Gustavo Belisário e Arlindo Rodrigues
Em meio a pandemia, o Senado aprovou na última quarta-feira, 24, a nova Lei do Saneamento Básico (PL 4.162/2019) que, na prática, facilita a privatização da gestão dos recursos hídricos e do saneamento básico nos estados. O relator do projeto foi Tasso Jereissati (PSDB/CE), o senador Coca-Cola, que representa um setor da burguesia industrial completamente interessado na privatização do setor.
A proposta vai na contramão do mundo, que caminha para a reestatização dos serviços. Paris, Berlim e outras 265 cidades reestatizaram seus sistemas de água e esgoto, pois os sistemas privatizados não cumprem as promessas, incorrem em taxas muito altas, têm pouca transparência na gestão dos serviços e não investem no atendimento universal à água com qualidade e quantidade necessária para a sociedade.
No modelo ultraliberal chileno, que inspira os Chicago Boys do Ministério da Economia, algumas cidades pequenas dependem de caminhões-pipa para terem seu direito à água assegurado, já que são pouco rentáveis aos olhos do mercado. Importante ter claro que o investimento na busca de resultado social é incompatível às suas metas de lucros.
Os regimes de austeridade impostos pelas elites brasileiras precarizam e inviabilizam o acesso à água para milhões de brasileiros.
As crises hídricas cada vez mais frequentes nos municípios brasileiros, neste momento vividas por cidades paranaenses, e os casos de contaminação de água, a exemplo da CEDAE no Rio de Janeiro, requerem da classe política brasileira muito mais atenção, planejamento e investimento. A mercantilização dos serviços não vai resolver a situação dos mais de 30 milhões de brasileiros sem acesso a esgoto e água tratada, e ainda pode piorar as condições dos serviços oferecidos para quem chega o saneamento.
A política de Bolsonaro aponta para mais crises hídricas e menos acesso à água por parte da população. A privatização do saneamento básico no Brasil confirma o projeto de apartheid hídrico que se apresenta no horizonte.
Gustavo Belisário, da Executiva Nacional da Insurgência,
e Arlindo Rodrigues, do Setorial Ecossocialista do PSOL-SP.