Leandro Faro é militante da Insurgência em Volta Redonda/RJ e psicólogo.
É sábado a tarde.
E eu, já nos últimos meses para a conclusão do mestrado, às voltas com a escrita dos detalhes finais da minha dissertação, e que, por conta disso, ultimamente não tenho me dado ao luxo de perceber diferenças entre dias da semana… trabalho.
Esses últimos dias têm sido de altos e baixos. A produção foi pouca, os insights, muitos. A cada tentativa de organizar o caos das múltiplas ideias, hipóteses, argumentos que apontam para caminhos interessantes, acaba culminando em ainda mais ideias, possibilidades. Tá tudo meio aberto, e se torna cada vez mais amplo, e eu tenho é que fechar, eu preciso, por todo os Deuses, concluir. Se não for pelos céus, que tenha algum Mefistófeles em meio as nuvens de pó de Volta Redonda1 que me caiba! A essas alturas… Eu tô topando tudo.
Fui dormir na noite anterior com uma meta muito bem definida. Sistematizarei cada ponto da dissertação, depois farei o mesmo com cada hipótese, cada apontamento, cada artigo, autor, abordagem teórica. Vou organizar a casa, acalentado pela mão nada sutil de Álvaro de Campos, companheiro de antigas viagens:
Mas tenho que arrumar a mala, Tenho por força que arrumar a mala, A mala.
Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão. Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.
Porém, como bem sabem os ruminadores, não faz muita diferença ao paladar ruminante: nem gosto, nem aroma, nem textura, muito menos sabor. Ao contrário, talvez aqui o bom, seja o mal; e o mal, seja o bom. Afinal, se distrair com o bom, o belo, o doce, o gostoso, e o agradável, só lança toda a culpa da sua distração sobre você mesmo, meu bom e plácido ruminante. Mas agora… se a causa da distração for mais ou menos amarga, for um pouco histriônica, uma fagulha de inconveniência basta a qualquer ruminante mediano. Qualquer coisa serve. Incluindo ter que parar tudo para escrever sobre a prática da ruminação. Seria o caso?
Se estivesse trabalhando sob uma lógica neoliberal, certamente que sim. Seria o momento perfeito para introduzir o bom e eficaz discurso motivacional: sugeriria cursos, treinamentos, novos hábitos, e eventualmente, quem sabe, até mesmo a entrada de um remedinho pra dar aquele up na concentração e na produtividade. “Mais vale arrumar a mala. Fim.”
Pra mim, é só um começo. E um começo dos bons.
Nos voltemos pros motivos. No caso do ruminante aqui, foi uma árvore, não qualquer árvore. Ou melhor, sua poda.
Atualmente, moro aos pés de uma comunidade. Da minha janela, tenho uma bela vista da rua de cima, e bem de frente, no quintal de uma humilde residência, impera um enorme e magnífico abacateiro. A noite, ele some na escuridão sem deixar rastros. De dia, a árvore é bonita não importa como esteja o céu! O amarelo de dia bonito, nela é lindo de doer. Não tem luz branca de dia cinza que intimide o verde-escuro das suas folhas, ela fica ainda mais imperiosa. Quando o dia não tá frio (e aqui tem feito muito frio nesse inverno) e tenho como estudar de janela aberta, a árvore é uma grande parceira.
Porém, hoje, logo hoje, no dia crucial em que todos os Deuses estavam prontos para a organização definitiva, quando as primeiras palavras começam a ser escritas no caderno separado especificamente para este fim, meus olhos se desviam em direção ao barulho dos galhos do belo abacateiro descendo num estrondo pela encosta da comunidade.
De início, e de imediato, fui tomado pela primeira irritação: o desconforto da quebra do sossego. Levanto como um rojão, vou à cozinha irritado pegar um café, enquanto o som do facão do vizinho da rua de cima ecoa baixo, mas produz um sonoro e estridente incomodo. Cai um segundo galho. Tento me concentrar e me percebo muito mais preocupado com o abacateiro do que com o rendimento da minha tarde ou com meus grandes projetos de organização definitiva de toda a minha vida hoje.
Lutei algumas horas contra o vizinho. Óbvio que não fui até lá ou qualquer coisa assim. Eu fiquei observando-o podar o abacateiro durante boa parte da tarde. Temendo a cada galho que despencava que ele não soubesse o que estava fazendo. Era certo que ambos, eu e ele, amávamos aquela planta. Ele lá, dedicando a ela seu cuidado podando- a, e eu aqui, olhando em agonia, temendo que ele exagerasse, criticando antecipadamente cada movimento. Não sabia nem mesmo suas reais intenções, estava cuidando dela ou fazendo uma limpeza criminosa em seu terreno? Podava-a ou matava- a.
