Que o consumo excessivo de carne seja inimigo do planeta já está fora de questão: os pontos sobre os quais a comunidade científica está discutindo hoje, no máximo, são a avaliação quantitativa dos efeitos da criação intensiva e das medidas a serem tomadas para mitigar o problema da poluição e das emissões de gases com efeito de estufa devidos a essas mesmas criações.
Sandro Iannaccon, Repubblica / IHU-Unisinos, 12 de fevereiro de 2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nesse sentido, um novo estudo, recém publicado na revista PLOS Climate, estimou que a eliminação total das fazendas de criação nos próximos 15 anos e sua substituição por vegetação nativa e espontânea levaria a uma redução global líquida de 68% nas emissões de dióxido de carbono.
Os autores do estudo são Michael Eisen, professor de biologia molecular e celular da Universidade da Califórnia, Berkeley, e Patrick Brown, professor emérito de bioquímica da Universidade de Stanford e, particular que não pode ser subestimado, administrador delegado da Impossible Food, empresa especializada na produção e comercialização de produtos alimentares à base de plantas e substitutos da carne.
Em seu estudo, submetido a revisão por pares, Eisen e Brown usaram um simples modelo climático para medir o impacto combinado da eliminação total das emissões de gases de efeito estufa da criação animal e a restauração da vegetação nativa em 30% da superfície terrestre atualmente usada para criar e alimentar o gado.
Segundo seus cálculos, as duas ações resultariam na diminuição das emissões de metano e óxidos de nitrogênio e na conversão de 800 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por florestas, campos e biomassa do solo, o que seria equivalente, do ponto de vista do efeito estufa, a uma redução global das emissões de dióxido de carbono de 68%. Nada mal.
"Nosso trabalho - explica Eisen - mostra que a eliminação das fazendas de criações leva à redução dos níveis atmosféricos dos três principais gases de efeito estufa, o que é indispensável para evitar a catástrofe climática".
Efetivamente, a maioria dos estudos realizados até agora sobre o tema tinha se concentrado nos impactos do metano (emitido diretamente pelos animais e pelo esterco), óxidos de nitrogênio (contidos nos fertilizantes usados para cultivar o alimento para os animais) e dióxido de carbono (emitido, por exemplo, durante o transporte de animais e da carne); menos investigado, dessa forma, era o efeito da substituição das fazendas por florestas e vegetação nativa, capazes de recapturar o dióxido de carbono da atmosfera.
"Todo mundo sabe que o metano é um grande problema. E todos sabem agora que as fazendas contribuem para o aquecimento global", continua Eisen. "Mas poucos levam em conta o fato de que o efeito das fazendas consiste em dois pontos: emissões e consumo do solo que, se não houvesse as fazendas de criação, poderia ser destinado para a reconversão do dióxido de carbono. A maioria das análises se concentra apenas no primeiro aspecto".
Atualmente, as estimativas dizem que a indústria animal é responsável por cerca de 16% das emissões anuais de gases de efeito estufa.