De uma doença exótica, a Covid-19 passou a ser parte da vida dos italianos. O “Bérgamo não se fecha” e a pressão dos patrões mantiveram a atividade produtiva na calamidade, mas os trabalhadores resistiram. Esta é a história de como o coronavírus atacou a Itália.
Fabrizio Burattini, Esquerda.net, 27 de abril de 2020. Tradução de André Beja.
Apesar do abrandamento que se vem verificando desde o fim de março, a Itália ainda se encontra na chamada fase 1 do contágio de coronavírus, caracterizada por milhares de novos casos diários (média de 3164 na semana entre 15 e 22 de Abril) e por uma elevada mortalidade (média de 491 vítimas na mesma semana), que obrigam à manutenção das medidas de isolamento social e do estado de emergência. Prevista para 4 de maio, a fase 2 significará o levantamento de algumas das restrições e o retomar da atividade económica (nota do tradutor).
“Mas quando é que começa a fase 2?”
“Todo o mundo já está abrindo (se é que chegaram realmente a fechar…)”
Num momento em que, com a aproximação do dia 4 de maio, aumenta a pressão política, social e dos média para a reabertura, vale a pena recapitular o que se passou...
Uma notícia de contornos indefinidos
No final de dezembro de 2019, após uma sucessão de notícias oficiosas e de desmentidos oficiais, as autoridades chinesas admitem que, nos últimos meses, foram diagnosticados vários casos de uma pneumonia "anómala" na remota província de Hubei, no centro da China (a mais de 1.000 km de Pequim), cuja capital, Wuhan, é uma das cidades mais modernas do país, um poderoso centro de comércio, sede de numerosos institutos de investigação.
Os noticiários italianos, como acontece em todo o mundo, dão um espaço simbólico a uma notícia exótica. Parece ser uma das muitas peculiaridades de uma realidade (a chinesa) ao mesmo tempo repugnante ("comunista", asiática, totalitária) e atraente (eficiência, disciplina, aumento do PIB de dois dígitos à esquerda do zero). A atenção de Itália está centrada nos conflitos na maioria tumultuosa do nosso governo (entre os apoiantes de Renzi, os do PD e os do Movimento Cinco Estrelas); no máximo, é dada atenção ao grande movimento de protesto democrático de Hong Kong (mas tomando cuidado de não compará-lo aos movimentos contemporâneos de Santiago, Bagdad ou Beirute ...).
A OMS declara o risco global
Para que o rei das notícias dos meses seguintes – a palavra "coronavírus" – entrasse na casa dos italianos, foi necessário esperar até meados de janeiro, depois do reconhecimento, pelas autoridades chinesas (9 de janeiro), da existência de uma nova estirpe patogénica e de, no dia seguinte, a OMS ter divulgado este anúncio internacionalmente. Mas, não se preocupem, nas últimas décadas vários foram os vírus (Sars, Mers, gripe das aves, febre suína...) oriundos da China ou de outros países que se espalharam e criaram alarme desnecessário nos países ocidentais, que pouco foram tocados pela epidemia. Sem ser a doença das vacas loucas, que nos fez desistir das bistecas florentinas e das saborosas miudezas por alguns anos, lembram-se de alguma epidemia que, de alguma forma, tenha posto em causa os nossos hábitos de vida?
A 27 de Janeiro a OMS anuncia existir “um risco muito elevado para a China e elevado a nível regional e global” e, a 30, esta mesma organização declarou estarmos perante uma “emergência de saúde pública internacional”. No mesmo dia, o governo italiano, decidiu estabelecer um estado de emergênciai por seis meses e (em contraste com a atitude de outros governos europeus) decidiu bloquear voos diretos da China para a Itália.
Na China a situação estava “cada vez melhor”: a 8 de fevereiro, a OMS reporta um aumento galopante do contágio em Wuhan.
O contágio chega a Itália
Em Itália, poucos dias antes, alguns turistas chineses apresentam sintomas de infeção, sendo prontamente internados no Hospital Spallanzani (Roma), e, submetidos às zaragotoas (procedimento que mais tarde se tornará famoso e objeto de outros debates e confrontos), dão resultado positivo.
