Well Leal é militante da Insurgência Roraima. 17 de janeiro de 2022.
É preciso dar fim ao sistema e a lógica de devastação ainda vigente na esquerda desenvolvimentista.
Nas ultimas semanas o Brasil vem assistindo a uma série de desastres ambientais na Bahia, Maranhão, Minas Gerais e Tocantins. Vimos com revolta o desdém intencional do Bolsonaro perante uma situação de emergência que perdura até o momento. Ao invés de termos o uso do Estado e das Forças Armadas para apoiar essa situação emergencial, vimos as organizações da sociedade civil cumprindo sozinha a ajuda para a população atingida. Os estudantes e as organizações estudantis denunciaram e cobraram corretamente a omissão do Bolsonaro e se desdobraram para o apoio emergencial, assim como a UNEB fez. Entretanto é momento de irmos mais a fundo sobre as inundações que ocorrem no país.
Por muito tempo a população e a mídia tenta atrelar os problemas climáticos como simples e habituais reações do comportamento da natureza, para os donos do poder (desde políticos gestores ao grande empresariado) a desculpa de não ter controle sobre a “força da natureza” é uma carta na manga para se isentar de responsabilidades com as estruturas de saneamento, segurança de encostas e construção planejada de situações emergenciais. É preciso alterar o ponto de partida desse debate para se compreender que a natureza não é uma força que “age por se só quando dá na telha” e tampouco elencar um visão às vezes romantizada de “a natureza se vinga e responde”, essas saídas entram em consonância com a estratégia de tirar a ação sistêmica em situações de caos e emergência climática.
Não existem coincidências dessas situações emergenciais no Brasil, as enchentes no norte no passado e seca no sul, não são por acaso, as chuvas que desalojam milhares de pessoas nesse momento no Brasil não são mero capricho da mãe natureza que acordou e decidiu simplesmente botar muita chuva nessa região. Vivemos no mundo o processo de Emergência Climática, que ambientalistas e sobretudo os ecossocialistas de todo mundo vem alertando a todo momento e não são levados a sério. Parece bastante o paralelo do filme “Não Olhe Para Cima” da Netflix, que citamos tanto no fim do ano como exemplo do negacionismo bolsonarista. Negar a emergência climática e importância desse debate mas sobretudo da necessidade de ação política concreta para preservar nossas vidas não é levado a sério pelo sistema em que vivemos e nem por grande parte do nosso próprio campo.
Se de um lado o sistema capitalista necessita do modelo produtivista, consumista para continuar a produzir e alimentar o “mercado consumidor" de bens muitas vezes inúteis e com prazo de validade de funcionamento (sejo por celulares que param de funcionar ou eletrodomésticos que quebram após a garantia de validade) de outro lado temos propostas de fim do sistema capitalista em que o desenvolvimentismo e produtivismo são a chave única para coletivização dos meios de produção. De nada adianta romper o sistema acumulativo e capitalista e democratizar os meios com as mesmas regras produtivas que esgota o planeta, os bens naturais e causam mais e mais desastres climáticos.
A Bahia, Maranhão, Minas Gerais e Tocantins não sofrem por enchentes por pura “concidência”. Os desastres ocorrem em locais de grande devastação para o agronegócio e mineração, seja com plantações gigantescas de monoculturas ou por criação gigantes de gado, não é uma resposta simbólica da mãe terra é a resposta concreta do caos climático em que vivemos. A cada dia que passa, nós veremos mais e mais consequências da urgência climática que vivemos com o aumento da temperatura dos continentes e oceanos, queimadas e mortes de biodiversidade em vários ecossistemas do Brasil, não apenas o amazônico.
Para nós, jovens, é preciso entender que não haverá existência futura sem combater a lógica do que se chama antropoceno em que a ação humana resulta na necessidade de destruição ambiental e dos bens naturais para continuar a existir. Para muitos de nós ecossocialistas, não cabe usar o termo capitaloceno, apesar de termos certeza de que o sistema capitalista potencializa o processo destrutivo, é possível notar que processos de desenvolvimentismo anticapitalistas por resultar em destruição ambiental. Não se trata portanto, de sermos sustentáveis em nossas propostas, se trata de sermos realistas com as condições que estão postas enquanto desafio para nossa geração. Dizer que estamos próximos ao fim da sociedade não é uma frase ou insignia de agitação, é a concretude da vida que o sistema capitalista nos apresenta para o amanha. Para as elites burguesas, sempre haverá uma saída, nem que precisem ir para outro planeta tal como no filme “Não Olhe para Cima” já citado aqui. Quando falamos de fim da nossa existência, falamos do fim de 99% da população, que não tem o sistema em suas mãos.
Para eles, se foi viável tocar fogo no planeta ou deixar um comenta nos atingir e isso lhes causa lucro, eles aceitarão, a recusa desse sistema deve vir de nós, que sofremos e perdemos vidas na emergência climática. Ecossocialismo ou extinção sempre foi um fato e não um jargão.