Por Insurgência Mineira. Setembro de 2022.
Nunca é demais dizer o óbvio.
Então por que não colocar a público os motivos que a Insurgência-MG aposta e constrói a candidatura de Iza Lourença para Deputada Federal? Lançamos aqui 7 (sempre “sete, o vermelho”, como nos lembra Bensaïd!) destas fortes razões.
1. Centralidade conjuntural de enfrentamento a Bolsonaro e ao bolsonarismo: Em Belo Horizonte e em toda Minas Gerais, a campanha de Iza Lourença é a cara nas ruas da campanha por Lula na presidência. Nem mesmo a militância partidária do PT, talvez tranquilizada por uma possível - mas nada garantida! - vitória no primeiro turno está fazendo tanto barulho por aí.
Isso é resultado de um alinhamento tático central que partilhamos no sentido de que a derrocada do bolsonarismo - expressão brasileira do neofascismo - passa por sua derrota nas urnas. E de que nada nos adiantará a eleição de parlamentares na esfera estadual e federal sem que possamos ceifar esse desgoverno profundamente autoritário, alinhado com as Forças Armadas e com as frações mais espúrias da burguesia de uma vez por todas.
Este esforço para eleger Lula de modo algum se confunde com uma adesão simplista e binária à política do social-liberalismo - que sabemos nunca atendeu nossos interesses, e provavelmente não atenderá a partir de 2023 -, mas expressa a possibilidade eleitoral única de derrotar Bolsonaro, esperamos que sem nova volta, no 2 de outubro.
Ao revés da massa maioria das candidaturas que aderem à imagem do ex-Presidente para angariar votos e apoios, Iza Lourença está - como estamos - com Lula para elegê-lo, não para ser eleita.
E daremos nosso sangue para isso.
2. Uma lida consciente, madura e sadia com a institucionalidade:
Parte significativa deste alinhamento no processo eleitoral resulta da boa compreensão das eleições, bem como da lida com a institucionalidade burguesa de parte desta candidatura.
Primeiramente, por entender que nem as eleições, muito menos um mandato tem capacidade de promover as transformações que pretendemos para nosso país e para o mundo. Uso bastante essa expressão “se as eleições pudessem mudar o mundo, seriam proibidas”. É claro que isso se liga a transformações profundas, estruturais, que de modo algum descartam a importância da tensão política do momento eleitoral. A disputa de mentes e corações oportunizada pelas eleições - momento em que os olhos e atenções se voltam de forma mais dedicada à representação política -, por meio da apresentação de um programa para os oprimidos e oprimidas é janela que não pode ser desperdiçada. O mesmo se diz pela chance de se galgar uma representação que, consciente dos limites da luta parlamentar, pode fortalecer taticamente aquelas lutas que, sim, tem capacidade de virar esse mundão..
Em segundo lugar, diretamente ligado ao primeiro, o alinhamento resulta da maturidade com que não só Iza – já temperada nas lutas sociais por anos de militância, na lida com a institucionalidade em sua trajetória com o movimento estudantil e sindical, que se aprofundou com a experiência de dois anos no melhor mandato na Câmara Municipal de Belo Horizonte - mas também a organização à qual pertence, a Resistência, passam a lidar com suas importantes conquistas eleitorais. A coerência na composição de gabinetes, a vigilância para interdição de tendências perversas que a institucionalidade, com suas garantias e privilégios materiais proporcionam, bem como a linha acertada de intervenção nas Câmaras Municipais - não só em BH, mas também em Juiz de Fora, São Paulo, Porto Alegre e Belém – colocam sem dúvida as condições para que sustentem junto a outras forças a construções de tribunos do povo como Iza já é, e será adiante no Congresso Nacional.
Não por outra razão caminhamos com Iza desde a construção de sua campanha para vereadora em Belo Horizonte – que alcançou o maior número de votos do PSOL na capital mineira – e sigamos enquanto organização compondo não só seu gabinete mas as iniciativas de seu mandato-movimento. A perspectiva de se dar continuidade a essa jornada só nos anima na certeza dos bons resultados que virão nas urnas, mas também no fortalecimento e construção de trabalhos populares que darão sustento ao mandato.
