É difícil dizer se os jovens que foram às ruas contra o Fundo Monetário Internacional ou a Organização Mundial do Comércio entre 1999 e 2003 foram influenciados pelo livro de Naomi Klein ou se a escritora foi influenciada pelos protestos que naqueles anos estavam começando a ocupar as praças do planeta. É certo que ambos revelaram a formação das cadeias globais de produção e a dupla exploração que, nos países ricos, exalta as marcas e empobrece cada vez mais os já pobres. Esse movimento altermundialista criou as bases para a revolta atual dos seguidores ainda mais jovens de Greta Thumberg em defesa do planeta.
Ritanna Armeni, Rocca, abril de 2021. Tradução de Luisa Rabolini.
Não haveria Greta Thumberg se não fosse por Naomi Klein. A ativista sueca, que convocou um movimento juvenil mundial contra as mudanças climáticas e que hoje guia milhões de jovens no planeta, não poderia ter divulgado sua opinião com tanta força se, há pouco mais de vinte anos outra mulher, também jovem, também interessada no destino da terra e seus habitantes, não tivesse publicado um livro que se tornou em poucos meses o maior ato de acusação contra o capitalismo e contra seu novo modo de ser, "a globalização". Estamos no limiar de 2000 quando no Canadá Naomi Klein, família burguesa e progressista com experiências jornalísticas limitadas, mas importantes, publica o livro "No logo" que, em pouco tempo, se torna um best-seller internacional, traduzido em 30 países, mais de um milhão de cópias. Como se explica no início o sucesso de uma escritora desconhecida? Provavelmente porque denuncia e permite ver algo que estava ali sob os olhos de todos e que, precisamente porque era difundido, evidente e pervasivo, era difícil de identificar até mesmo pelos analistas mais competentes.
O capitalismo - diz Klein - mudou radicalmente, enquanto até a década anterior era central a produção de bens, portanto a relação com a sua materialidade, o seu custo, agora se tornou fundamental o branding, o logo, a marca, a publicidade tornou-se um valor imaterial mas para o qual convergem imensos recursos e sobre o qual se joga o sucesso no mercado. Naomi Klein é a primeira a ver e descrever o que ainda hoje está sob os olhos de todos. As grandes marcas, Mc Donald, Shell, Adidas, Nike, Marlboro, Coca Cola, revolucionaram sua relação com o cliente, criando um vínculo que passa pelo condicionamento e conquista psicológica. Um jovem se sente importante quando usa um tênis Nike ou uma camiseta Adidas, a Coca se torna um estilo de vida, a Starbucks um sinal de modernidade e inovação. As multinacionais entram por meio de novas e extraordinárias capacidades publicitárias na existência de muitos, criam valores, modificam a abordagem ao mundo, apoderam-se de espaços públicos e privados, direcionam aspirações, criam desejos. O novo capitalismo não se contenta em se apropriar do trabalho, mas também quer a alma e a vida. Ele não quer apenas satisfazer desejos e necessidades.
Ele quer determiná-los, até mesmo criá-los. Uma crítica global da forma de produzir e consumir. Só assim pode pensar em se expandir e ter novos lucros.
Mas como se conseguem as enormes quantias de dinheiro necessárias para conquistar as almas dos países ricos e consumidores? Klein investiga mais e responde: dos maiores lucros que vêm do trabalho, dos corpos, do esforço e da exploração dos habitantes de países pobres onde não existem leis que protegem o trabalho e seu custo é muito baixo: Vietnã, China, Turquia , Índia, Marrocos, Europa Oriental, salários de fome, horas extenuantes, nenhum sindicato, nenhuma proteção. Ideal para produzir a baixo custo, vender com grandes margens de lucro, financiar as grandes campanhas que conquistam, prometem modernidade, satisfação e felicidade.
Naomi Klein não se limita a denunciar.
Ela examina, descreve, conta, documenta. Em seu livro, a aldeia global é pela primeira vez descoberta e dissecada em todas as suas partes. E No logo se torna o manifesto do movimento no global. Porque isso acontece no início do segundo milênio: junto com a globalização nasce um movimento que se opõe a ela. Não é, como argumentam até os partidos e sindicatos dos países avançados, o bem possível, uma mudança que, devidamente orientada, traz riqueza para todos. É apenas um sistema de exploração mais amplo e radical.
É difícil dizer se os jovens que foram às ruas contra o Fundo Monetário Internacional ou a Organização Mundial do Comércio no início do milênio foram influenciados pelo livro de Naomi Klein ou se a escritora foi influenciada pelos protestos que naqueles anos estavam começando a ocupar as praças do planeta. É certo que ambos revelaram a dupla exploração, aquela que se espalha nos países ricos, pela exaltação da marca e aquela que empobrece cada vez mais os já pobres. E que o livro de Naomi Klein deu lugar a uma crítica global do modo de produzindo e de consumo A exploração e a falta de cuidado com a Mãe Terra. Foi tão global que nos anos seguintes não se limitou a descrever os sistemas de exploração de homens e mulheres, mas examinou aquele - igualmente grave - do planeta. Um fio vermelho liga a luta contra a globalização das empresas àquela contra a poluição, a exploração ilimitada de recursos, a falta de cuidado com a Mãe Terra. Os garotos e garotas que protestaram no início de 2000 criaram as bases para a revolta dos ainda mais jovens seguidores de Greta em defesa do planeta, que também foi atingida pelos superlucros, pelo abandono e pela exploração.
Naomi Klein com seu No Logo semeou bem, nos tornou mais vigilantes, menos seguros dos benefícios absolutos do progresso, mais cautelosos com a publicidade e os meios de comunicação de massa. Contra o consumismo em favor do 'civismo'.
O que a escritora diria hoje diante da pandemia que está abalando o planeta? Há alguns anos, ela falou sobre a ascensão do capitalismo dos desastres e da economia de choque e explicou: "A doutrina do choque é a estratégia política de usar a crise em grande escala para implementar políticas que sistematicamente aumentam as desigualdades, enriquecem as elites e cortam todos os demais". É possível" porque em tempos de crise as pessoas tendem a se concentrar na emergência cotidiana da sobrevivência à crise, seja ela qual for, e tendem a depositar excessiva confiança no grupo de poder”. Ela está certa de novo?