Muitos vieram de Pernambuco a SP na época da construção do estádio do Morumbi. Em relato de migrante indígena que retornou à sua terra, a luta pela sobrevivência — mas também por direitos, educação e preservação da cultura ancestral
Relato de Dôra Pankakaru a Angela Pappiani, Outras Palavras, 27 de maio de 2021
Maria das Dores da Conceição Pereira do Prado, conhecida como Dôra Pankararu, nasceu na aldeia Brejo dos Padres, no território tradicional do povo Pankararu, no sertão de Pernambuco, quase às margens do Rio São Francisco, entre os municípios de Petrolândia, Jatobá e Tacaratu.
A história do povo Pankararu é muito semelhante à de outras centenas de povos originários, principalmente na área litorânea e no nordeste brasileiro, que tiveram seus deslocamentos cerceados, foram aldeados e submetidos à catequização, a políticas de incorporação à sociedade envolvente. Uma população incalculável, de quem foi roubado o território, a língua, a cultura e teve que se esconder para sobreviver. Mesmo os grupos mais resistentes e que conseguiram assegurar a proteção de territórios concedidos no final do império, viram seus direitos desrespeitados no começo do século XX, alterando completamente seu modo de vida.
Muitos povos dados como extintos estavam, na verdade, vivendo camuflados, organizando sua vida social e espiritual à revelia dos poderes, mantendo vivas suas conexões, para mais recentemente, sentindo-se seguros e amparados pela lei, poderem revelar suas identidades e reivindicarem direitos às terras que seguiram ocupando de forma coletiva.
No caso do povo Pankararu, as famílias mantiveram a resistência em seu território original, que teria sido reconhecido por D. Pedro II como “uma légua em quadra” a partir da igreja de Nossa Senhora da Saúde, no centro do território. Essa área, mesmo parcialmente invadida e ocupada por posseiros e fazendeiros, permanece como referência ao grupo que se une em torno da luta pelo reconhecimento da Terra Indígena como direito ancestral, homologada, parte em 1987 e parte em 2007.
As perdas irreparáveis para o povo não foram apenas de território e conhecimentos, mas também de seus lugares sagrados como as cachoeiras, locais onde seus ancestrais teriam vivido um dilúvio e onde eram sepultados os mortos, que desapareceram para dar lugar às barragens do complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso e Itaparica. E os Pankararu, por capricho do destino, ajudaram a erguer essas obras como mão de obra na construção das barragens, na década de 1950. Quando faltou trabalho em Pernambuco, os Pankararu cruzaram o país em direção a São Paulo, onde foram personagens importantes na construção do Estádio de Futebol Cícero Pompeu de Toledo e do clube Atlético do São Paulo, no Morumbi, um dos bairros onde as desigualdades sociais são mais gritantes nessa grande cidade.
Os primeiros imigrantes, entre eles o avô de Dôra, se estabeleceram em barracos de madeira, às margens do Rio Pinheiros, antes da existência das marginais. Hoje a comunidade Pankararu é de mais de 1500 pessoas na Favela do Real Parque que surgiu depois da abertura da marginal, além de outros tantos na Favela de Paraisópolis e outros cantos da cidade.
Dôra nasceu na aldeia, em 1975, viveu em São Paulo por 28 anos, formou-se em Pedagogia, foi Conselheira Nacional de Política Cultural e Membro do Colegiado Setorial de Cultura Indígena no MINC, Conselheira Indígena no Conselho Estadual dos Povos Indígenas do Estado de São Paulo, trabalhou na Casa de Saúde Indígena de São Paulo e na Cáritas Diocesana de Campo Limpo. Regressou a seu território tradicional em 2014 onde trabalha como professora na Escola Estadual Indígena Santa Inês da Tapera.
Sua história de vida, de muita luta, determinação e fé nos Encantados, reflete a coragem de seu povo e ilustra o caminho de tantos outros indígenas nordestinos que continuam chegando às cidades em busca de uma vida melhor, que enfrentam todo tipo de preconceito e dificuldade, e que sonham um dia regressar, levando novas possibilidades para seus lugares de origem. Apesar de muitas conquistas, os Pankararu ainda enfrentam violências e ataques em seu território. Em 2018 sofreram incêndio criminoso em duas escolas e no posto de saúde indígena da aldeia.
