Existem os Messi e CR7 dos megamilionários, como Jeff Bezos (Amazon) e Elon Musk (Tesla) que acumulam US$ 101 bilhões de patrimônio, com crescimento em 2020 oscilando em torno de US$ 70 bilhões. Mas é toda a turma dos bilionários globais que está comemorando, apesar do Covid: pela primeira vez na história, sua riqueza - levantada pelo relatório UBS e PwC - ultrapassa os US$ 10 trilhões. Até o grupinho italiano se recupera depois de um período de calmaria: agora são 40, contra os 36 da última radiografia, com US$ 165 bilhões à disposição.
Após o declínio vinculado aos meses mais duros da pandemia, caracterizado por uma reação nos mercados de valores, os patrimônios dos super ricos recomeçaram a subir, detonando o recorde de 8.900 bilhões que havia sido alcançado no final de 2017. O relatório atualiza a contagem no final de julho passado, descontado o efeito da pandemia e a saída da crise, em 10,2 bilhões. Entre abril e julho, os bilionários conseguiram aumentar o valor de suas reservas em mais de um quarto. Um dado que se choca com um quadro bem diferente para o resto do mundo "normal": a Organização Internacional do Trabalho calculou que a pandemia eliminou 3,5 trilhões de dólares de renda do trabalho nos primeiros três trimestres do ano. Os bilionários pesquisados são agora 2.189 em comparação com 2.158 de 2017.
O mundo pós-pandêmico corre o risco de ser ainda mais polarizado: Josef Stadler, diretor dos escritórios familiares do UBS e, portanto, em contato diário com os grandes patrimônios, observou ao Guardian que "a concentração da riqueza está nos níveis de 1905" quando os Rockefellers & Co. dominavam. Para Stadler, é o resultado da acumulação de juros sobre juros, "que tornam as riquezas cada vez maiores". Porém, ele mesmo abre a questão sobre a sustentabilidade desse sistema: “Quando a sociedade vai intervir?”.
Mesmo dentro da turma dos ricos, estão se criando grupos de lebres e seguidores correndo atrás. A diferença identificada pelos analistas do banco suíço e da consultoria é a capacidade de ser "inovadores e disruptor", ou seja, trazer ao mercado empresas que mudam radicalmente o cenário, inventam novos produtos, derrubam estilos de consumo. Características que podem ser rastreadas em 94% dos bilionários do setor de tecnologia e em 71% da saúde, as verdadeiras forjas de mega milionários. Por outro lado, cai para 54% na indústria e 41% nos bens de consumo e varejo para despencar para 17% no setor imobiliário.
Não é por acaso, então, que de 2018 até o final de julho a riqueza acumulada no setor de tecnologia aumentou 42,5% para 1.800 bilhões de dólares - graças à corrida desenfreada (tanto que muitos veem o risco de uma "bolha") dos títulos da Nasdaq - ou de saúde aumentou 50,3%, para 658,6 bilhões, enquanto o crescimento geral foi limitado a 19,1%. No geral, os "inovadores" ficaram 17% mais ricos (5.300 bilhões de patrimônios), enquanto os tradicionais tiveram que se contentar com um crescimento de 6% (3.700 bilhões).
Houve várias subidas repentinas de mega milionários. Muito se falou de Musk, outros casos são menos conhecidos. A cotação da Hansoh Pharmaceutical na Bolsa de Valores de Hong Kong em 2019 impulsionou a fundadora, Zhong Huijhan, de uma função de professora para o trono dos bilionários da saúde. Na China continental, lembra o relatório, o engenheiro Frank Wang se tornou o primeiro bilionário voador graças a ter fundado e liderado a empresa de drones comerciais DJI, enquanto na Europa um dos "principais jovens inovadores" é Patrick Collison, programador irlandês ao qual se deve, em parceria com seu irmão, a plataforma Stripe.
Talvez justamente na tentativa de responder à grande polarização da riqueza, o relatório traça uma tentativa por parte dos novos ricos e de suas empresas de retribuir à sociedade: “Eles estão doando como nunca antes”. Durante a pandemia (março-junho), foram registados 209 doações pessoais em iniciativas de importância pública no valor de 7,2 bilhões, embora o valor possa estar subestimado devido à discrição daqueles que não tornaram público seu empenho. “Parece que os bilionários tomaram a pandemia como um estímulo para reconsiderar seu posicionamento, seus valores e estão se concentrando em garantir estabilidade e sustentabilidade para suas famílias, empresas e sociedade como um todo”.
Reproduzido de IHU-Unisinos. A tradução é de Luisa Rabolini.