“A natureza é uma aliada chave. Onde for que nós a restaurarmos, ela ajudará a recapturar carbono e nos ajudará a trazer de volta o equilíbrio para o nosso planeta. E enquanto nós trabalharmos para um mundo melhor, nós devemos reconhecer que nenhuma nação completou seu desenvolvimento, porque nenhuma nação avançada é sustentável. Todos nós temos uma jornada a fazer para que todas as nações tenham um bom padrão de vida e uma modesta pegada ecológica. Nós todos, novamente, vamos aprender juntos como alcançar isso”
David Attenborough, naturalista, documentarista e jornalista, na COP26, 02-11-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Excelências, delegados, senhoras e senhores
Enquanto vocês passarão as próximas duas semanas debatendo, negociando, persuadindo e se comprometendo – como devem fazer – pode ser fácil esquecer que, por fim, a emergência climática se reduz a um simples número: a concentração de carbono em nossa atmosfera.
A medida que majoritariamente determina a temperatura global e as mudanças nesse número é a forma mais clara de desenharmos nossa própria história. Para definirmos nossa relação com o nosso mundo.
Por muito tempo da história antiga da humanidade, esse número saltava de 180 a 330 partes por milhão. E também as temperaturas globais. Esse era um mundo brutal e imprevisível. Há tempos nossos ancestrais existiam apenas em um pequeno número. Mas há 10 mil anos esse número subitamente estabilizou e, com isso, o clima da Terra. E nós nos encontramos em um incomum período benigno com estações previsíveis e clima confiável.
Pela primeira vez foi possível estabelecer civilizações, mas nós não aproveitamos o tempo para tirar vantagem disso. Tudo que nós conseguimos nos últimos 10 mil anos foi possível pela estabilidade durante esse tempo. A temperatura global não subiu mais que 1 °C nesse período. Nós estamos queimando nossos combustíveis fósseis, destruindo a natureza, nossa abordagem para indústria, construções e o ensino estão soltando carbono na atmosfera em um ritmo e escala sem precedentes. Nós estamos realmente em problemas. A estabilidade que todos nós dependemos está quebrando.
Essa história é uma das desigualdades assim como a instabilidade. Hoje, aqueles que menos fizeram para causar esse problema são os mais atingidos por ele. Ultimamente nós estamos sentindo o impacto do que agora é inevitável.
É assim que nossa história deve terminar? Uma história da espécie mais inteligente condenada por aquela característica tão humana de não conseguir ver o plano maior na busca de objetivos de curto prazo. Talvez o fato de que as pessoas mais afetadas pela mudança climática não pertençam às futuras gerações imaginadas, mas são os jovens que vivem hoje, talvez nos dando o ímpeto que necessitamos para reescrever nossa história. Transformar essa tragédia em triunfo.
Nós somos os maiores solucionadores de problemas que já existiram na Terra. Nós agora entendemos os problemas. Nós sabemos como parar o aumento desse número e como fazê-lo retroceder. Nós precisamos recapturar bilhões de toneladas de carbono do ar. Nós precisamos ajustar nossas metas para manter-se a 1,5 °C dentro de uma nova revolução industrial, fortalecida por milhões de inovações sustentáveis. É essencial, e de fato já está começando. Nós todos compartilharemos os benefícios de uma acessível energia limpa, ar saudável e comida suficiente para sustentar a todos.
A natureza é uma aliada chave. Onde for que nós a restaurarmos, ela ajudará a recapturar carbono e nos ajudará a trazer de volta o equilíbrio para o nosso planeta. E enquanto nós trabalharmos para um mundo melhor, nós devemos reconhecer que nenhuma nação completou seu desenvolvimento, porque nenhuma nação avançada é sustentável. Todos nós temos uma jornada a fazer para que todas as nações tenham um bom padrão de vida e uma modesta pegada ecológica. Nós todos, novamente, vamos aprender juntos como alcançar isso, assegurando que ninguém ficará para trás. Nós precisamos usar essa oportunidade para criar um mundo mais igual e nossa motivação não pode ser o medo, mas a esperança.
Isso vem das pessoas que vivem hoje, para as gerações vindouras que olham para essa conferência e consideram apenas uma coisa: esse número parar de crescer e começar a cair como um resultado de compromissos feitos aqui. Há toda razão para acreditar que a resposta pode ser sim. Se trabalhando separados, somos poderosos o suficiente para desestabilizar esse planeta. Certamente, trabalhando juntos, nós somos poderosos o suficiente para salvá-lo.
Em minha vida, eu testemunhei um terrível declínio. Nas suas, vocês podem e devem testemunhar uma recuperação maravilhosa, que desperte esperança.
Senhoras, senhores, delegados, vossas excelências. É por isso que o mundo está olhando para vocês, e por isso que vocês estão aqui. Obrigado!