A imprensa assinala uma onda de medo relacionada com lojas chinesas, um pequeno foco de racismo prontamente cavalgado, como de costume, pela direita e extrema direita. Por seu turno, talvez perante o que iam vendo nos meios de comunicação social do seu país, os chineses que, poucos dias antes, eram presença visível em muitos bairros das cidades italianas, desapareceram, fecharam-se em casa, fecharam restaurantes, bares, lojas... Dizia-se que muitos preferiram voltar à China, passando por outras cidades europeias onde ainda seria possível embarcar nos aviões que partem para o Oriente.
A polêmica sobre o encerramento dos voos (a primeira desta nova e longa fase mediática) traz à televisão personagens até aqui ignoradas, os chamados “especialistas”: virologistas, epidemiologistas, médicos internos, anestesistas. Toda uma nova tipologia de técnicos. Mas mesmo estes “técnicos”, apesar da suposta objetividade da ciência, parecem divididos: é uma pandemia letal… não! É uma espécie de gripe…
A Lombardia entra em palco
Fevereiro já ia para lá de meio. Passava pouco da meia noite do dia 20 quando um obscuro assessor dos serviços sociais da Lombardia, Giullio Gallera, noticiou o internamento, no hospital de Codogno (Lodi), de um paciente de trinta e oito anos que dera positivo para a infeção, após alguns dias de sucessivas idas e voltas ao hospital por lhe ter sido diagnosticada uma gripe simples. No decorrer dessa jornada, sobe para 15 o número de contagiados na Lombardia. Nesse mesmo dia, é descoberto um outro foco de infeção, em Vo’Euganeo (Pádua). É no Veneto que ocorre a primeira morte: um homem de 78 anos internado em Pádua, o primeiro de uma longa e trágica série.
Já não se trata apenas de uma doença chinesa, alguns italianos foram infetados. As instruções do Ministério da Saúde parecem pouco mais do que as de higiene adequada para crianças do jardim de infância ou da escola primária: lave bem as mãos, não toque na boca e nos olhos com as mãos sujas, cubra a boca quando tossir ou espirrar... Enquanto isso, nos espaços públicos, as pessoas continuam a reunir-se como de costume, nas escolas continua a faltar sabão e papel higiénico e, em centenas de milhares de locais de trabalho, disponibilizar qualquer dispositivo de proteção aos funcionários continua a ser considerado como um custo desnecessário.
Nos dias que se seguem, assistimos ao regresso de um termo que havia visto a luz em julho de 2001 na Génova do G8. A "zona vermelha", então usada para impedir que os manifestantes se aproximassem demais dos poderosos, torna-se numa medida de contenção sanitária. Dez municípios de Lodigiano e Vo 'são fechados, ninguém entra ou sai, com o risco de sanções penais.
Nas duas semanas seguintes, o contágio espalha-se: os infetados aumentam para centenas e depois para milhares, assim como as vítimas.
Bérgamo não fecha
Enquanto isso, a 23 de fevereiro, no Serviço de Urgência de do Hospital Pesenti Fenaroli, em Alzano Lombardo, a unidade mais importante do baixo Val Seriana, a poucos quilómetros de Bérgamo, dois homens, sujeitos a testes de diagnóstico depois de várias hesitações, deram positivo. São imediatamente transferidos para o hospital Giovanni XXIII, na capital da região, onde um dos dois não conseguirá sobreviver a essa noite. Mas, não entre em pânico, o morto "sofria de patologias anteriores". Começa a história de "não morreu de coronavírus, mas morreu com coronavírus", com que se procurou minimizar a epidemia por algum tempo.
O Serviço de Urgência de Alzano, após encerrar preventivamente por algumas horas, é reaberto ao público.
A realidade paralela dos 10 municípios da área de Lodigiano (toda a população fechada em casa, a atividade económica paralisadaiv) aterroriza a Confindustria de Bérgamo, cujo presidente alerta sobre os riscos de dar ao mundo uma imagem da província como se estivesse "fechada devido a coronavírus".
