O tribunal de Westminster recusou a extradição devido ao estado de saúde e ao risco de suicídio. A Amnistia Internacional tinha alertado que se o fundador da Wikileaks fosse extraditado enfrentaria “um risco real de graves violações dos direitos humanos”.
Esquerda.net, 4 de janeiro de 2021
A juíza Vanessa Baraitser, do tribunal de Westminster, escreveu sobre Assange na resolução do tribunal que “a impressão geral é a de que se trata de um homem depressivo e, por vezes, desesperado, que teme pelo seu futuro”.
“Colocado em condições de quase total isolamento, creio que os procedimentos [da justiça norte-americana] não iriam evitar que o Sr. Assange encontrasse uma forma de cometer suicídio”, acrescentou a juíza.
Os EUA podem recorrer da decisão no prazo de 15 dias.
A Amnistia Internacional (AI) tinha defendido que os EUA devem retirar as acusações contra Assange e considerado que a “perseguição implacável” que o governo norte-americano lhe faz, é um “ataque em grande escala ao direito à liberdade de expressão”. E alertou ainda que se o fundador da Wikileaks fosse extraditado, enfrentaria nos EUA “um risco real de graves violações dos direitos humanos, incluindo possíveis condições de detenção que equivaleriam a tortura e outros maus-tratos (como confinamento solitário prolongado)”.
Lembremos que os EUA acusam Julian Assange de ter divulgado mais de 700 mil documentos sobre atividades diplomáticas e militares dos EUA, sobretudo no Iraque e no Afeganistão e de com isso ter colocado em perigo fontes dos serviços norte-americanos. O fundador da Wikileaks foi preso em Londres em abril de 2019, depois de ter sido expulso da embaixada do Equador por ordem do governo de Lenin Moreno. Julian Assange estava na embaixada do Equador em Londres desde 2012.
Na passada terça-feira, o relator das Nações Unidas sobre temas relacionados com tortura, Niels Melzer, enviou uma carta ao Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmando que Assange não é um inimigo do povo norte-americano” e pedindo-lhe que o perdoasse.
Na carta, Melzer salientou que Assange não pirateou nem roubou nenhuma das informações que publicou, tendo-as obtido "de fontes e documentos genuínos, da mesma forma que qualquer outro jornalista de investigação sério e independente" faria. "Processar Assange por publicar informações verdadeiras sobre condutas oficiais graves, seja na América ou noutro país, constitui aquilo que se chama 'matar o mensageiro'", escreveu ainda Melzer.
A organização Repórteres sem fronteiras (RSF) tinha declarado que “é o futuro do jornalismo que está em jogo neste veredito histórico”.