todo ano 3,3t de carbono da atmosfera – menos de 10% das emissões – por meio da bioenergia, com captura e sequestro, implicaria mobilizar o equivalente a entre 17 e 25% da superfície agrícola total (25 a 46% das áreas cultivadas permanentemente!)”. Ora, escreve o senhor, o único cenário do IPCC que prevê que as emissões mundiais de gás do efeito estufa não baixem a partir de 2020, mas somente em 2030, implica retirar não 3,3t, mas 20t a partir de 2060...
Daniel Tanuro: É totalmente surrealista. Mas além disso, três dos quatro cenários do relatório especial do IPCC sobre as maneiras de limitar o aquecimento a 1,5°C preveem uma ultrapassagem temporária desse limiar de 1,5°C [6]. É um projeto absolutamente delirante. Uma ultrapassagem, mesmo que temporária, pode engendrar consequências definitivas, e um risco de abalo e viragem climática.
Usbek & Rica: Em seu livro, o senhor questiona, igualmente, a imparcialidade dos relatórios das plataformas intergovernamentais dedicadas às crises ecológicas, como o IPCC ou o IPBES (Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos). Dada a influência de suas tutelas institucionais, essas plataformas são incapazes de imaginar cenários fora do sistema capitalista?
Daniel Tanuro: É preciso ser muito prudente e preciso sobre esse assunto, para não alimentar a desconfiança com relação à ciência, cujos efeitos deletérios e conspiracionistas nós vimos durante a crise da COVID-19. Sobre as ciências ditas “exatas”, a física, a química, as matemáticas, etc, e sobre as constatações dos climatólogos, eu não tenho nada a questionar. No entanto, as ciências sociais demandadas a elaborar os cenários de adaptação ou atenuação do aquecimento climático são ciências nas quais coabitam numerosas escolas de pensamento e nas quais não existe verdade absoluta.
Ora, no quinto relatório geral do IPCC, na contribuição do “grupo 3”, consagrado aos meios de atenuação do aquecimento, pode-se ler que “os modelos climáticos supõem mercados que funcionam plenamente e comportamentos de mercado concorrenciais”. É uma tomada de posição alucinante. As iniciativas públicas ou cidadãs, tudo o que não advém da economia capitalista ou do lucro, é excluído do jogo. Isso condiciona, evidentemente, a elaboração de cenários e as políticas implementadas. 95% dos cenários de atenuação do aquecimento climático, no quinto relatório do IPCC, implicam, assim, a utilização de tecnologias de emissão negativa. Essa hipótese, bem como aquela da “ultrapassagem temporária”, são de fato indispensáveis, se formos respeitar o dogma da acumulação e da competitividade. Eu não sou o único a denunciar isso: Kevin Anderson, diretor-adjunto do Tyndall Center for Climate Change Research [7], no Reino Unido, acusou seus colegas de “duplicidade” e denunciou “a agenda escondida” do Acordo de Paris.
Usbek & Rica: Em uma entrevista dada para o jornal Le Monde, em 5 de junho [8], Patrick Pouyanné, o Diretor Executivo da Total, explica que foca nas tecnologias de captura de CO2 e refuta a possibilidade de cortar pela metade as emissões mundiais entre hoje e 2030. As emissões do grupo petroleiro “não vão baixar daqui até 2030, porque a demanda não baixará nesse horizonte”, diz ele. Essa diluição de responsabilidades entre a oferta e a demanda está no coração do problema, na opinião do senhor?
Daniel Tanuro: Dizer que a oferta apenas responde à demanda é completamente falacioso. As petroleiras confrontam-se a uma realidade segundo a qual, para respeitar o Acordo de Paris, seria necessário deixar no subsolo ao menos 4/5 das reservas conhecidas. Ora, essas já figuram entre os ativos dessas empresas. Não as explorar significaria, então, destruir capital, e esses senhores não estão dispostos a tomar essa decisão. Eles estão presos em uma gigantesca engrenagem de investimentos de médio e longo prazo: a construção de cadeias logísticas, de dutos, de navios-tanques, de centrais elétricas, nada disso se rentabiliza antes de 30 ou 50 anos, e renunciar a isso seria uma perda considerável. Eles querem, então, empurrar o prazo ao máximo. É preciso martelar na opinião pública: essas pessoas estão prontas para sacrificar o equilíbrio ecológico do qual a humanidade depende no altar da preservação dos seus lucros.
Usbek & Rica: Mas a reticência em agir não decorre, também, do fato de que nós todos temos algo a perder na explosão dessa “bolha de carbono”? Se esses investimentos se tornam “ativos ociosos”, obsoletos, as potenciais perdas de trilhões de dólares poderiam provocar uma grande crise financeira e afetar a população que está muito além da indústria do carbono...
