Em 2021, a Moderna teve 18 bilhões de lucros e espera chegar aos 35 bilhões no próximo ano. Agora, ao recusar a copropriedade da patente ao Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, que financiou seu trabalho, reclama um ganho de mercado que fará uma fortuna. Há quem lhe chame ganância.
Francisco Louçã, Esquerda.net, 5 de novembro de 2021
Foi um ar que se lhe deu. A Comissão Europeia, pressionada no Parlamento de Estrasburgo e, antes disso, pela opinião pública, chegou mesmo a admitir ganhar coragem para suscitar a quebra de patentes e forçar as grandes farmacêuticas a permitirem genéricos no mundo inteiro. Recusou esse caminho, primeiro, e aceitou-o depois, na evidente presunção de nunca mais voltar a falar do assunto. Passaram tempestades, descobriu-se que os contratos tinham sido negociados por convenientes incompetentes e que houve aumento dos preços depois do primeiro ano, mesmo com a inundação de financiamentos destas empresas pela União. Mas esquecida ficou a conversa sobre as patentes.
Em contrapartida, a questão renasceu nos Estados Unidos. O National Institute of Health (NIH) foi responsável pela investigação que deu origem à tecnologia de base das vacinas da Moderna e da Pfizer-BioNTech, tendo cooperado com a primeira na sequenciação genética dos coronavírus ao longo dos últimos quatro anos. Agora, o NIH contesta o pedido de registo de patente pela Moderna, que reclama só para si os louros do produto.
A Moderna, que nunca tinha lançado no mercado qualquer medicamento, recebeu do Governo do seu país 10 bilhões de dólares para desenvolver a vacina e uma encomenda no valor de 8,1 bilhões. Em 2021, teve 18 bilhões de lucros e espera chegar aos 35 bilhões no próximo ano. Agora, ao recusar a copropriedade da patente ao NIH, reclama um ganho de mercado que fará uma fortuna. Há quem lhe chame ganância.