A riqueza combinada dos 10 homens mais ricos do mundo aumentou durante a pandemia do coronavírus em US$ 540 bilhões (R$ 2,9 trilhões), segundo a Oxfam (organização que trabalha pela redução da desigualdade).
BBC Brasil, 18 de março de 2021
Segundo a entidade, essa quantia seria suficiente para pagar por uma vacina para todos os 7,5 bilhões de seres humanos no planeta e ainda evitar que pessoas caiam na pobreza por causa da pandemia.
O relatório mostra que a riqueza estimada dos bilionários é equivalente a todos os gastos de todos os governos do G20 (o grupo de 20 países mais ricos) no combate à pandemia.
A instituição está pedindo aos governos mundiais que considerem criar impostos sobre os super-ricos para financiar o combate ao coronavírus.
Comparação simbólica
O relatório da Oxfam, chamado O Vírus da Desigualdade, foi publicado enquanto os líderes globais se reuniam virtualmente para uma reunião do Fórum Econômico Mundial.
Os pacotes de auxílio bilionários lançados por diferentes países para amortecer os efeitos da pandemia de covid-19 sobre a economia acabaram promovendo um boom nas bolsas de valores. Com os juros baixos e a grande liquidez, muitos investidores migraram para a renda variável em busca de maior rentabilidade.
Isso levou a uma valorização das ações de diferentes empresas — e, por consequência, do valor de mercado dessas companhias e da fortuna daqueles que detêm uma parcela delas.
Assim, em parte por decorrência desse efeito, a fortuna dos bilionários do planeta saltou de US$ 3,9 trilhões (R$ 21,32 trilhões) para US$ 11,95 trilhões (R$ 65,33 trilhões) entre 18 de março e 31 de dezembro de 2020 — aumento equivalente ao aporte feito pelos governos dos países membros do G20 para fazer frente à pandemia, de acordo com o relatório.
O objetivo do levantamento da Oxfam é evidenciar as desigualdades de renda globais. Na prática, parte da fortuna dos bilionários do mundo não necessariamente pode ser convertida em dinheiro vivo no curto prazo. No caso dos investimentos em ações, por exemplo, a riqueza pode flutuar a depender do desempenho do mercado e só entra na conta corrente de seus detentores caso eles se desfaçam dos papéis.
As 10 pessoas mais ricas do mundo incluem o fundador da Amazon, Jeff Bezos, o cofundador da Tesla, Elon Musk, e o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg.
O relatório diz que Bezos lucrou tanto em setembro de 2020 que poderia ter dado a todos os 876 mil funcionários da Amazon um bônus de US$ 105 mil (R$ 574 mil) e ainda ser tão rico quanto antes da pandemia.
Enquanto isso, para os mais pobres a recuperação dos efeitos da pandemia pode demorar mais de uma década. A Oxfam estima que entre 200 milhões e 500 milhões de pessoas estavam vivendo na pobreza em 2020, revertendo o declínio da pobreza global visto nas últimas duas décadas.
"Achamos que esta é uma oportunidade para fazer algo radical, para reconsiderar a taxação de grandes fortunas e os impostos corporativos", diz Danny Sriskandarajah, CEO da Oxfam no Reino Unido.
"Precisamos considerar aumentar a renda básica de cada cidadão."