Daniel Tanuro: Evidentemente, no âmbito do sistema capitalista, baseado na exploração da força de trabalho como mercadoria, a crise econômica que resultaria das medidas climáticas à altura do desafio resultaria em uma crise social de grandes dimensões. É preciso, portanto, sair da lógica capitalista, expropriar esses grupos petrolíferos, socializar a produção da energia e o setor financeiro que continua a financiar o setor fóssil. A urgência é extrema, e enquanto nós não mudarmos de sistema, seguiremos nessa fuga para adiante, que terá um efeito bumerangue terrível. É necessária uma transformação muito profunda do sistema econômico, substituir a lógica da produção de mercadorias para o lucro por uma lógica de produção para as necessidades humanas reais. Eu estou consciente de que isso que eu digo pode parecer utópico e fora das expectativas, mas eu não vejo, racionalmente, nenhum outro meio de proceder.
Usbek & Rica: Como realizar esse exercício perigoso que consiste em definir “as necessidades humanas reais”?
Daniel Tanuro: A questão da deliberação democrática deve assumir um lugar absolutamente central. É preciso decidir democraticamente quais são os bens sociais úteis que podem ser produzidos dentro do respeito aos limites ecológicos. A crise do COVID-19 nos mostrou que o essencial não estava na produção mercantil, mas naquilo que permite a reprodução da sociedade, no “cuidado”. Há exemplos evidentes para distinguir as atividades essenciais das atividades acessórias. A produção de armas, por exemplo, que, até onde eu sei, nunca foi objeto de um estudo mundial sobre seu impacto climático. Na escala dos EUA, isso representa cerca de 140 milhões de toneladas de carbono por ano, o que está longe de ser negligenciável.
Usbek & Rica: Esse novo modelo que o senhor propõe é o que o senhor chama de ecossocialismo. Em linhas gerais, é o socialismo sem o produtivismo?
Daniel Tanuro: Exatamente, é o socialismo radicalmente liberto das suas taras produtivistas. Mas eu não cairei na armadilha de uma descrição detalhada do que poderia ser uma outra sociedade. Muitos autores já tentaram fazer isso, desde “A Utopia”, de Thomas Moore, e mostraram que é impossível. Nós não conseguimos nos subtrair totalmente do pensamento capitalista no qual vivemos, e é impossível saber o que os humanos poderiam implementar em um sistema radicalmente diferente.
O que eu posso dizer é que se trata de um projeto radicalmente democrático, de tipo auto gestionário, muito descentralizado, mas, contrariamente ao municipalismo libertário proposto por Murray Bookchin [10], eu penso que a escala local não é suficiente. Responder à crise planetária não pode ser feito sem centralização e planificação, ao menos em uma fase transitória.
Usbek & Rica: O senhor mesmo sublinha, em seu livro, que esse tipo de projeto planificador engendra, automaticamente, receios de deriva autoritária. Que salvaguardas o senhor propõe?
Daniel Tanuro: Existe, efetivamente, um risco de deriva burocrática e de despotismo associado à planificação, como mostraram os casos da União Soviética ou da China, por exemplo. Para nos precavermos disso, vários mecanismos podem ser combinados. Primeiramente, instaurar uma democracia radical ao nível dos territórios. Em seguida, que os delegados do nível central sejam voluntários e amovíveis a todo momento. Em terceiro lugar, garantir o pluralismo político e que todas as correntes participem das deliberações no seio do novo paradigma, quer dizer, o paradigma de uma sociedade que não funciona mais sobre a base do lucro, mas sim sobre as necessidades determinadas democraticamente dentro do respeito aos limites ecológicos. E, em quarto lugar, um pluralismo e uma autonomia dos movimentos sociais, sindicais, feministas, de minorias, que são uma barreira contra a deriva burocrática.
Usbek & Rica: Só fica faltando convencer os cidadãos a se contentarem com as suas “necessidades reais”. Como sair daquilo que o senhor chama de “feitiço sem precedentes” do capitalismo sobre os espíritos, o superconsumo e o “fetichismo da mercadoria”?
Daniel Tanuro: No mundo de hoje, o consumismo desenfreado é apenas uma compensação miserável para condições de vida miseráveis. Reencontrar a riqueza das relações sociais poderia, muito rapidamente, a meu ver, combater essas falsas compensações consumistas. Quando as pessoas tiverem, no seu território, as rédeas de tudo o que determina sua vida, da gestão das condições de vida, da habitação, da água, da biodiversidade, do território, etc, o interesse pelas compensações miseráveis poderia rapidamente se dissipar...