Pode ter sido tudo, menos silencioso, ao menos aqui dentro. O que não me faltaram foram argumentos nesse diálogo monológico. Lembrei-me de tudo sobre poda e plantas que já vira em minha existência: recorri a minhas lembranças de segundo grau (sim, eu não fiz ensino médio) sobre seiva e fotossíntese, tentei mensurar de forma mais ou menos lógica as perdas de líquido da árvore pelo volume de folhas que ele arrancava, repassei de cabo a rabo a música do Gil2 a procura de pistas sobre a melhor época pra poda de abacateiros. Tudo em vão.
Demorou bastante, mas em algum momento, dei com o ridículo daquela situação. Nada que o homem fazia em seu trabalho soava muito diferente de tudo que já tô acostumado aqui da minha janela. A vizinhança fica agitada logo que o dia começa a acontecer, e ele não era nem de longe uma desculpa adequada para mais um adiar a arrumação das malas.
E no fim, o belo abacateiro ficou ainda mais belo. O vizinho sabia, desde o início, o que tava fazendo, sabia onde deveria cortar. Depois, enquanto cortava os pedaços dos galhos caídos e limpava meticulosamente o terreno durante o restante da tarde, eu me resignei ao meu próprio constrangimento, sem saber se retornava ao trabalho do qual jamais deveria ter me desviado ou se dava o dia por perdido e ia ver alguma coisa na Netflix.
Mas é exatamente aí onde tá o pulo do gato! (não na Netflix, obviamente…)
Vou dar uma atenção especial para esse desvio. Recusar ao neoliberalismo foi um passo simples. Como dizer não a própria subjetividade liberal? Trabalha na tua vocação. Um desvio de atenção pode ser tomado como um problema, um defeito, que precisa ser reparado, consertado. Sim, sob todos os aspectos, um desvio de atenção é um problema para o sistema desde sua origem, e por isso sempre foi algo combatido a exaustão. No capitalismo, nem o pensamento pode ser errante.
No entanto, ainda prefiro a ousadia da recusa em jogar o habito do “ reparar no que se faz”, pra debaixo do tapete sob a alegação de “desfuncionalidade”. Fico com aquela atitude antropofágica, capaz de experimentar, num naco só, como um belo aperitivo numa tarde ensolarada de sábado, Tolkien e Freud, e a partir do gostinho, olhar pra própria prática, e ver no que dá. E avaliem comigo se não é um ótimo acompanhamento pra um cafezinho.
Como degustação, uma poesia. Não… Uma profecia, só um pequeno pedaço. E com remetente: Aragorn, o futuro rei de Gondor, da fabulosa Terra Média de O Senhor do Anéis. Mas como nem o remetente, nem o lugar onde ele supostamente viveria, existem; vamos tomar a liberdade, e as palavras do literato, como fundamento para ancorar nossa perspectiva psicanalítica. Ousado?
Nem tudo o que é ouro fulgura, Nem todo o vagante é vadio;
Em vez de lutar contra o inevitável, decidi operar num caminho oposto. Meu constrangimento bem poderia dizer mais do que aparentava. Nem todo pensamento fugidio deve ser interpretado como uma fuga, nem toda ideia errática deve ser encarada como um erro. A poda do abacateiro não precisa ser mais um adiar de todas as viagens. Pode sim se tornar um novo roteiro, para uma pequena viagem, um desvio curto em meu árduo percurso.
Um desvio de rota que precisa, antes de mais nada, se ater a um novo mapa, sob risco de cair em novo caos, que condenará para sempre esse texto em alguma pasta perdida do meu HD. Afinal, será para mim impossível me dedicar a desatar outros nós, enquanto estiver ali o “novelo dissertação” me esperando. Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Essa aventura deve ser, antes de mais nada, uma trilha em linha reta, sem desvios. Em RPG, chamamos isso de uma aventura railroad, que, ao contrário de uma aventura sandbox, se caracteriza por seguir uma sequência linear de acontecimentos, no qual a primeira cena se conecta a segunda e assim por diante. E como todo bom Mestre de Jogo sabe, isso só se torna narrativamente viável quando o objetivo da história é claro: a proposta é respeitar o pensamento vagante, e aceitar a subversão que tá parecendo conduzir-me do – trabalha na tua vocação – para o – pensa a tua vocação.
Vamos, enfim, abrir nosso mapa3:
[Cena 1] quando as primeiras palavras começam a ser escritas no caderno separado especificamente para este fim, meus olhos se desviam em direção ao barulho dos galhos do belo abacateiro descendo num estrondo pela encosta da comunidade.
Apresento-lhes o pensador que valoriza de tal forma seu próprio ofício, que sofre de uma severa irritação frente a qualquer coisa que venha lhe roubar o foco ou o tempo de estudo e de produção. Por isso, sua concentração é quebrada pela menor das distrações. Desde que ela venha da vida cotidiana das pessoas comuns. Seu ofício é tão importante, sua tarefa, tão sublime, sua missão, tão sagrada; que se torna imprescindível superar a tudo e a todos pela conclusão da demanda outorgada.
