Nesta quarta-feira, 30 de julho, um novo pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro foi apresentado àCâmara dos Deputados. Ele reúne as argumentações de outros 120 pedidos já feitos, levando a assinatura de 46 pessoas representando onze partidos de oposição e diversos movimentos e entidades. Já reflete dois atos importantes nas ruas pelo impeachment, nos dias 29 de maio e 19 de junho. E serve como convocação para os atos que devem, neste 3 de julho, tomar as ruas do Brasil.
A CPI acumula evidências contra Bolsonaro
Enquanto o mundo luta para vencer a pandemiada Covid-19, que já provocou quatro milhões de mortos, o Brasil afunda em umacrise sanitária, social e política sem precedentes. A Covid-19 já ceifou 518 mil vidas brasileiras e, devido à baixa testagem e subnotificações, muitas(os) mais devem ter morrido. Muitas delas poderiam ter sido salvas com políticas de saúde pública baseadas em evidências científicas, mensagens nítidas e consistentes para a população e o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
O avanço das investigações da CPI da Covid-19 no Senado Federal evidencia o projeto necropolítico e genocida de Jair Bolsonaro. As principais linhas de investigação até o momento concentraram-se na investigação sobre o colapso da saúde no Amazonas; a existência de um gabinete paralelo ao Ministério da Saúde, composto por negacionistas da ciência; a indicação de tratamentos precoces ineficazes e também com relação ao processo de vacinação da população brasileira. E, agora, denúncias de corrupção na compra de vacinas!
Somam-se evidências da perversidade do Governo Bolsonaro. Os depoimentos de agentes do Ministério da Saúde revelam que o governo atuou ativamente para retardar a produção da Coronavac, através de uma política coordenada de ataques à China e de descrédito sobre a eficiência deste imunizante, colocando vidas em risco ao incentivar às pessoas que não se vacinem ou retardem sua vacinação, apenas para a diferenciação com o Governador de São Paulo, João Dória.
Além disso, Bolsonaro negligenciou mais de 100 tentativas de interlocução pela Pfizer, empresa que procurou vender doses doimunizante enquanto o Brasil via acelerar a quantidade de mortos e contaminados pela doença. Para piorar, o Governo negou a oferta das vacinas com um valor abaixo do valor de mercado, o que traria um custo significativamente menor do que outra vacina que estava sendo negociada. Isto seguramente significou um grande número de mortes que poderiam ter sido evitadas.
Temos, então, uma das mais graves revelações da CPI da Covid até o momento: a negociação sobre a Covaxin, vacina da empresa indiana Bharat Biotec, que aponta para novos crimes cometidos pelo Palácio do Planalto. As revelações do depoimento do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), que foi ouvido pela CPI nesta sexta-feira (25), ao lado de seu irmão Luis Ricardo Fernandes Miranda, chefe da Divisão de Importação do Ministério da Saúde, impactaram o cenário político de formas ainda não totalmente mensuráveis. De toda forma, a temperatura e a pressão em Brasília já aumentaram significativamente.
A denúncia dos irmãos Miranda envolve não apenas ministros e o líder do governo na Câmara, mas o próprio Presidente da República. Jair Bolsonaro não só foi alertado sobre supostas irregularidades na compra da vacina Covaxin como também teria relacionado o líder do governo, deputado Ricardo Barros (PP-PR), às irregularidades. O Presidente pode ter cometido crime de prevaricação por não ter acionado a Polícia Federal ou outro órgão de controle. As investigações seguem e podem agravar a situação de Bolsonaro.
