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Simone Nascimento: Notas por um Setembro de lutas

19 de setembro de 2023

Simone Nascimento*, 19 de setembro de 2023.

“Se os acontecimentos mundiais derem uma chance a essas pessoas, elas destruirão o que as estrangula da mesma forma como os negros de São Domingos destruíram a plutocracia dos senhores de engenho”

C.L.R James

O que nos orienta em 2023

O ano de 2023 exige a luta permanente dos movimentos sociais e das esquerdas brasileiras desde os seus primeiros dias. A tentativa de golpe no dia 8 de janeiro, em Brasília, demonstrou que nem só do resultado das urnas virá a manutenção do voto popular nas eleições presidenciais do ano passado, muito menos a transformação do Brasil.

Ao longo dos meses, os movimentos sociais tiveram que reorganizar suas bandeiras para esse novo ciclo de lutas, que combina a defesa do programa eleito nas urnas, o combate à extrema direita, o combate ao centrão e as reivindicações por reformas populares urgentes e necessárias para as mudanças no Brasil.

O movimento sindical e as categorias em luta por piso digno, pela revogação do novo ensino médio e contra as privatizações; o movimento sem teto por moradia; o movimento sem terra por reforma agrária; o movimento estudantil por eduacação pública com investimento de qualidade; o movimento negro pelo fim do genocídio; o movimento indígena contra o marco temporal; o movimento de mulheres pela legalização do aborto; o movimento antiproibicionista em defesa da descriminalização do uso das drogas.

Somados, representaram diversas manifestações e um calendário de lutas ao longo do primeiro semestre. Unidas, as frentes únicas de ação são capazes de ampliar as lutas em defesa da democracia no Brasil, pressionar pela prisão de Bolsonaro e a punição para todos os responsáveis e financiadores da tentativa do golpe em janeiro. Estes seguem sendo os balizadores da luta brasileira em 2023.

Nossos esforços devem estar em combater o centrão ao mesmo tempo que combatemos a extrema direita, seja sua presença no governo federal ou atuação contra classe trabalhadora no Congresso Nacional, como no recém episódio de união desses dois setores em apoio a minirreforma eleitoral aprovada com emendas do PL no Congresso Nacional, que veta candidaturas coletivas e permite campanhas cruzadas, ou seja, panfletos confusos de diversas legendas e programas juntos para ajudar direita brasileira em e 2024 e confundir a classe trabalhadora.

Combatendo o centrão fisiológico e a Extrema Direita fascista, estaremos impulsionando as forças democráticas e populares para pesar o governo Lula à esquerda. Ou seja, nós somos aqueles e aquelas que irão repudiar a troca da Ministra do Esporte Ana Moser para dar espaço ao centrão. Somos aqueles e aquelas que irão pressionar o presidente Lula para que indique uma Ministra Negra ao STF, da lista tríplice elaborada pelo movimento de mulheres negras brasileiro e uma ampla articulação da sociedade civil descontente com Zanin. Nosso papel é fazer valer o programa eleito nas urnas em 2022, nenhum passo atrás!

Em defesa das vidas negras e indígenas

Chegamos ao segundo semestre com uma média de duas chacinas mensais no Estado da Bahia em comunidades negras, com o saldo de 28 mortos na Operação Escudo do Estado de São Paulo que durou 40 dias no litoral sul causando terror em solo caiçara, com a chacina Vila Cruzeiro no Rio de Janeiro, o Estado que mata crianças negras e faveladas como nunca.

O brutal assassinato da Yalorixá Maria Bernadete Pacífico, quilombola baiana e coordenadora nacional da CONAQ, mostra todos os abismos do Brasil: as autoridades progressistas eleitas, no governo federal e no governo do Estado que ela viveu a conheciam, assim como conheciam as ameaças que ela vivia enquanto defensora dos direitos do povo negro - o que não foi suficiente para impedir a sua execução . Nossos corpos são os que tombam primeiro e diante da luta. Por ela, e por todas as vítimas do processo de genocídio contra o povo negro brasileiros em curso, marchamos em 30 cidades do país no último dia 24 de agosto.

Da mesma forma que nas favelas, periferias e quilombos negros, vemos como nas aldeias indígenas a extrema direita segue atuando através da grilagem e da morte de indígenas. E, no Congresso Nacional, lutando para desmontar as leis que asseguram os poucos direitos indígenas do Brasil.