“Nasci na aldeia de Brejo dos Padres, do povo Pankararu em 1975, onde passei uma infância boa. Saímos daqui quando eu tinha 11 anos. Na época da safra ruim, meu pai arrumou emprego em São Paulo e depois mandou buscar a gente. Fiquei um bom tempo na cidade e voltei para a aldeia aos 38 anos. Mas, mesmo quando vivíamos em São Paulo, meu pai, sempre que possível, mandava a gente de volta para a aldeia nas férias escolares, para as vivências tradicionais.
O tempo que a gente vivia na aldeia antigamente eu achava melhor, em comparação ao de hoje. Eu tento conversar com os mais velhos que nunca saíram daqui sobre isso, e eles me perguntam: ‘por que você acha que era melhor? Naquela época não tínhamos iluminação, nem estradas, nem obras dentro da comunidade. Mal tinha o que comer!’ Mas eu penso que a gente tinha um pouco mais de tranquilidade. Não estou dizendo que a vida agora não seja boa. Só que hoje a gente corre muito mais, é mais desgastante, todo mundo está mais estressado, aborrecido. Apesar de a qualidade de vida ter melhorado com a tecnologia, ter chegado trabalho nas comunidades, terem chegado novas oportunidades, a vida hoje é estressante. Antes, a gente vivia como Deus mandava, feijãozinho na porta, na roça; uma rolinha, que a gente pegava e comia, um feijão com farinha que a gente mesmo preparava. Tinha bastante água, riachos. A água de nossa nascente era pura. A infância era muito boa aqui. Mas era muito difícil, pensando na alimentação, na doença, na sobrevivência.
“O tempo que a gente vivia na aldeia antigamente eu achava melhor…. hoje a gente corre muito mais, é mais desgastante, todo mundo está mais estressado, aborrecido”
Meu pai, muito tempo antes de eu nascer, trabalhou na usina, aqui no rio São Francisco, construindo a barragem de Paulo Afonso. Quando ele teve de sair de lá, faltou alimentação. Ele era o filho que mais ajudava a família, os pais dele, os outros netos de meus avós, e ainda tinha a mulher e os filhos, muita gente para alimentar. Quando ele perdeu esse recurso, decidiu ir para a cidade. Meu avô foi antes, ficou um tempo e voltou, trabalhou no estádio Cicero Pompeu de Toledo. A maioria dos velhos que estão com 80 anos ou mais, trabalhou na construção do estádio e do clube do São Paulo, no Morumbi.
Não foi fácil para o meu pai, ele não podia voltar todo ano para a aldeia, não tinha recurso para isso. E quando vinha, ficava só uns dias, uma semana ou duas, e ia embora. Aí terminou levando a gente para a cidade. Moramos um tempo de aluguel, mas ele não ganhava o suficiente para isso. Então arrumou umas madeiras com o patrão e fez um barraco na favela do Real Parque. Eu estava com 11 anos. Nós vivemos na favela por conta da necessidade.
Para minha família também foi bem difícil, teve um grande impacto, muito sofrimento. Principalmente para minha mãe que nunca tinha saído de perto da mãe dela, e ainda com os filhos! A gente mal tinha uma roupa pra vestir. Eu lembro que a gente usava umas roupinhas muito simples de chita, ou pano de saco que as mulheres costuravam. Me lembro de um dia em que eu fui a uma padaria, no Real Parque mesmo, demorei no caminho e quando cheguei em casa eu estava congelando, minha mão estava grudada no saco de pão. Naquela época, nos anos 80, era muito mais frio, mais gelado, de manhã tinha geada.
“Então arrumou umas madeiras com o patrão e fez um barraco na favela do Real Parque. Eu estava com 11 anos. Nós vivemos na favela por conta da necessidade”
A realidade da cidade era muito diferente da nossa, exigia muito das pessoas. Aqui na aldeia a vida era muito simples, muito humilde, se vivia com pouco. A cidade cobra muito, se você não tem o perfil, não se enquadra, não faz parte. Eu senti muito isso. Tem que ter muito recurso. A gente tinha que ter um chinelo melhor para ir a algum lugar, e não tinha. Fomos nos adaptando, vivendo a realidade do nosso jeito. Mas conseguimos, sem aprender o que a cidade tem de cruel, de maldades.