Seus estereótipos mais extremos são facilmente reconhecíveis pela história. O filósofo que interpreta textos originais gregos enquanto olha “de canto de olho” para a doxa. O monge que é atrapalhado de sua nonagésima cópia do Cidade de Deus de Santo Agostinho pela balbúrdia dos pedintes que se amontoavam aos pés da Abadia. E, numa versão mais moderna, o filho branquelo da classe média, cheio de erudição, com sérias dificuldades em resistir as explicações raciais para as desigualdades do mundo. É um tipinho tão clássico, que tem se atualizado, da antiguidade aos dias atuais, sempre lambendo o símbolo fálico, correspondente a época, da classe dominante. E, obviamente, se tornou o protótipo do pensador desejável sob a égide do capitalismo: submisso com quem paga a conta, ousado com os subalternos.
Essa acusação de adulação para com os de cima e arrogância para com os de baixo, pode parecer meio boba, mas as implicações são bem constrangedoras.
De fato, o Eu, como instância psíquica, se forma em um processo composto por duas etapas: na primeira, o que temos é uma identificação do sujeito consigo mesmo, com seu corpo, sua própria imagem, logo, uma identificação narcísica; num segundo momento enfim, nos identificamos com os objetos parentais, numa identificação propriamente objetal.
Ao contrário do que se pensa quando trazemos a nossa imagem essas figuras, o que as motiva ao isolamento e a atitude arrogante está muito longe de ser o “rei na barriga”. O que sustenta essa posição esnobe é justamente o vazio da ausência de um “pai” que diga ao sujeito que ele é um bom menino. Não se trata de uma posição narcisista, mas sim da necessidade de ser amado por quem o Princeso na Torre de Marfim acredita ser superior a ele mesmo, e que, por isso, tem o que lhe falta pra ser feliz. O Pai tá On, Bebê…
O sonho desse pensador de elite, desde Platão e sua República, é um dia tornar o saber um meio de produção4, e assim se tornar a nova classe dominante. A identificação ao Pai é sempre ambivalente: o filho, ao mesmo tempo que quer imitá-lo, quer ser como ele, quer ser ele, substituí-lo; eliminá-lo.
É o princípio que sustenta o grande ritual neoliberal que transforma o “jovem intelectual idealista” no “velho traidor”. E que explica porquê a classe média tem, historicamente, cumprido papel tão baixo de instrumento ideológico quintessencial dos donos do poder.
Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. (Evangelho de João, não lembro a referência toda.)
Não existe maior arrogância do que a do sujeito sem amor próprio.
[Cena 2] Tento me concentrar e me percebo muito mais preocupado com o abacateiro do que com o rendimento da minha tarde ou com meus grandes projetos de organização definitiva de toda a minha vida hoje.
O nosso segundo tipo de pensador é motivado por fé e paixão. Fé na verdade e paixão no seu ofício.
Como toda boa fé, a sua se sustenta para suplantar um medo primordial: a realidade é misteriosa, desconhecida, incontrolável e completamente independente de nós e da nossa vontade. Como recurso, nosso bem-intencionado pensador apela exatamente para os mesmos instrumentos dos nossos antepassados: a nomeação é a primeira forma com que buscamos controlar a realidade que se impunha ameaçadoramente sobre nossa existência. Dar nome é a primeira forma de controlar o incontrolável.
Engana-se, no entanto, quem pensa que dar nome seja reduzido a atribuir uma palavra a uma certa coisa. Nomear também é atribuir valor, atribuir qualidade. É só pensarmos na dupla nome sobrenome, compararmos rapidamente nomes tipo: Fulano da Silva e Beltrano de Matarazzo, que fica bem explicado o que quero dizer. (Valeu pelas aulas, Senhorita Bira5!)
Ao contrário do tipo anterior, não é um grupamento nada homogêneo. Nesse pequeno nicho, podemos incorporar desde ideólogos notoriamente mal-intencionados que criam narrativas sabendo a quem estão beneficiando e prejudicando, até determinados jornalistas que parecem ter faltado em massa as aulas de teoria do conhecimento, na parte em que explicam que a imparcialidade não existe, passando pelo clássico economista neoliberal com seu saber autoritário submetendo tudo a sua égide. No entanto, o arquétipo que mais se destaca no capitalismo e que tem se atualizando no tempo e no espaço é, sem sombra de dúvidas, o cientista positivista colonial. Devolva tudo que roubou Indiana Jones!
Esse medo ante a realidade ameaçadora acaba fazendo com que o olhar do nosso pensador-testemunha se desvie completamente de si e se volte totalmente, e tolamente, para a realidade, na expectativa de retirar dela uma verdade pura e límpida, e, a partir desta verdade, poder controlar a realidade inteira. Se, no caso anterior, tínhamos um falso narcisista, aqui, o que temos, é um falso altruísta. Enfim, o verdadeiro narcisismo.