A Val Seriana é um apêndice periférico da capital da região, aninhado nas montanhas, uma série ininterrupta de armazéns, um dos corações pulsantes da produção industrial na província, de toda a Lombardia e até do país.
Como tal, as empresas locais encomendam a um qualquer infeliz "criativo" a realização do filme promocional "#BergamoNonSiFermav" (ainda assustadoramente disponível na internet) que convida as cidadãs e cidadãos a continuar a vida como de costume, ocupando os bares, as ruas e, especialmente, os locais de trabalho. O capitalismo de Bérgamo precisa deles. Alguns dias depois, o vídeo é revisto e por alguém que, mais realista, mas de forma igualmente grotesca, convida os e as habitantes de Bérgamo a continuar a frequentar as lojas e ruas do centro, mas #AdUnMetroDiDistanza…
Por seu lado, e para não destoar, o presidente da Câmara, Giorgio Gori, do PDvi, faz um esforço para transmitir mensagens de otimismo à cidadania, coroadas pela (falsa) promessa de que "o pior já passou".
Em toda a Lombardia é lançada uma campanha contra o medo. Até o presidente da Câmara de Milão, Beppe Sala, do PD, lança, para não ficar atrás, a hashtag #MilanoNonSiFerma. E o secretário geral do PD, Zingaretti, faz-se filmar enquanto toma um copo na capital lombarda. Alguns dias depois, testaria positivo.
E é assim que, em virtude da sua intensa atividade económica com toda a região e com toda a Itália, geradora de intensa movimentação de pessoas, Val Seriana e Bérgamo só se vão tornar "áreas vermelhas" quando o governo nacional decidir fechar todas as escolas e universidades do país (a partir de 5 de março) e decretar (a partir de 9 do mesmo mês) toda a bota como "zona vermelha".
No entretanto, o vírus teve 15 dias para infetar toda a região de Bérgamo e toda a Lombardia, fazendo, em pouco mais de um mês, mais de 12.000 vítimas "oficiais", a que se juntam milhares e milhares de outros cidadãos e cidadãs que foram deixados a morrer em casa ou em lares de idosos, diante do colapso do já "excelente" sistema regional de saúde. Após as unidades de Cuidados Intensivos dos hospitais de Bérgamo, os cemitérios da região também se declararão "esgotados" e os camiões do exército serão chamados para transportar os caixões para outras províncias.
A “zona vermelha dos Alpes” à Pantelleria
A 5 de março teve início o festival de “ensino a distância” para os professoras e professores italianos e para milhões de alunos, com circulares ministeriais e diretores de escolas que impõem, além e acima de qualquer objeção legítima, uma ação "por todos os meios"...
A partir de 9 de março, há uma intimação permanente para que fiquem todos em casa "exceto por necessidades comprovadas de saúde ou de alimentação" ou, como diz o Decreto Governamental, "por necessidades de trabalho". Precisamente para essas últimas necessidades, exceto para uma parte dos trabalhadores e trabalhadoras para quem começa a ser possível, por vezes de forma rocambolesca, o "trabalho a partir de casa", milhões de pessoas continuam a movimentar-se como antes, enchendo os transportes públicos, os locais de trabalho e, novamente, os transportes públicos, para voltar ao isolamento em casa após um dia inteiro e sem nenhuma proteção nos contatos diretos com outros.
É a hora dos protestos
A semana de 9 de março tornou-se na semana das greves, que levaram os sindicatos confederados a pedir um acordo entre o governo e os outros parceiros sociais que permitisse assinar um protocolo sobre segurança no local de trabalho. O protocolo, de treze pontos (das entradas da empresa à gestão das cantinas e áreas comuns, dos dispositivos de segurança à gestão de todos os casos de infeção confirmada na empresa), será assinado no dia 14 no Palazzo Chigi, sede do governo. A Confindustria apresentá-lo-á como a ferramenta para "enfrentar corajosamente a emergência sanitária sem desligar o motor da economia", agradecendo a "todas as empresas e trabalhadores por esse grande ato de responsabilidade para com o país".