Derrotar Bolsonaro é preservar a vida e o meio ambiente
O projeto genocida e ecocida de Bolsonaro estápor toda parte. O povo negro e de periferia segue tendo a vida ceifada peloavanço das operações policiais em favelas e comunidades de todo o país, mesmo com a decisão do STF de proibir operações policiais durante a pandemia. No início deste mês, fomos atravessados pelo assassinato de Kethlen Romeu, jovem negra e grávida no Rio de Janeiro. Ainda permanecem desaparecidas três crianças em Belford Roxo, sem a mesma mobilização da polícia para recuperar uma bicicleta roubada de um casal branco da Zona Sul do Rio. A procura por Lázaro Bárbosa, em Goiás, transformou-se em surreal ‘reality show’ policial, com a invasão de terreiros de umbanda e candomblé, em expressões flagrantes de racismo religioso. Estes atos contínuos de extermínio da população negra pela bala ou pela fome tem ensejado uma série de ações de denúncia e solidariedade, com grande protagonismo do Movimento Negro Unificado e da Coalizão Negra por Direitos.
Temos enfrentado uma degradação completa da legislação ambiental e com ataques cotidianos às estruturas de proteção ao meio ambiente. Mesmo com a exoneração do antiministro Ricardo Salles – o pior Ministro do Meio Ambiente da história do país –, não é possível criar expectativas de grandes viradas na política ambiental de Bolsonaro e de sua base. O Projeto de Lei 490/2007, recentemente aprovado, é um exemplo disso. Ele representa o maior ataque à floresta amazônica e aos povos originários nas últimas décadas. Ao instituir o Marco Temporal pela força da lei, o projeto precisa ser barrado, o que vai exigir da esquerda radical a compreensão sobre a centralidade da luta ecológica e a humildade de fazer interlocuções e unidades com o movimento indígena, que dirige este processo com ousadia e coragem.
Tomar as ruas, tirar Bolsonaro!
Não temos tempo a perder. O presidente e seus asseclas precisam ser ejetados do Planalto ainda em 2021. Não somos adeptos da estratégia do “quanto pior, melhor”. É preciso dar um fim imediato ao governo mais racista, machista, LGBTIfóbico, antiecológico e autoritário desde a ditadura militar.
Os mais de 427 atos realizados no #19JForaBolsonaro reuniram mais de 750 mil pessoas. As mobilizações se ampliaram em relação aos atos Fora Bolsonaro em 29 de maio: mais cidades e países, mais força e visibilidade ampliando o alcance da campanha. A população indignada precisou sair de casa em plena pandemia para reforçar a mensagem de que o país não tolera mais o desgoverno e o genocídio. Os cuidados sanitários foram reforçados, com distribuição de máscaras, álcool gel e com a preocupação permanente de evitar ao máximo as aglomerações.
As redes sociais foram inundadas pelas interações que, de forma nítida e majoritária, manifestaram luto pela morte de mais de meio milhão de pessoas. A tragédia que assola o país também foi expressa aí: milhares de pessoas homenagearam pais, mães, familiares, amigos, colegas de trabalho falecidos com Covid-19. A radicalidade imposta pela realidade é o que pode trazer algum tipo de amparo diante de tanta indignação pela incompetência e indiferença do governo Bolsonaro.
Unidade nas lutas, para derrubar Bolsonaro.
O acerto de convocar atos de rua pelo Fora Bolsonaro destaca a importância de que cada vez mais eles sejam construídos emunidade e com organização. É preciso equilibrar o clamor das ruas, que vibram indignadas, com pressões no Congresso Nacional. Também é preciso construir outras estratégias de mobilização, comunicação e diálogo com a população sobre o que acontece no país, que levem em conta a grave situação sanitária.
É fundamental a síntese entre as diferentes frentes e iniciativas que constroem ações pelo Fora Bolsonaro, compreendendo que apenas com o pé no chão e livres do espírito auto proclamatório, reconhecendo a imensidão dos desafios que se impõem sobre nós, é que iremos vencer. Estamos diante de uma das lutas mais fundamentais da nossa geração e não é possível errar!
Todas e todos aos atos de 3 de julho, em todo o país e ao redor do mundo!
É preciso tomar as ruas e tirar Bolsonaro!
Executiva Nacional da Insurgência, 01 de julho de 2021.