Mais de metade de uma amostra de pessoas infetadas pelo novo coronavírus e que se curaram tiveram posteriormente perturbações como stress pós-traumático, ansiedade, insónias, depressão ou sintomas compulsivos, segundo observaram especialistas da Universidade de San Raffaele, de Milão.
Esquerda.net, 5 de Agosto, 2020
55% das pessoas de uma amostra de 402 pacientes adultos que tinham sofrido de covid-19 apresentavam, cerca de um mês volvido, sintomas de, pelo menos, uma perturbação mental. Este é o resultado de um estudo(link is external) que foi publicado esta segunda-feira no jornal acadêmico Brain, Behavior and Immunity por especialistas da Universidade de San Raffaele, de Milão.
Os autores explicam que a covid-19, “tal como outros coronavírus, está associada a implicações psiquiátricas”. Em surtos de coronavírus anteriores, tinham-se medido entre 10 a 35% de casos de perturbações pós-cura. E, através de entrevistas clínicas e de baterias de questionários, testaram condições como a perturbação de de stress pós-traumático, a depressão, a ansiedade, a insónia e sintomatologia obsessivo-compulsiva. 28% das pessoas reportaram sintomas de stress pós-traumático, 31% de depressão, 42% de ansiedade, 20% de perturbação obsessivo-compulsiva, 40% de insónia. Mais de metade declarou assim ter pelo menos uma destas condições.
Apesar de ressalvarem que o historial psiquiátrico, o seu enquadramento e a duração da hospitalização influenciaram a psicopatologia, os autores sublinham ainda que as mulheres “sofreram mais do que os homens, tendo resultados mais elevados em todos os marcadores”, sobretudo no que diz respeito à ansiedade e depressão.
O estudo liderado por Mario Gennaro Mazza não apresenta conclusões definitivas sobre as causas de tal aumento das perturbações do foro mental. Avança que podem ser causadas “pela resposta imune ao próprio vírus ou por condições stressantes como o isolamento social, o impacto psicológico de uma doença nova, severa e potencialmente fatal, preocupações com infetar outros e estigma”. Uma tendência detetada foi que pacientes externos tinham mais ansiedade e perturbações de sono, ao passo que havia uma “correlação inversa” entre duração da hospitalização e perturbações de stress pós-traumático, depressão, ansiedade e transtornos obsessivo-compulsivos. Sugere-se que “menos cuidado de saúde pode ter aumentado o isolamento social e a solidão típica da pandemia da covid-19.”
O que é certo para os investigadores é que, um vez que estas condições implicam um “fardo elevado” e considerando o “impacto alarmante da infeção da covid-19 na saúde mental, “é necessário diagnosticar e tratar sequelas psiquiátricas em sobreviventes da covid-19” e aprofundar investigações.