Sergipe, 11 de julho de 2022. Por Ana Carolina Santana Quintiliano*.
É rotineiro, quando se aproximam as eleições, que movimentos sociais e setoriais temáticos do partido apresentem documentos com propostas para seus pré-candidatos/as/es. Desde que a temática do “ecossocialismo” começou a ficar mais visível dentro do PSOL, temos assistido a uma “corrida” para que nossos quadros e figuras públicas falem do tema, em especial quando estamos em período de disputa eleitoral. Mas é importante que nos perguntemos: quanto do ecossocialismo cabe nas eleições burguesas?
Antes de se tentar responder essa pergunta, uma verdade deve anteceder a essa resposta: é IMPOSSÍVEL que se fale de ecossocialismo sem que se fale de anticapitalismo e de socialismo. Qualquer tentativa de enumerar “propostas ecossocialistas” sem falar de rompimento com práticas capitalistas e de luta de classes é farsa, daquelas que se produz em período eleitoral para que se caiba bem dentro de panfletos de campanha política partidária.
O campo das “propostas” eleitorais, por sua vez, é muito pequeno para acomodar tudo o que significa o ecossocialismo. Falar de ecossocialismo em 2022, em um mundo de exaustão mental, exaustão física, excesso de trabalho e de relações sociais eivadas de práticas neoliberais (inclusive dentro dos movimentos e partidos de esquerda) é falar, antes de tudo, de rompimento com padrões civilizatórios e rompimentos (em pequena e larga escala) com o capitalismo e com os valores e práticas que ele representa, como o individualismo e a meritocracia. (Continua nos comentários) 35 min Foto do perfil de carolina.quintiliano carolina.quintiliano O Ecossocialismo se apresenta como proposta que transcende os limites do pragmatismo desenvolvimentista que tem norteado os debates sobre desenvolvimento sustentável.
Ele vai além. Ele nos convida todo o tempo a uma “ética ecossocialista”, sinônimo de rompimento com os alicerces da sociedade, questionando nossas maneiras de pensar e viver nossas vidas, combatendo a lógica do individualismo e de promoção de uma sociedade produtivista. Esse rompimento, camaradas, não irá ocorrer pela via eleitoral. Como disse Rosa Luxemburgo, “Socialismo não pode ser decretado ou introduzido por decreto”. Atualizando Rosa, teríamos a frase “(Eco)socialismo não pode ser decretado ou introduzido por decreto.” O máximo que o ecossocialismo consegue se aproximar da disputa eleitoral burguesa é quando ele pode ser a base de um processo de democracia participativa, em que a própria comunidade, norteada por critérios exteriores ao mercado capitalista, como necessidades reais (moradia, transporte, saúde, educação etc) e equilíbrio ecológico, defina investimentos e prioridades.
Obviamente, o partido político é a ferramenta inserida no estado liberal burguês que torna possível a disputa dos espaços legislativos e executivos nesse mesmo estado. Sob essa ótica, as eleições burguesas são campo de disputa prioritária para a ferramenta partidária. O grande erro, contudo, é considerar que as eleições burguesas, do ponto de vista político e organizativo, sejam o único canal de disputa para o ecossocialismo. No atual cenário, a existência de uma crise ecológica irreversível e grave em curso no mundo é incontestável.
A consciência desta irreversibilidade deve suscitar em nós, militantes que se reivindicam ecossocialistas, radicalidade nas proposituras contra o sistema capitalista. Como diz o xamã yanomami Davi Kopenawa, para evitarmos “a queda do céu” devemos superar o capitalismo e sua lógica de morte e destruição.
*Ana Carolina Santana Quintiliano é militante da Insurgência, integrante da coordenação nacional do setorial ecossocialista do PSOL. Militante ecossocialista do PSOL/S