O desvio do olhar de si, ao contrário do desviar do meu olhar em direção a poda do abacateiro nessa tarde de sábado, é um desviar impossível. O Eu, desde sua unificação, é primordialmente identificado com sua imagem. A realidade é sempre nomeada e valorada pelo crivo da imagem que o Eu faz de si mesmo (diga-se de passagem, da sua melhor imagem). Quando o pensador-testemunha olha para a realidade buscando nela a verdade, ele só enxerga a si próprio, afinal, ele só tá interessado é nisso mesmo...
Nesse sentido, os nomes adquirem poderes dignos da Marvel. Cristalizam em si um poder com características animistas (ou, mais precisamente, fetichistas) sobre a realidade, para então submetê-la aos desígnios do Eu. Por isso, mesmo com essas brumas narcísicas embotando de tal forma sua percepção, o Eu continua eficaz nas suas intenções de controlar a realidade através da nomeação.
Não é que a percepção do pensador-testemunha esteja falha. Não é um louco delirante. Ao contrário, em certo sentido, suas ideias sempre parecem imbuídas de um subvertido realismo. Ele vai do melhor dos mundos ao mundo possível, apela então ao mais medíocre, o recicla de forma oportunista e alegórica, e por fim, apresenta o resultado como o melhor de todos os mundos, e fabulosamente, a ideia vende!
Nomear é tudo. É muito mais importante garantir que todos tenham sua verdade do que procurar pela verdade. E torça pra que a nomeação seja suficiente para apaziguar seu medo… Talvez até o final do nosso trajeto mudemos de ideia, mas a princípio, não existe intelectual com mais sangue nas mãos que o pensador-testemunha. Nada mais a dizer.
[Cena 3] Lutei algumas horas contra o vizinho. Óbvio que não fui até lá ou qualquer coisa assim. Eu fiquei observando-o podar o abacateiro durante boa parte da tarde. Temendo a cada galho que despencava que ele não soubesse o que estava fazendo.
Esse é um tipo muito especial de pensador, que tem se tornado cada vez mais comum em tempos de neoliberalismo: o messias castrado. É mais ou menos o inverso do que apresentamos no caso do pensador-testemunha. Seria um ótimo candidato a um Eu narcisista, mas existe um porém bem significativo que impede que isso ocorra: ele teria, bem lá no fundo, vontade de ter toda autoridade pra poder conduzir o povo a seu bel prazer, só que não pode.
E por que não pode? Porque sabe que é no povo onde tá a verdade. Sabe que o que vem do povo deve ser valorizado. Que o destino da classe trabalhadora é a sua própria emancipação, e tudo isso. Sofre de fantasias autoritárias duramente reprimidas pelo seu próprio senso de justiça.
É inadmissível ao Eu lidar com o paradoxo de sustentar um código de valores que almejam a igualdade entre todos os seres humanos e ao mesmo tempo, fantasias de domínio, condução, coerção e autoridade. Acontece que, nem mesmo o sentimento de culpa que seria esperado do Eu que carrega uma fantasia que não cabe a um pensador progressista, pode ser operada de forma consciente.
Resultado: a culpa vira um desejo inconsciente de punição. O sujeito se martiriza de formas inimagináveis, ao mesmo tempo que, sempre que a situação se torna propícia, se coloca como objeto de uso e abuso da galera. No entanto, o sujeito ainda sofre passiva e individualisticamente pela incapacidade de controlar o incontrolável, e nem mesmo consegue se atentar pra isso; como é comum nas depressões contemporâneas.
Um sentimento de culpa sem uma falta real que corresponda, já que a fantasia foi afastada da consciência, se traduz num Eu eternamente consumido por uma autocritica que nunca se finda, pois nunca vai encontrar o Objeto da sua procura. Por conta disso, ao mesmo tempo que um profundo senso de realidade caracteriza o messias castrado, ou ele sofre de inibição tão violenta que não consegue elaborar absolutamente nada a partir das suas ideias, ou aprisiona sua produção num casulo em que o próprio intelectual as infertiliza de qualquer efeito que teriam sobre a realidade. Uma prece a própria inação, um ato de louvor ao gozo.
Como conteúdo manifesto, o que aparece é um certo ar de superioridade acadêmica, acompanhada de um espírito hedonista de quem não consegue levar a cabo nenhum projeto, mas que sempre orbita (e habita) os espaços de discussão mais progressistas. Suas ideias e suas intervenções nos espaços de debate e construção, tendem a carregar fortemente o conteúdo dos seus sintomas: vão de uma sequência interminável de problematizações, tão legitimas, e que demandam tão concretamente serem levadas em consideração, que nada, nenhum ato, nenhuma política, nenhuma mudança, pode acontecer – conduzir da problematização a inação é o único milagre que o messias castrado é capaz.