Usbek & Rica: Todos aqueles que anunciaram o fim do capitalismo até hoje foram derrotados. Para além do caráter inédito da urgência ecológica, o que o faz crer que a notável resiliência do sistema capitalista vai falhar desta vez? A convergência das lutas que o senhor prevê poderá ser suficiente para mudar o sistema?
Daniel Tanuro: A convergência das lutas é certamente difícil. Mas a opressão das mulheres, o racismo, a exploração da natureza têm uma mesma causa estrutural. Eu penso que esses componentes serão relativamente fáceis de unir. A maior dificuldade é engajar o mundo do trabalho e o mundo sindical nessa perspectiva ecossocialista de produzir menos e partilhar mais. Os assalariados dependem da boa saúde das empresas capitalistas e estão em uma posição esquizofrênica. Apesar de tudo, eu vejo sinais encorajadores: ano passado, e pela primeira vez, muitos milhares de assalariados da Amazon se uniram à greve pelo clima lançada por Greta Thunberg [11]. Em Notre-Dame-des-Landes, a CGT (Confederação Geral do Trabalho) do Grupo Vinci, que deveria construir o aeroporto, se pronunciou contra a construção e participou das manifestações de defesa da Zad [12]. Em maio passado, em Genebra, na Suíça, os sindicatos se aproximaram dos militantes ecologistas na ótica das greves pelo clima.
Mas sair do capitalismo não poderá, efetivamente, se fazer por meio do comportado acúmulo de pequenas reformas. Um ponto de partida eleitoral não está excluído, como no Chile em 1970, mas esse exemplo mostra também que a prova de força é inevitável no terreno – na rua, nas escolas, nas empresas, na sociedade. Derrubar o capitalismo é possível, mas imaginar isso supõe evitar o fatalismo que eu reprovo, notadamente, nos colapsólogos [14]. Ao apelar para “parar a luta”, para aceitar o colapso inevitável e para preparar o que vem depois no seio de “pequenas comunidades resilientes”, eles deixam pela estrada todos aqueles que não poderão escapar à catástrofe. E eles despolitizam o que está em jogo ao naturalizar as relações sociais. Isso pode favorecer a perplexidade e até mesmo o desespero.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos colocaram a economia sob tutela, a produção militar passou de 3 a 40% do PIB em quatro anos. O esforço foi financiado por uma taxação da parcela superior dos rendimentos em 95%. Essa política keynesiana e produtivista não é facilmente transponível face ao desafio ecológico, mas ela mostra que um governo que o queira pode planejar uma transformação radical. O capitalismo não desmoronará por conta própria, é preciso lutar e imaginar alternativas.
Tradução de Maria Lima
Notas
[1] https://www.editionsladecouverte.fr/catalogue/index-L_impossible_capitalisme_vert-9782707173232.html
[2] https://usbeketrica.com/article/un-emballement-du-climat-serait-possible-des-2degc-de-rechauffement
[3] https://usbeketrica.com/article/le-numerique-mauvais-eleve-de-la-transition-energetique
[4] https://www.lexpress.fr/actualite/societe/environnement/les-forets-tropicales-risquent-bientot-d-emettre-plus-de-co2-qu-elles-n-en-captent_2120447.html
[5] https://usbeketrica.com/article/capturer-co2-fausse-solution-climat
[6] https://usbeketrica.com/article/ecosocialisme-sortir-consumerisme-effrene-daniel-tanuro
[7] https://tyndall.ac.uk/people/kevin-anderson
[8] https://www.lemonde.fr/economie/article/2020/06/04/patrick-pouyanne-la-question-de-la-perennite-des-compagnies-petrolieres-est-posee_6041723_3234.html
[9] https://www.lemonde.fr/economie/article/2013/04/19/une-bulle-de-6-000-milliards-de-dollars-menace-le-marche-du-carbone_3163085_3234.html
[10] https://ecosociete.org/livres/le-municipalisme-libertaire
[11] https://usbeketrica.com/article/greves-climat-tech-rejoint-mouvement
[12] https://www.ouest-france.fr/pays-de-la-loire/loire-atlantique/notre-dame-des-landes-la-cgt-du-groupe-vinci-soppose-au-projet-d52c7bc2-db81-11e9-8deb-0cc47a644868
[13] https://lecourrier.ch/2020/05/15/grevistes-du-climat-et-syndicats-unissent-leurs-forces/
[14] https://tgf.usbeketrica.com/article/effondrement-collapsologie-servigne-tgf-usbek-proces