Do Setorial Ecossocialista da Insurgência de SP
Estamos em pandemia de coronavírus. Uma pandemia é a interrupção do funcionamento normal da sociedade. Na Gripe Espanhola de 1918, cinco por cento da população mundial foi dizimada, e isso pode se repetir nesse momento. A resposta dos governos globais, hoje, é lidar com a questão para tentar evitar que tenha uma repercussão econômica negativíssima. Todavia, uma das medidas de segurança para evitar-se contágio é evitar aglomerações, por exemplo, nos locais de trabalho.
A Gripe Espanhola foi o primeiro detonador da globalização e, em seguida, com a Queda da Bolsa de Nova Iorque de 1929, houve uma desglobalização, no sentido da desindustrialização. A economia foi destruída com essa pandemia, com a crise da Bolsa, depois, com duas guerras mundiais, em seguida a invasão japonesa da China entre vários acontecimentos conjunturais de relevância. Devemos ler a pandemia do coronavírus e a possível recessão global nesse movimento de destruição e reconstrução do capitalismo. Mais recentemente, nessa retomada histórica, a crise de 2008 abriu um período de longa estagnação do capitalismo e a eleição de Trump e Bolsonaro deixaram claro: à crise global do capital ecocida e genocida, agora é cada um por si.
O coronavírus é um vírus, uma questão ecológica de primeira grandeza. Na sociedade capitalista de hoje está tudo interconectado e, na discussão de biologia que realizamos, é necessário desglobalizar, no sentido de impedir a troca biológica na quantidade que se dá hoje entre países e locais da Terra. Nesse sentido, é válido questionar a necessidade de alguns costumes da sociedade de hoje, como as viagens internacionais em larga escala do turismo global.
Nesse sentido da despoluição e do decrescimento, o coronavírus pode ser positivo na medida em que vai consistir de um experimento ecológico em escala global. Num artigo sobre as emissões na China durante o surto do vírus, ressalta-se que, apesar das mortes pelo coronavírus, morreu-se menos no total por conta da menor emissão de poluentes. O que está em aberto é o custo humanitário do coronavírus e a direção que a sociedade global vai tomar durante e após a pandemia.
Na Itália, a taxa de mortalidade é de 6% enquanto que na Coreia do Sul, de 0.6% uma razão para isso pode ser que, nesse país houve um investimento massivo em saúde no último período. Vários compromissos mundiais, em escalas diversas, em diversos países estão sendo suspensas. No caso dos países em específico, há medidas restritivas de deslocamento relacionadas a uma quarentena. Na Itália para sair de casa é necessária uma autorização. No Distrito Federal brasileiro, por exemplo, as aulas estão suspensas por cinco dias, assim como concertos de música, eventos religiosos e outros eventos. O Birô da Quarta Internacional suspendeu sua reunião que aconteceria nessa semana.
Inicia-se o outono e o inverno no Hemisfério sul e isso vai ser um fator de potencialização da epidemia de coronavírus. A antecipação da campanha vacinação para do governo brasileiro para 23 de março de 2020 é uma tentativa de racionalizar o diagnóstico, descartando a possibilidade de Influenza e Gripe quando advirem indivíduos com os sintomas relacionados a esse grupo de doenças, e, a partir daí, facilitar o diagnóstico do coronavírus. Essa é uma doença que aumenta em gravidade com a idade e possui fatores agravantes para dificuldade de coagulação, diabetes, hipertensão, imunossupressão, entre outros. A população mais velha vai sofrer mais e morrer mais.
Há um e meio estamos vivendo um inferno militante no Brasil com a eleição de Jair Bolsonaro. Diante da regressão do campo progressista, uma virada conjuntural como essa crise global – associada à crise do petróleo, assunto que diz respeito também ao ecossocialismo – ao derrubar as bolsas do mundo inteiro nessa semana, pode ser uma chance para nós ecossocialistas.
Essa chance pode ser aproveitada na medida em que a esquerda dê a atenção devida ao assunto e entenda a gravidade da pandemia de coronavírus, uma questão da crise ecológica. Provavelmente nossos planos imediatos de disputas partidárias, de construção de movimento de curto prazo, todas elas cairão por terra, porque, simplesmente, a vida não vai continuar como é.
Está em aberto se a extrema-direita vai se utilizar da questão para reforçar seus sistemas de necropolítica, vigilância e repressão ou se a esquerda vai potencializar o debate em torno dos sistema públicos, universais e gratuitos de saúde pública. Organizar as vítimas do coronavírus em torno de uma mobilização pelo Sistema Único de Saúde (SUS) universal, de qualidade, para todos e gratuito pode ser uma das táticas corretas para esse momento.