Enquanto tento encontrar outras das suas características, em relação óbvia com a melancolia que lhe serve de corrimão, lembro do termo usado por Freud: hemorragia pulsional. Busco por arquétipos, lembro de todo mundo junto: amigos, família, antigos professores, velhos colegas, oponentes políticos, todo mundo. Pra mim, não é uma questão de quem, mas quando. Foram quatro anos de uma ferida aberta, de uma hemorragia, escorrendo, escorrendo, escorrendo…
A fantasia não tava mais reprimida, tava escancarada a céu aberto, e nenhum de nós éramos o Eu, no Jogo, fomos feitos de Objeto. A energia necessária pra reagir? Escorrendo.
Espero que sare. Que o tempo possa, logo, logo, novamente reduzir o messias castrado a mais um dentre outros “tipos” a serem problematizados. Por agora, a hemorragia não é só um traço, nem uma simples estereotipia a ser explorada, nem mesmo um pathos demandando compreensão. A melancolização mostrou nesses quatro anos de bolsonarismo o que ser reduzido a Objeto pode fazer com uma nação. A energia pra lutar? Escorrendo.
O poeta um dia lhes desejou, ironicamente, grandeza e coragem6, entendendo que, talvez, se as possuíssem, não seriam tão caretas e covardes. Ledo engano.
Hoje, eu desejo grandeza e coragem pros meus, e eles que se fodam todos! Hoje não escorre mais.
Próxima cena.
[Cena 4] (…) recorri a minhas lembranças de segundo grau (sim, eu não fiz ensino médio) sobre seiva e fotossíntese, tentei mensurar de forma mais ou menos lógica as perdas de líquido da árvore pelo volume de folhas que ele arrancava, repassei de cabo a rabo a música do Gil a procura de pistas sobre a melhor época pra poda de abacateiros. Tudo em vão.
Sublimação! Ah, a deliciosa, delicada, almejada sublimação. O sagrado caminho que leva das faces enrubescidas e olhares famintos – de ódio ou de desejo – das estratégias mais primitivas de extravasamento dessa energia incontrolável e incontornável da pulsão, e torna magicamente toda essa coisa caótica em: literatura, poesia, romance, cultura, ciência… Muito melhor que isso, toma o naco dessa coisa que nos empanturra de tensão e angustia por não admitir satisfação possível, e a transforma em possibilidade. Ufa! Que alívio…
Desde que o Eu é Eu, a sublimação é coisa que acontece a todo tempo, a toda hora. O processo só degringola porque nunca é totalmente suficiente. Entendendo quando começa, entendemos todas as vezes em que ocorrerá dali em diante. Basta ter uma criança bem pequena mais próxima. Elas adoram presentear adultos que admiram e que querem impressionar: pode ser um desenho, um boneco de massinha, cocô. Elas entregam o presente o olham fixamente nos olhos do presenteado aguardando ansiosas, pelo que todo mundo aguarda quando presenteia alguém: ser festejado, ser reconhecido, retribuição, amor. Nesses termos, eu posso dizer sim que a Teoria da Relatividade foi a mais sublime das fezes de Einstein, e com rigor psicanalítico.
A partir daí, o Eu se inclinará para receber o reconhecimento do objeto da sua própria dedicação, do seu trabalho, da sua obra materializada no mundo. O criador tomará como se fosse para ele próprio os elogios remetidos a sua criação. Cada sinal de reconhecimento social emergirá no horizonte como um novo estimulo a criação, ao desenvolvimento, ao passo além.
O que marcará o quanto da sublimação é, de fato, sublimação, é, ao mesmo tempo; o nível de distanciamento hierárquico entre o Eu criador e o agente do reconhecimento e o nível de corporificação/coletividade do agente. Intrincado demais? Expliquemos. A identificação com os objetos parentais vai tirar o Eu do narcisismo primário que já falamos e lançá-lo na relação de amor objetal propriamente dito. Daí, o sujeito se vê impedido de acessar mesmo esses objetos parentais iniciais e precisa recorrer a objetos secundários, que serão sempre parciais, provisórios. No entanto, basta olhar pra um adolescente, um torcedor de futebol, ou militante político, pra perceber como ainda pode ser uma força muito poderosa.
Toda essa conversa pra dizer, resumidamente, que, só os objetos parentais conseguem fazer o sujeito superar o amor narcísico, só o amor por objetos secundários fará o sujeito superar a perda dos objetos parentais. E, mesmos sendo os mais frágeis, parciais e perenes, só os vínculos grupais são capazes de, não apenas superar todos os outros, como servir de alicerce estrutural sobre o qual todos estabelecerão seus fundamentos. Afinal, o que é a sociedade senão um grande “grupão”?
E o grande “bem da humanidade” é o que segura a ciência no palanque da sublimação. Dá pra perceber como tudo isso tá só um cadinho de distância de Deus, Igreja, Sacerdotes, Rituais, Domínio autoritário sobre a verdade, e todas essas coisas que a gente conhece de longa data?
