A história e os fatos que estamos vivendo mostram-nos claramente que o velho paradigma baseado na competitividade e no lucro é obsoleto. De fato, a prosperidade só é verdadeira se for inclusiva. Eis então que, a partir de agora, o caminho para um futuro não só feliz, mas também possível, é aquele em que a cooperação, o diálogo e os bens comuns são as diretrizes a seguir. Só assim poderemos colocar verdadeiramente no centro a dignidade humana e a saúde do planeta.
Carlo Petrini, La Stampa / IHU-Unisinos, 22 de abril de 2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Todos os anos, neste dia de primavera do hemisfério norte, é celebrado o Dia Mundial da Terra. Um aniversário que nos lembra para ter cuidado e atenção pelo planeta que nos hospeda, e que este ano gostaria que fosse acompanhado por um sentimento de regeneração. De fato, concordo com aquela parcela cada vez mais ampla do mundo científico que afirma que a explosão da pandemia foi uma espécie de resposta biológica com a qual a nossa Mãe Terra tentou abrir nossos olhos para as consequências do nosso sistema consumista, sobre a profunda interconexão de tudo e a comunhão de destino da qual ninguém pode escapar. Portanto, o florescimento da natureza circundante deve andar de mãos dadas com o florescimento nas mentes de novos valores e comportamentos que acolham o apelo do planeta e enfrentem os problemas que nos esperam.
Vamos responder às mudanças climáticas de forma coerente e rápida? Vamos construir um modelo de desenvolvimento regenerativo? Vamos descontinuar o atual sistema agrícola dependente de insumos químicos e alto consumo de energia para praticar uma agricultura atenta aos recursos, à biodiversidade e aos ecossistemas? Adotaremos estilos alimentares conscientes, que, por exemplo, escolham carnes com menos frequência e com mais cuidado? Criaremos uma sociedade mais justa? Temos os conhecimentos para agir neste sentido, agora também devemos ter a vontade de transformá-los em ações.
A história e os fatos que estamos vivendo mostram-nos claramente que o velho paradigma baseado na competitividade e no lucro é obsoleto. De fato, a prosperidade só é verdadeira se for inclusiva. Eis então que, a partir de agora, o caminho para um futuro não só feliz, mas também possível, é aquele em que a cooperação, o diálogo e os bens comuns são as diretrizes a seguir. Só assim poderemos colocar verdadeiramente no centro a dignidade humana e a saúde do planeta.
Permitam-me agora dar alguns exemplos para que as minhas palavras não pareçam palavras ao vento, mas sim instâncias concretas que devem tornar-se cada vez mais numerosas. Nos últimos anos, aumentaram as feiras de produtores, os grupos de compras e outras formas de distribuição alternativas àquela organizada, que favoreceram a criação de relações e momentos de diálogo entre produtores e consumidores, com maiores ganhos para os primeiros e um custo praticamente inalterado para os segundos, mas com produtos sazonais mais frescos que não viajaram inúmeros quilômetros. Cooperação, transparência e solidariedade são necessidades que cidadãos cada vez mais responsáveis e informados vão pedir enfaticamente, mesmo aos grandes retalhistas e ao setor online, que registra taxas de crescimento impressionantes. Nesse caso, é a empresa individual que tem que garantir práticas que respeitem o meio ambiente e os trabalhadores, colocando assim o maior poder de que dispõe no mercado a serviço da cadeia de abastecimento.
Num sistema interligado, de fato, nenhum ator é mais importante do que o outro e, portanto, o valor só é verdadeiro se os recursos, instrumentos e conhecimentos forem compartilhados igualmente entre todos. Escolas, prisões, terras confiscadas das máfias e periferias das cidades são outros locais onde, através da agricultura social, está ocorrendo essa mudança de ritmo. Aqui, o alimento torna-se um bem comum, promove o convívio e torna-se um instrumento de emancipação para as camadas mais frágeis da população. Estas aqui listadas são transformações de baixo, mas quando são apoiadas pela política (europeia neste caso), e se tornam parte do novo acordo verde, da estratégia pela biodiversidade ou da estratégia pela alimentação, bem, então talvez o caminho seja justamente aquele certo. Já falei de alimento, mas a transformação será tal se este pensamento ecológico e de humana cooperação contaminar todas os âmbitos da nossa vida, adquirindo um valor social, ético e político. Só assim podemos dizer que aprendemos a lição que o Terra Madre tragicamente nos ensinou com a pandemia. Só assim salvaremos a humanidade e outras espécies vivas da extinção.
Carlo Petrini é fundador do Movimento Slow Food, ativista e gastrônomo, sociólogo e autor do livro Terrafutura (Giunti e Slow Food Editore), no qual relata suas conversas com o Papa Francisco sobre a "ecologia integral” e o destino do planeta.