3. Uma jovem mãe sindicalista no poder: Nossa classe pôde na Nova República alçar à representação parlamentar dezenas de sindicalistas e lideranças trabalhadoras. Apesar de sermos a massa maioria da população brasileira, nunca chegamos próximo a ter composição majoritária nas casas de poder.
Iza, que é bilheteira do metrô de BH e militante sindical, pode contribuir com essa guinada necessária na Câmara, e por diversas razões. Primeiro por expressar a necessidade de que as lideranças de nossa classe possam estar no parlamento, defendendo-nos e propondo medidas de interesse do conjunto da classe. A carência de representações alinhadas com o interesse dos trabalhadores e trabalhadoras foi um dos fatores que proporcionou, nas duas últimas legislaturas, a tranquila aprovação de contrarreformas como a do teto dos gastos, em 2016, da legislação do trabalho, de 2017,e da previdência, em 2019. Não desconsideramos que é de maior importância a mobilização nas ruas e locais de trabalho para conter estes retrocessos, mas também não ignoramos que uma bancada forte pode e deve fazer diferença nestas agendas.
Além disso, Iza é uma mãe trabalhadora, que sabe e sente o que são as agruras da sujeição ao trabalho alienado sem salvaguardas para a dimensão do cuidado de sua filha - sobretudo em um contexto em que a projeção às mulheres de tais tarefas é exclusiva e mal protegida –, proporcionando do mesmo modo incidir em discussões e pautas políticas imprescindíveis, como a do alargamento da compreensão do trabalho para que este não se limite ao assalariado e comporte as dimensões da reprodução social, a necessidade de que compreendamos nossas moradias como espaços em que também se trava a luta de classe e que a garantia - pela assistência, previdência e legislação do trabalho - das atividades reprodutivas impagas é uma pauta central para um feminismo dos 99% - pauta que também serviu de mote à sua campanha triunfante de 2020.
Por fim, Iza, jovem militante, representa também o reconhecimento de que a juventude não quer apenas girar a roda da vida, mas quer direitos, quer trabalho digno, quer condições para gozar da vida em sua plenitude. Sem as dores da fome, o risco do desemprego, o medo da carestia, a exaustão da precarização.
A juventude merece dignidade em seu trabalho. Lugar de jovem também é no sindicato, também é no parlamento!
4. A melhor, para não dizer a única, plataforma ecossocialista para o Congresso: Iza não faz apenas cards, tweets e stories sobre o tema sócio-ambiental. Possui uma verdadeira plataforma voltada ao enfrentamento da crise climática desde o contexto social brasileiro, lastreando-se sobretudo na experiência das lutas nas Minas Gerais.
Em tempos em que o ecossocialismo está na boca do povo, seu conteúdo deve ser qualificado. Um mundo novo passa pela construção de um programa que imponha nossos horizontes estratégicos, e que possa ser também testado desde a intervenção tática no Parlamento.
Iza não só firmou compromissos importantes, como o Clima de Eleição [https://izalourenca.com.br/iza-lourenca-assina-carta-clima-de-eleicao/#:~:text=Combate%20ao%20racismo%20ambiental%3A%20as,tamb%C3%A9m%20%C3%A9%20combater%20o%20racismo], mas sobretudo construiu uma efetiva plataforma para a lida com questões sócio-ambientais. Nominada “Planeta acima do lucro” [https://esquerdaonline.com.br/2022/08/30/iza-lourenca-lanca-plataforma-planeta-acima-do-lucro/] , foi recentemente apresentada como parte deste significativo esforço de incisão no tema por múltiplas facetas, e que encontra particularmente na lida e enfrentamento do racismo ambiental um de seus principais elementos.
Parte destas proposições foram por ela expostas em texto na Revista Fórum [https://revistaforum.com.br/debates/2022/8/26/inimigo-da-natureza-um-balano-do-legado-de-destruio-ambiental-de-bolsonaro-por-iza-lourena-122308.html].