Mas trabalhadores e trabalhadoras rejeitam estes agradecimentos e continuam em greve, às vezes com a cobertura de alguns sindicatos de base e de algumas estruturas locais dos sindicatos confederais, às vezes só com uma declaração de greve por parte comissões de trabalhadores ou, simplesmente, não entrando na fábrica por saberem que as condições mínimas de segurança não existem.
Por outro lado, se faltam máscaras nos hospitais, nas empresas nem sequer se fala delas… Há o caso do município de Roma que declara o uso de máscara obrigatório para os funcionários durante o trabalho, pedindo-lhes que as obtenham por meios próprios, porque não é possível encontrá-las à venda. Existem até episódios de medidas disciplinares impostas aos delegados sindicais porque contestam o não cumprimento do protocolo recém-assinado.
Os postos de controlo multiplicam-se, exigindo a cidadãos inocentes que vão às compras que apresentem comprovativo do motivo da sua saída, enquanto é solicitado a milhões de trabalhadores que continuem, como se nada tivesse acontecido, a circular nos transportes públicos, nos escritórios e nos complexos industriais.
As greves, no entanto, permitem alcançar um resultado. A 22 de março, o governo emite um novo decreto com a lista detalhada das empresas que podem continuar a operar, restringindo a atividade às "essenciais". Mas a nova medida não interrompe o movimento de luta: ainda existem muitas empresas que não têm nada de essencial para a vida quotidiana e que são consideradas como essenciais apenas na lógica do lucro a qualquer custo. Assim, dois dias depois, o governo é forçado a rever esta lista. Mas a alínea que permite operar através da apresentação de uma declaração à Câmara Municipal permanece intacta e dezenas de milhares de empresas, especialmente nas quatro principais regiões do norte e na província de Bérgamo, apresentam o pedido de isenção, certas de que os municípios não poderão verificar, exceto em alguns casos isolados, o cumprimento das medidas de segurança mínimo.
A exceção que se torna norma
Mesmo com o consentimento dos líderes das confederações sindicais à nova lista, o movimento de greve não vai desaparecer. As medidas de distanciamento, o facto de parte da força de trabalho estar em casa em lay off ou em teletrabalho facilitam a "pacificação". Há também a comissão de garantia anti-greve, que proíbe a greve geral convocada pela USB (União dos Sindicatos de Base) para 25 de março.
Segundo o Istat (Instituto Nacional de Estatística), mais de 55% das empresas italianas continuam em atividade apesar do #IoRestoACasa. Milhões e milhões de pessoas (15 milhões e meio, segundo as estimativas) que continuam a ir trabalhar todos os dias. De tal forma que Zaina, o presidente do Veneto eleito pela Liga Norte, diz que, na realidade, o bloqueio já não existe.
Mas a Confindustria não aceita nem mesmo essa forma mínima de bloqueio. As associações patronais não dão tréguas. As suas pressões são constantes. E até a eleição do seu novo presidente, Carlo Bonomi, se torna numa oportunidade de dar voz à pressão pela reabertura imediata. A chamada à ordem dos patrões recolheu apoio imediato do centro-direita, mas também na maioria do governo, que está em grande embaraço, desde o apoio explícito dos renzianos às posições confindustriais até à gaguez dos outros partidos da coligação.
O debate sobre a crise econômica
Enquanto isso, continua o debate sobre as medidas mais urgentes para enfrentar a crise do ponto de vista económico. Obviamente que, para as associações patronais, a prioridade é, como sempre (uma "normalidade" nunca posta em causa), a de apoiar empresas. Com o "decreto de liquidez" de alguns dias antes, o governo disponibilizara ao mundo dos negócios 400 mil milhões de euros, a desembolsar sem grande controlo sobre a solidez e solvência de quem o solicita. Enquanto isso, para as classes mais pobres, um fundo excecional de lay off generalizado foi disponibilizado para aqueles que estavam em casa devido ao encerramento da sua empresa e um subsídio mensal de 600 euros (talvez 800 para o próximo mês) para trabalhadores independentes e profissionais liberais.
Assim, os primeiros sintomas de mal-estar social (sem contar com os distúrbios nas prisões nas primeiras semanas de março), levaram o Ministério do Interior a instar os presidentes da Câmara a manterem sob controlo possíveis "surtos de expressão extremista".
