Para Laymert Garcia dos Santos, “os impactos da devastação da Amazônia terão efeito mundial, geopolítico. Tão importantes quanto a derrocada da União Soviética, senão mais”.
Eduardo Maretti entrevista Garcia dos Santos, Rede Brasil Atual, 21 de agosto de 2020
“Considerando a riqueza do Brasil em biodiversidade, em florestas, em terra, em água sobretudo, sua dimensão continental, e o que ele representa para o planeta, do ponto de vista climático e do aquecimento global, os impactos da devastação da Amazônia trarão um efeito mundial, geopolítico, tão importante quanto a derrocada da União Soviética (1991), senão mais.” A opinião é do sociólogo Laymert Garcia dos Santos, sobre o processo de devastação deliberada da maior floresta tropical do mundo pelo bolsonarismo.
“O efeito global vai ser enorme, sobretudo por causa do aquecimento global. Para mim essa questão é a expressão máxima da decomposição do país e da desconstituição de sua sociedade”, diz. “O Brasil não é mais um país, as instituições apodreceram, e o ‘novo normal’ é a derrocada. Mas a destruição aqui no Brasil, agora, é construída, não é simples efeito colateral do processo. É só atentar, por exemplo, para o modo como o bolsonarismo atiça o genocídio dos povos indígenas, a todo momento, em todas as suas medidas, e até com sua inação deliberada.”
O ex-professor do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) afirma que, quando a Amazônia começar a desertificar, as consequências serão sentidas sobre todas as outras regiões do Brasil e da América Latina, e sobre o clima do mundo. “A discussão não é nem mais se vai ocorrer, mas quando.” Para o sociólogo, a devastação ambiental no país, hoje, é muito mais grave do que a que já era vista como grave há exatamente dez anos. “Na época, já se discutia quando a Amazônia ia começar a atingir o turning point, o ponto de inflexão, e começaria a virar deserto.”
“Quando os efeitos do bolsonarismo sobre o clima ficarem evidentes para todo mundo, talvez seja tarde demais. Quando começarem os incêndios espontâneos – e como trata-se de Amazônia, onde tudo é excesso –, não haverá limite e nem tecnologia que consiga detê-los”, acredita Laymert.
Em sua opinião, as pessoas no Brasil não estão pensando a decomposição do país e a desconstituição da sociedade em sua dimensão planetária – até mesmo aquelas que estão preocupadas com a questão ambiental.