A precipitação de eleições antecipadas em Castela e Leão, por decisão do Partido Popular espanhol, tinha por objetivo uma maioria absoluta regional. Primeira lição: o truque português fez escola. Só que, neste caso, o projeto fracassou.
Essa é a segunda lição. A direita espanhola vive o dilema que o PSD sofreria se precisasse do Chega para fazer Governo: só consegue uma maioria parlamentar se alienar o centro e radicalizar as suas políticas ao ponto da ignomínia — em Castela e Leão as duas condições para o início da negociação são o fim da lei contra a violência de género, uma antiga obsessão daquela extrema- -direita, e a abolição da lei sobre a memória, ou seja, a proteção do franquismo. Assim, o que a velha direita tem agora de ceder favorece a sua destruição a longo prazo, ao entregar o controlo da agenda aos bufões.
No centro, más notícias, o PSOE perdeu sete lugares. O que sugere a terceira lição: onde o centro não aparece como o eixo do poder, pode reduzir a sua mobilização. Num estado tão polarizado como Espanha, com uma política conflitual alimentada pela história recente da guerra civil, tão presente, e por contradições continuadas (as nacionalidades), o movimento é tudo e, se o Governo falha às expectativas de curto prazo da sociedade, o preço será a deslocação para a direita.
Na esquerda, pior ainda: o Podemos, que elegera dez deputados em 2015 e, em coligação com a Izquierda Unida, dois em 2019, ficou reduzido a um lugar. Quando da derrota da esquerda portuguesa, há duas semanas, figuras do Podemos apressaram-se a proclamar a superioridade da sua estratégia de participação no Governo, uma conclusão que estes resultados não favorecem. É a quarta lição: a modéstia é boa conselheira e a política de esquerda deve reconhecer as dificuldades de uma alternativa viável. Ainda está para nascer quem tenha a última palavra.
Artigo publicado no jornal “Expresso” a 18 de fevereiro de 2022