Não há nenhuma outra candidatura que está nesse pé. E isso não nos surpreende.
A atuação parlamentar não se fará com cards ou videos no Tiktok. Muito menos com a apologia a saídas individualistas, liberais e demagógicas para enfrentamento da crise climática - como é o caso do panfleto zero e outras. Pressupõe incisão e adensamento programático. E a campanha de Iza caminha anos-luz a frente de qualquer outra nesse sentido…
5. Uma candidatura que não vacila com a patronal: a lida com a política institucional traz tentações permanentemente. Mesmo quando apenas resvalamos nela, quando ousamos nos aproximar.
É um espaço que não é nosso, é deles, e que cabe a nós permanentemente, sem melindre e em vigília constante, tensionar.
E a candidatura segue sem vacilar com a patronal. Valorosa como outras candidaturas, se coloca na linha certa - e a nosso ver única - de coerência com nossos interesses enquanto oprimidos não se rendendo ao financiamento pautado por banqueiros, magnatas, barões da grande imprensa entre outros.
Já que iniciamos nosso texto falando no óbvio, deveria ser também óbvio, o mínimo, observar as resoluções partidárias nesse tocante. É lamentável que candidaturas valorosas e necessárias possam, sem qualquer reserva, render-se a esse grau de incoerência. Há tempo pra tudo se remediar, mas há alguns tropeços que não podem passar batido.
6. Sobre a importância de uma bancada de mulheres negras: De acordo com o último censo do IBGE, 53,5% da população mineira é composta por pessoas negras, sendo 27% da população do Estado composta por mulheres negras. Enquanto isso, sua representação no Congresso Nacional, dos 53 deputados federais eleitos em Minas, apenas uma Deputada Federal negra - a valorosa, imensa, Áurea Carolina (PSOL), que não se colocou à recondução nesse pleito. Ou seja, 1,88% da representação parlamentar do Estado na Câmara.
E não podemos cogitar que este número chegue a zero!
Não se trata apenas de representatividade, mas também de representatividade. Não se trata de identitarismo, mas a afirmação da mais material das identidades, que plasmam nossas subjetividades e horizontes no político. Estamos falando da parcela da população que se sujeita aos postos de trabalho mais precários, à sobrecarga mais abissal do trabalho reprodutivo, aos menores salários, às maiores vulnerabilidades habitacionais, aos mais profundos riscos sócio-ambientais, aos maiores índices de violência doméstica, e junto aos homens negros as maiores marcas de encarceramento.
Não podemos disseminar a ideia falsa de que já conquistamos participação política para mulheres negras. A eleição de 2018 foi um importante passo histórico, mas terrivelmente tímido frente ao necessário para alcançar uma participação política proporcional de mulheres negras. A luta social não se faz por etapas de identidades a serem incluídas social e politicamente, mas queremos nossa existência diversa devidamente representada e de forma cada vez maior. Por isso, não podemos, agora, abrir mão de uma única representação na bancada mineira.
Caso não mantenhamos - e oxalá ampliemos! - nossa bancada de mulheres negras no campo progressista na Câmara, inclusive desde Minas Gerais, estaremos diante não de outra coisa que uma derrota.
7. A voz de uma bissexual na Câmara: No país que mais mata LGBTs do planeta, ter uma voz que nos represente no Parlamento é fundamental. O PSOL vem sendo o partido que mais tem travado lutas em prol das LGBTs, nas ruas e nas casas legislativas, e deve seguir essa boa caminhada. Iza do mesmo modo cumprirá um papel fundamental nessa trajetória, sobretudo conferindo visibilidade às pessoas bissexuais, desmistificando preconceitos, estigmas e violências que recaem nessa imensa parcela da população brasileira a partir de sua experiência de vida e potência militante. Faz ora ampliarmos nossa bancada bissexual - hoje composta apenas pela grande companheira Vivi Reis (PSOL-PA) - no Congresso!
Por tudo isso e mais, a Insurgência-MG está com Iza Lourença 5000 para Federal!