Não a toa, é um lugar solitário, vazio e escuro. Ao contrário da nossa tradição filosófica, cuja metafísica era sempre correspondente a física, ou nossa tradição religiosa, em que o profetismo sempre deu um jeito de lançar a visão do ontem para o porvir, nossa ciência não pode se dar ao luxo de confiar em velhas profecias, muito menos se ancorar em analogias. Certamente, por isso, a necessidade de criar seus próprios profetas: o novo estereótipo do cientista contemporâneo não é fã de scify7? Posto pra olhar pra cima, enquanto busca referências abaixo, aliena-se absurdamente pra tudo em seu horizonte. Nossos guias são cegos! Só o futuro pode lhe servir de guia, devem ser cegos que conduzem a si mesmos em direção ao nosso destino brilhante.
A academia como um todo, mas a universidade em particular, se vê num dilema, em escala global, que não é epistemológico, é político. Entre a Astrofísica e a Microfísica, está se construindo a história da nossa extinção como espécie. Entre a Psiquiatria e a Neurologia está o sofrimento concreto, com razões e histórias reais, das pessoas de carne e osso, e os caminhões de comprimidos que hoje entorpecem a sociedade inteira8. Entre a Medicina e a Enfermagem, tem a arrogância do primeiro campo de saber que, no bojo dessa crise, já se sacerdotizou, e de um campo que nunca esqueceu de se forjar no contato real com o sofrimento de quem sofre e que é tratado, por vezes como “baixo clero”, por vezes como “coroinha”.
A universidade tem senhor, mas lá no fundo sabe a quem deveria servir.
[Cena 5] Demorou bastante, mas em algum momento, dei com o ridículo daquela situação. Nada que o homem fazia em seu trabalho soava muito diferente de tudo que já tô acostumado aqui da minha janela.
Em meio a tudo isso, encontra-se o grito inaudito do desespero do Intelectual da Janela. Pode-se vê-lo em suas tentativas sempre frustradas de nomeação e confundi-lo momentaneamente com o pensador-testemunha. No entanto, sua agonia não pode ser sanada pela linguagem, sempre existe alguma coisa que escapa. Por vezes, quando a agonia é tanta que parece perder-se em busca de soluções, pode ser confundido com o messias castrado. E não tem como dizer que ele não sofre das consequências da castração, mas o que pro Messias castrado é experimentado como evidencia do seu fracasso, pro intelectual da janela é apenas um sinal de que é necessário continuar procurando, e denunciar a plenos pulmões a insuficiência do status quo.
O que sustenta o poço de questionamento, dentro do questionamento, dentro do questionamento, do intelectual da janela, não é uma tentativa de esvaziar o debate, nem de controlar a plebe: a verdade é extraída do real na base do tapa, ou da martelada, e tudo com as melhores intenções – ou salvamos todo mundo junto ou nos matamos a todos, doa a quem doer. Lembra da lógica da inação do messias castrado? O intelectual da janela a transforma numa lâmina afiada e a estoca com força no ventre de quem a formulou, sem dó nem piedade.
Não a toa, seu desespero ante a incapacidade de encontrar respostas aos dilemas do real acaba o tornando muitíssimo seduzível por “soluções geniais”. E quando isso acontece, tudo que tem de brilhante e questionador subitamente desaparece, mediocriza- se a olhos vistos, e passa a defender ideias prontas com a mesma paixão que anteriormente criticava os mais complexos argumentos. Não é surpresa o quanto essas relações são fadadas ao fracasso, e acabam dando em términos dolorosos. Em meio a dor, eventualmente nasce uma rosa – quem não se lembra da relação conturbada de Tim Maia com o Universo em Desencanto, que acabou culminando na maior obra da sua carreira? Parece que a capacidade de subversão do intelectual da janela resiste arduamente aos seus próprios boicotes.
Eu juro pra todo mundo que se dispuser a ler essas linhas, eu não sabia bem porque o nome dessa criatura veio a calhar de ser intelectual da janela9. O nome se impôs tão forte que deixei que ficasse ali, de forma mais ou menos impensada, até que chegasse a hora de tirar os motivos da gaveta.
Agora, porém, o nome me parece fazer um sentido tão implacável que chega a, honestamente, me doer. O que tem infertilizado toda potencialidade revolucionária do intelectual da janela, não tem sido outra coisa, além do enclausuramento em si mesmo. Retiraram o chão de fábrica da jogada, quebraram e desacreditaram os sindicatos, mercantilizaram os vínculos de solidariedade mais profundos, incluindo, no bojo, as próprias religiões. Até a praça pública padece sob uma nova arquitetura, que além de aporofóbica, prioriza os passantes, não os ficantes. Só restou ao nosso órfão de si, as marcas de si mesmo como uma janela para sua própria individualidade10.