Na mesma linha, há também um conflito silencioso sobre a que governo confiar o "retorno à normalidade". Já a 24 de março, enquanto o surto estava em pleno avanço e o confinamento estava a dar os primeiros passos, o ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, disse ao Financial Times: "estamos a enfrentar uma guerra contra o coronavírus e temos que agir em conformidade. Precisamos de impedir que uma recessão se transforme numa depressão prolongada". A receita do economista, que com a sua intervenção parecia estar a candidatar-se a um papel político nacional sem precedentes, seria, após décadas de denúncias de excessos da dívida pública, a de "um aumento significativo da mesma. A perda de rendimento do setor privado terá que ser absorvida pelos orçamentos do governo. Uma dívida pública mais alta e o cancelamento da dívida privada tornar-se-ão numa característica permanente de nossas economias".
Para lá da hipótese de Draghi, outros sinais apontam para a possibilidade de virem a surgir novas propostas de governos "técnicos", em nome da "competência" (Qual? Em quê?). O nome mais credenciado até agora parece ser o de Vittorio Colao, ex-CEO da Vodafone, que o primeiro-ministro Giuseppe Conte chamou para liderar o grupo de estudo sobre a "fase 2".
Enquanto isso, o primeiro-ministro Conte participará da discussão entre os líderes dos 27 países da UE sobre a definição de ferramentas "inovadoras" para enfrentar a crise económica, uma discussão que, na comunicação social, está a ser simplificada com o uso ou não dos 37 mil milhões de euros que o Mecanismo Europeu de Estabilidade poderia disponibilizar para a Itália.
É neste contexto que decorre a ofensiva patronal e política para a reabertura generalizada. A direita está à ofensiva em todo o mundo. Nos EUA, país que agora está no topo do contágio e da morte pelo vírus, os apoiantes do presidente Trump saem às ruas, por vezes armados, para reivindicar liberdade (de exploração). Milhares de bolsonaristas fazem o mesmo nas ruas de São Paulo para denunciar os governadores dos estados ainda controlados pela oposição, culpando-os de não permitirem a "liberdade de empresa".
A “liguista” Lombardia e a Confindustria, com as suas 12.000 mortes, mas protegidas pela folha de parra de uma "tendência mais positiva" no número de infeções, batem o pé pela reabertura. As outras regiões do norte fazem o mesmo. No sul, os governadores levantam a voz contra os seus colegas do norte, cientes de que (dizem-no os dados oficiais) graças à diferente estrutura de produção, o encerramento nas suas regiões levou ao encerramento de ainda menos empresas que no norte.
É nas crises que cada um dá o melhor ou o pior de si. Parece que todos nesta crise decidiram dar o seu pior.
Obviamente, tentaremos ser compreensivos com aqueles empresários (grandes, pequenos e muito pequenos) que estão acostumados a pensar no seu desejo de lucro como central e prioritário em relação a qualquer outra preocupação, acostumados a viver com um sistema político (nacional e local) ao seu serviço e ao serviço das suas empresas, acostumados a considerar tudo (até a saúde) como fonte de lucros possíveis, acostumados a viver num contexto completamente infetado pelo produtivismo e pelo "desenvolvimentismo" a qualquer custo, que de repente se viram obrigados a lidar com uma emergência que os ignora e põe em causa todas as suas certezas.
Quando eles reivindicam o retorno à "normalidade" hoje, é nessa normalidade que eles pensam, uma fotocópia da "fase 2" das últimas décadas.
Fabrizio Burattini é arquiteto, professor, sindicalista e dirigente da Sinistra Anticapitalista. Texto originalmente publicado no site anticapitalista.org a 22 de Abril de 2020 e reproduzido do esquerda.net.
NOTAS
Para saber mais sobre o que se passou em Bergamo, ler também: https://www.esquerda.net/artigo/bergamo-o-massacre-que-os-patroes-nao-quiseram-evitar/67205 e Bergamo não para: https://www.ecodibergamo.it/stories/bergamo-citta/bergamononsifermaun-video-per-la-citta_1342872_11/