Apesar da forte oposição da empresa, a votação num armazém de Staten Island, em Nova Iorque, deu origem ao primeiro sindicato na multinacional que emprega mais de um milhão de trabalhadores nos EUA.
Esquerda.net, 4 de abril de 2022
Os trabalhadores do armazém JFK8 da Amazon, em Staten Island, festejaram na sexta-feira uma vitória há muito desejada pelo movimento laboral norte-americano. A multinacional liderada pelo bilionário Jeff Bezos vai ter de negociar com um sindicato a representar os interesses dos trabalhadores, após 2.654 votos contra 2.131 terem derrotado as pretensões da empresa que investiu mais de 4 milhões de dólares em consultores na campanha anti-sindical. O próximo passo da luta pela sindicalização terá lugar num armazém vizinho, com a votação a decorrer entre 25 e 29 de abril.
O líder do sindicato, Christian Smalls, é um ex-trabalhador despedido após ter organizado um protesto contra a falta de medidas de saúde e segurança no trabalho nos primeiros dias da pandemia em 2020. Este armazém funcionava com turnos durante 24h/dia e entregas para toda a cidade enquanto esta estava confinada. Quando surgiram os primeiros casos de infetados no interior da empresa, Smalls e os companheiros saíram para o exterior com cartazes onde se lia “A nossa saúde também é essencial”.
Segundo relata o New York Times(link is external), a Amazon mobilizou de imediato uma equipa de reação com o apoio do seu Global Intelligence Program, que conta com ex-militares para dar resposta aos protestos laborais. Diz o jornal que houve mais vice-presidentes da Amazon alertados para este protesto - onze - do que o número de trabalhadores que a ele aderiram. E um dos principais consultores da empresa aconselhou-a a tornar Smalls no rosto das campanhas pela sindicalização, alegando que ele “não é esperto nem muito articulado”. Após o despedimento feito com a justificação que estava a violar as regras do confinamento, Smalls e o seu melhor amigo no armazém decidiram organizar um sindicato para estes oito mil trabalhadores, recorrendo a donativos através da plataforma GoFundMe. Quase todos os dias fazia da paragem de autocarros junto ao armazém a sua “sede de campanha” para contactar com os que entravam e saíam do seu turno.
Amazon pressionou ilegitimamente no referendo sobre sindicato em armazém de Bessemer Ao contrário da campanha que teve um resultado desfavorável à sindicalização num armazém do Alabama, esta surgiu e foi protagonizada a partir de dentro do armazém, o que ajuda a explicar o seu sucesso. Outro fator foi a nova composição do gabinete federal para as relações laborais após a eleição de Biden, que permitiu aos trabalhadores vitórias importantes na justiça do trabalho, como o direito a organizarem-se dentro das instalações da empresa sem sofrerem retaliações por parte desta. Apesar disso, a campanha milionária contra a sindicalização prosseguiu, com a monitorização das redes sociais dos ativistas, envios de sms para todos os funcionários e reuniões obrigatórias com superiores hierárquicos onde o tema era invariavelmente as desvantagens de ter um sindicato na empresa.
No dia seguinte à votação histórica, o novo sindicato da Amazon exigiu a abertura da negociação coletiva no início de maio e o respeito pelo direito à representação sindical nas reuniões sobre temas disciplinares.