Em 2023, o movimento negro e o movimento indígena tem se organizado de maneira potente em todo Brasil. Desde o primeiro semestre, a luta contra o Marco Temporal tem mobilizado os parentes para o enfrentamento ao Estado Brasileiro. Da mesma maneira, o movimento negro hierarquizou a sua jornada de lutas pelo combate à violência policial e de Estado

Este saldo de mortes demonstra ao conjunto das esquerdas brasileiras o pilar do Brasil, o de um país que mata mais que muitos países em guerra seu povo, um povo negro, indígena e trabalhador.

É nesse sentido que devemos fortalecer a luta do movimento negro na Jornada contra violencia policial e de Estado, que culminará em um fundamental avanço para construção de outro modelo de segurança pública e na pressão pela responsabilização dos governos que matam e para escancarar que nesse solo o neofascismo segue vivo e nos mata todo dia através do racismo. Devemos fortalecer essa jornada para construção de um grandioso e nacional dia 20 de novembro, com o povo negro na rua.

É nesse sentido também que devemos fortalecer a luta do movimento indígena. A batalha contra o Marco Temporal e o cenário de destruição das condições de vida dos povos deve nos mover a guerrear ao lado dos parentes, numa grande aliança antirracista.

O Fórum dos movimentos sociais e sindicais na continuidade de uma jornada de lutas nacional

O momento exige o esforço da ampliação da unidade política. No cenário de setembro de 2023, a extrema direita permanece ativa e organizada. A maioria do parlamento mantém uma postura conservadora e neoliberal, nos afastando de melhorias na condição de vida da classe trabalhadora, somada a política da conciliação de classes dos que comandam o governo central. Exigindo de nós a luta contra a extrema direita e a defesa do programa eleito nas ruas e nas urnas, pressionando o governo eleito para concretização das reivindicações populares e combatendo a extrema direita que constrói grandiosos obstáculos.

No cenário, Trabalhadoras e Trabalhadores brasileiros seguem em grande quantidade desempregados ou atuando informalmente, sem proteção social, empobrecidos, com insegurança alimentar, convivendo com morte e terror em seus territórios.

Para as organizações populares, a luta contra a extrema direita, contra a pobreza e a reversão dos retrocessos dos últimos anos é a tarefa número 1. Ou seja, a luta em defesa da democracia, o enfrentamento ao mercado financeiro e o sistema capitalista, contra o arcabouço fiscal e todas as ações que encolhem os direitos da classe trabalhadora são norteadoras.

De janeiro a agosto tivemos mobilziações e lutas importantes, a Marcha das Margaridas, o Acampamento Terra Livre, o Congresso da UNE, mobilizações do movimento negro, Feira da Reforma Agrarária, 45 anos do MNU e 25 anos do MTST.

A necessidade de articulação unitária entre os movimentos sociais e sindicais é fundamental no segundo semestre do ano, que lançará no dia 3 de outubro publicamente a Articulação dos Movimentos Populares e Sindicais, por entender que segue sendo ferramenta primordial um espaço de unidade de ação como o que construímos na Campanha Fora Bolsonaro.

Por um PSOL cada vez mais conectado com as lutas do Brasil

Em setembro o Partido Socialismo e Liberdade realizará seu 8º Congresso Nacional, é papel desse fórum máximo encaminhar a luta do partido para se somar a construção das lutas populares, fundamentais para o fortalecimento da atuação de nossas bancadas parlamentares em todo país, na luta contra a extrema direita, o centrão e em defesa da classe trabalhadora.

O PSOL deve ser a casa daquelas e aqueles que querem construir a luta ecossocialista, dos trabalhadores, feminista, antirracista e antilgbtfóbica, sendo um polo aglutinador de socialistas em todo país, do campo e da cidade, dos quilombos e aldeias.

*Simone Nascimento é jornalista formada pela PUC-SP e pós-graduanda na área de Comunicação e Cultura no Programa de Integração da América Latina da USP. Está Co-Deputada Estadual da Bancada Feminista do PSOL, é militante da Movimento Negro Unificado e da Marcha das Mulheres Negras de SP, fundadora do RUA - Juventude Anticapitalista, das fileiras da Insurgência e da IV Internacional.