Executiva Nacional da Insurgência, 20 de julho de 2022.
A reunião de Bolsonaro com dezenas de embaixadores realizada na última segunda-feira, dia 18, foi uma apologia a um golpe nas eleições de outubro. Uma profusão de mentiras, acusações infundadas às urnas eletrônicas, ao TSE, premissas autoritárias, como de que as sugestões das Forças Armadas ao TSE devessem ser acolhidas. As Forças Armadas não têm lugar em um processo eleitoral democrático.
O rosário de fake news e ataques às eleições proferidos nesse inaceitável discurso – com dezenas de mentiras, conforme pontuado na grande imprensa –, por si só, já seria motivo para pedidos de impeachment ou mesmo e principalmente a impugnação da candidatura. Mas a blindagem do Centrão no Congresso e a própria acomodação das instituições permitem ao chefe neofascista a pavimentação do caminho para sua aventura golpista.
É preciso tirar conclusões práticas dessa última reunião e da preparação em curso do 7 de setembro bolsonarista. Há um processo golpista em andamento. E este processo golpista não se resume a tentar o clássico golpe de Estado com tanques na rua. Esta é uma das táticas possíveis para um golpe, mas não a única. Bolsonaro está se preparando para melar as eleições, tentar inviabilizá-la, questionar sua provável derrota com denúncias, não reconhecimento, intentonas armadas, manobras jurídicas, mentiras, provocações e factódies de toda ordem durante o processo.
Bolsonaro, seu clã e os militares golpistas podem perceber que não há no momento uma relação de forças propícia para um golpe aberto. Que maioria do povo não apoia este tipo de saída, as instituições da democracia liberal também não. Que nem mesmo no Congresso Nacional haveria maioria para referendar um golpe de estado. Que tampouco parece ser esta a política do imperialismo para o momento atual e nem da ampla maioria da grande mídia corporativa.
Mas não basta apenas apoiar-se nessa caracterização e será um erro grave acomodar-se à situação. É preciso observar que o bolsonarismo já detonou um processo golpista no sentido de tumultuar e apostar no caos – no que reside sua essência, tendo a mentira enquanto método. Estimula o armamento da população civil que ficou em sua base social – são quase mil novos clubes de tiros em três ano e meio de governo – e estreita seus laços com os setores das Forças Armadas e das Polícias Militares que são partidárias da saída autoritária, a ponto de não ser nítida a posição majoritária nas FFAA, consideradas as bases das tropas.
O "capitólio brasileiro" não necessariamente será uma repetição da tentativa de Trump e da extrema-direita estadunidense com a invasão do prédio do Congresso nos EUA. De um lado, porque há parcela significativa dos militares que se alinham com Bolsonaro, apoio que Trump não obteve. De outro, porque muitas provocações e até mesmo manobras jurídicas poderão ser tentadas por Bolsonaro antes e durante as eleições -- como demonstrou o capitólio americano, pode ser mais difícil mudar o resultado após as eleições e a derrota nas urnas, ainda mais sem maioria social e institucional.
É preciso deter os intentos golpistas de Bolsonaro o quanto antes, mas para isso não basta esperar apenas a reação institucional ou midiática.
Nosso lugar enquanto oposição é também ganhar as ruas
A oposição e em especial, a nossa campanha em torno de Lula, não deve limitar-se a denunciar os acontecimentos. É preciso mobilizar.
É preciso convocar o povo às ruas contra o golpismo. E ninguém no país tem mais autoridade política para fazer esse apelo em defesa da democracia e contra o golpe do que o companheiro Lula. Nossa campanha e o nosso candidato devem estar à frente de uma articulação para colocar toda a sociedade anti-fascista e anti-golpista em movimento, criando as condições e convocando atos de rua por todo o país o quanto antes. A maioria social que caminha para dar a vitória a Lula nas eleições precisa demonstrar nas ruas sua capacidade de mobilização para barrar qualquer tentativa de melar as eleições ou não reconhecê-las.
É preciso combater qualquer letargia ou consideração de que a batalha já esteja decidida em nosso favor. Está cada vez mais nítido que o bolsonarismo não vai aceitar o resultado da derrota, hoje bem provável. E não devemos esperar o 7 de setembro bolsonarista, que poderá ser uma provocação ainda maior, para nos colocarmos em movimento.
O momento exige lutar contra as hesitações e o medo, dialogar, convencer e mobilizar a classe trabalhadora, a juventude, as mulheres, os movimentos antirracistas, os povos indígenas e sem terra, a população LGBTQIA+, as entidades democráticas, as universidades, as ocupações, os bairros.
Para derrotar Bolsonaro nas urnas e garantir a vitória, o reconhecimento e a posse de Lula, é preciso apoiar-se na massiva ação popular, na construção de uma opinião em defesa da democracia que se imponha e expresse nas ruas.
O lugar do PSOL deve ser na linha de frente deste entendimento e é hora de propor em todos os espaços possíveis a mobilização social e democrática.
Não ao golpe! Ele Não! Fora Bolsonaro!