Ele ia andando pela rua meio apressado Ele sabia que tava sendo vigiado Cheguei para ele e disse
Ei amigo, você pode me ceder um cigarro Ele disse
Eu dou, mas vá fumar lá do outro lado Dois homens fumando juntos
Pode ser muito arriscado (Linha 743, Raul Seixas)
E olha que maldade! É uma janela que serve muito bem. Para todos os efeitos, da mesma forma como nos utilizamos das experiências primordiais como alicerces para todas as outras, é também possível reduzir toda a realidade sob a alegoria do Eu narcísico mais primitivo, mesmo essa recusa subversiva em admitir o inadmissível cabe todinha no Eu. O debate de ideias deixa de remeter a coletividade e passa a reificar o indivíduo, industrialmente. Mesmo os grupamentos políticos deixam de significar um respiro de paciência em nome da conciliação possível em função dos interesses gerais em comum, que conduzia a ação política, e torna-se um monte de espelhos de mim mesmo, onde ouço minhas próprias ideias, entre pessoas que pensam como eu, falam como eu e agem como eu.
Agora está tudo, literalmente, em casa: minha militância política confunde-se com a minha personalidade, que confunde-se com as minhas ideias, que confundem-se com a minha aparência, que confundem-se com o meu gênero, que confunde-se com as minhas relações pessoais mais íntimas. No entanto, o Eu não vê confusão, apenas uma grande e harmônica fusão alquímica onde todas as partes estão encaixadas de forma cabalisticamente perfeitas, e correspondem a realidade inteirinha.
O que está em cima é como o que está em baixo, o que está em baixo, é como o que está em cima (Hermes Trismegistus, O Caiballion)
O intelectual moderno se vê indeciso ante as encruzilhadas da fé, mais uma vez. O rito da nomeação adquire novos contornos, no entanto, agora estão a serviço da alienação da realidade material. O resultado é visível a olhos nus: se eu domesticar toda a minha vizinhança a usar o pronome neutro, a nova semântica racial da estação, os novos termos para se referir a cada forma diferente com que se grita “ai” quando o martelo bate no dedão, então terei deixado a minha parte na mudança que o mundo precisa. Fome? Pobreza? Exploração? Não minimize minha dor!
Se a Revolução proletária não dá pé, então talvez uma Revolução semântica cole…
Seja a mudança que você quer ver no mundo.
[6 Cena] Mas é exatamente aí onde tá o pulo do gato! Vou dar uma atenção especial para esse desvio.
Desde que resolvi dar atenção ao desvio, não foi um texto nada fácil de elaborar. Confesso que tive muito pouco controle sobre a forma como ia organizar as cenas, como ia apresentar os pensadores… Na verdade, eu não sabia nada. Só tinha, pra me ancorar, aquela primeira narrativa, e fui por ela até aqui, até esse ponto.
No entanto, um outro desvio precisa, agora, no fim da jornada, também ser levado em consideração. Ainda no domingo a tarde, meu vizinho resolveu que o trabalho ainda não estava encerrado, que precisava de mais. Não chegou a arruinar a árvore, mas do trabalho simétrico e equilibrado que tinha conseguido no sábado, pouca coisa sobrou. Ele rapelou com força o coitado do abacateiro. E dessa vez eu nem mesmo testemunhei o absurdo, cheguei e a violência já havia sido cometida.
Pior ainda, acabei percebendo que o vizinho só se preocupou, de fato, com manter a parte das folhas que estavam ao lado da sua propriedade, e também não se importou nada em retirar os galhos que caíram espalhados pela ribanceira. O trabalho meticuloso de limpeza se restringiu apenas ao seu quintal. Deixou a impressão de querer monopolizar os frutos, que agora, obrigatoriamente cairão em sua propriedade. Talvez pense em vendê-los na próxima estação.
No contexto da jornada, as implicações desse novo desvio não podem ser deixadas de lado. Até então a perfectibilidade da poda de sábado havia deixado no ar um certo ar de “bom selvagem” no pior sentido de Rousseau, que sempre constrange o intelectual com saber puro e imaculado e uma sabedoria ímpar, a partir de uma vivência intocada pela vileza da “civilização”. Um espírito fundamentalista paira sobre as águas. Se tu não sofres, tu não falas. Mesmo que dediques toda sua infeliz existência pesquisando o fenômeno em questão. Não fale! Tu não sofre! O “bom selvagem” é quem, agora, reivindica a sua própria pureza, a exclusividade do saber sobre si mesmo, e o silêncio de qualquer que ouse discordar.
Não me parece nada decolonial. Atemora-se da ideia de vanguarda, de liderança, de representação, de organização. E mais uma vez, é a velha posição de subalternidade filial que pede respeito e reconhecimento quando devia tomar a tudo que lhe está sendo espoliado. Não quero vilanizar nosso trabalhador, como não quis até aqui, moralizar nenhuma das cenas que foram se descortinando no andar da nossa carruagem. O que fica de mais marcante é que, tanto eu preciso da concretude da ação revolucionária do trabalhador, que não faz a mínima ideia disso, como ele precisa da concretude do meu saber para poder organizar a ação revolucionária.
O intelectual necessita do saber da classe trabalhadora pra poder tocar na praxis e se construir a partir do coletivo, e a classe trabalhadora precisa do intelectual como instrumento de resistência contra a ideologia. A ideologia leva o intelectual a inação por ambição e arrogância, e o trabalhador a inação por ilusão do futuro melhor sob o capital. Precisamos muito um do outro.
Em meio a toda essa elaboração, me vem, como num lampejo, um insight. Sabe o que me soa bem decolonial? Acabar com essa barreira que separa intelectual de trabalhador, como se tratasse, mesmo que, em largo, de uma relação tal qual O Senhor e o Escravo de Hegel. Não se submeter a posição de Indiana Jones é o primeiro passo pra qualquer discussão possível sobre o papel revolucionário do intelectual. Ou melhor, é o primeiro passo pra qualquer intelectual que tenha pretensão de deixar alguma mudança que seja, na sua realidade concreta.
Não a toa me é tão incômoda a posição de subalternidade da reivindicação de reconhecimento do “bom selvagem”. Ora bolas! EU SOU O BOM SELVAGEM. Sou eu o cucaracha a quem o “mundo civilizado” apreensivamente observa ansiando que permaneça bom. E de quem o Comunista Europeu anseia que se revolte e revolucione o sistema enquanto ele o assiste, de camarote, “cair de velho” chafurdado nas próprias contradições. Que contradições? Eu aqui.
Eles batem palmas pra maluco dançar… Sabe quem é o maluco? Somos nós!
No fim, sabe quem não tá na história? O acionista da CSN que determina diretamente a qualidade e a oferta dos empregos de Volta Redonda, nem o buraco que a privatização da Usina deixou em todos os serviços públicos e na economia da cidade, que produziu uma intensa onda de favelização, empobrecimento, somados a desassistência endêmica, e que fez com que as comunidades descessem as encostas e cercassem de casas o lindo abacateiro. E o aumento absurdo que tudo isso produziu sobre o valor dos aluguéis, que me levaram a morar na rua de baixo. No fim, como não poderia deixar de ser, foram as condições materiais concretas que aproximaram o intelectual, que pôde enfim, se ver trabalhador, e o trabalhador, que tem se visto empreendedor.
Com grandes saberes vem grandes responsabilidades. Não, tio Ben, esse não é um mundo de superpoderes.
A dona aranha subiu pela parede
Veio a chuva forte e a derrubou
Ou o Eu ruma pro Nós, ou sempre estará derrubado.
Precisamos criar um saber que se debruce sobre o sofrer do outro sem medo, sem remorso por não senti-lo, e sem vergonha por isso. Que não se identifique com os de cima como estratégia pra se distanciar e se proteger do sofrer sobre o qual se debruça.
Nem que se atemore ante a possibilidade de se identificar com o sofredor e se ver na responsabilidade de ter que fazer algo.
Temos muito a aprender com os enfermeiros.
1. A referência não é gratuita: no domingo, dia 23 de julho de 2023, estava acontecendo manifestação na cidade contra a poluição da CSN.
2. Juro que, por um milésimo de segundos, pensei na possibilidade de fazer um intercambio. Será que cabia trazer pra cá a Refazenda? Mas depois de repassar a letra toda, me recolhi a minha insignificância e não ousei tentar.
3. O roteiro dessa pequena viagem tem três regras: nenhum livro pode ser aberto durante sua produção (ou seja, com exceção do poema de Pessoa, todas as referências são de memória), o direcionamento das cenas vai ser estritamente seguido, e, porém, vamos dar particular atenção a “pensamentos vagantes”.
4. Desde o fascismo e o nazismo, passando pelo autoritarismo neoliberal, é fácil perceber como esse mecanismo pode se dar de forma invertida: a ignorância também pode ser feita num meio de produção de valor, talvez não de valor material per se, mas certamente de valor político.
6. Blues da Piedade, Cazuza
7. Um fenômeno que merece destaque aqui é o efeito Asimov entre cientistas envolvidos com robótica. Apesar de não ter valor científico concreto, e nem mesmo aparecer nas pesquisas ou artigos acadêmicos sobre o tema, existe uma certa “certeza nunca dita”, de que não é necessária muita preocupação quanto a um possível “domínio das máquinas” por causa das três leis da robótica, estabelecidas por Isaac Asimov, um escritos de literatura fantástica!
8. Parafraseando Marx: A medicalização psiquiátrica é o novo ópio do povo.
9. Num primeiro momento, me lembrei do clássico espírita Violetas na Janela, nunca li, e, honestamente, não sei bem porque lembrei. Não faz nenhum sentido pra mim a conexão com o espiritismo, mas como a regra é levar em conta os pensamentos vagantes, fica o registro.
10. Excelente laboratório de movimento político capaz de esvaziar a si mesmo de sua potência política quando foi “enjanelado” é o movimento hippie.