Já tinha outros parentes na favela do Paraisópolis, na favela do Jardim Panorama e fomos viver no Real Parque. Foi quando a gente se juntou, o povo indígena, para buscar os nossos direitos. Percebemos que se a gente não se organizasse como família, como povo indígena, comunidade, as pessoas jamais iriam nos respeitar por aquilo que a gente era
Meu pai e outros velhos sempre contam que não falavam que eram indígenas onde iam procurar emprego porque se não o povo não pegava para trabalhar. Havia muito preconceito, achavam que índio era tudo preguiçoso, não faria o trabalho. Se identificavam como pardo ou preto. A gente agora já pode se declarar no censo como indígena, mas naquela época, nos anos 1970, 1980, era só a cor da pele.
Quando começamos a levar o ritual, as rezas, para dentro da comunidade do Real Parque, as pessoas dentro da favela tinham medo, porque era uma coisa diferente, as rezadeiras, os cantos. Diziam que era umbanda, feitiçaria. A gente passou por isso. No decorrer do tempo, foram se acostumando, aceitaram a gente, dai já iam pedir remédio, pedir reza para os filhos. Muita gente da favela foi curada com nossa medicina, nossas rezas. Depois, fechavam até a rua para fazermos nossas danças, no meio dos barracos, no meio dos prédios, começaram a entender que aquela era uma realidade nossa, que não poderiam tirar aquilo da gente. Conquistamos esse espaço no Real Parque.
“Percebemos que se a gente não se organizasse como família, como povo indígena, comunidade, as pessoas jamais iriam nos respeitar por aquilo que a gente era”
Pelo sistema de saúde que eu fiz pela Associação SOS Pankararu, éramos mais de 50 famílias no Real Parque, até 2011. No Estado de São Paulo éramos mais de 150 famílias vivendo no grande ABC, litoral, interior. Nós, da Associação, fizemos o cadastro junto com a Funasa para ter uma noção mínima do povo Pankararu dentro do Estado, e ficamos como intermediários no processo de organizar a comunidade no atendimento de saúde específica diferenciada no programa de saúde indígena da família que conseguimos assegurar, dentro do Real Parque, junto com o Ministério Público e o ambulatório do índio, para atender uma demanda, por vivermos numa cidade que não é a nossa.
Terminei o ensino médio com 16 anos e com 18 comecei a pegar no pé do meu pai. Ele sempre foi da Associação, da área cultural, da tradição, dos cantos, história. Comecei a questionar por que a gente não tinha a oportunidade de fazer um curso superior. Já que a Associação falava sobre educação, moradia entre outros assuntos, porque não buscar um programa para educação superior, já que tínhamos competência, mas não tínhamos recursos. Meu pai, mesmo não sendo alfabetizado, é uma pessoa muito sabia, conhece muito a tradição. Acredito que o conhecimento não supera a sabedoria, que é uma ciência da pessoa, que já nasce com ela. Eu respeito muito o velho, o idoso, no meio comunitário, respeito o ser humano que tem o conhecimento próprio. Quando meu pai se tornou presidente da Associação, conseguimos, em 2001, um convênio com o cursinho da Poli para o pré-vestibular e depois o Programa Pindorama com a PUC, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi uma luta nossa, da Associação Pankararu, de um jovem Xavante que vivia na cidade e do pessoal Guarani, com ajuda do Sr. Benedito Prezia, da pastoral indígena para implantar o Programa Pindorama, aberto até hoje para todos os parentes indígenas.
“Minha relação com a cidade não é negativa. Eu não me deixei levar pelo que esse mundo queria fazer comigo. Eu não vivi o processo de alienação que a cidade oferece, que a universidade oferece, que alguns espaços oferecem”
Eu consegui entrar em pedagogia pelo Programa Pindorama. Decidi por pedagogia porque acredito que a educação não está restrita à sala de aula. A vida me deu essa experiência. Ainda tem muitos estudantes Pankararu cursando a PUC, alguns jovens saem ainda daqui da aldeia para cursar a PUC. Um tempo depois a UFSCar também começou a oferecer vagas para estudantes indígenas. Eu mesma colaborei em bancas, em assessoria para elaboração de provas especiais para indígenas. De 2006 a 2011 fiquei como assessora e consultora dentro das ações afirmativas, nessa luta para que os povos indígenas estivessem dentro das universidades públicas, mesmo com suas diferenças.
Minha relação com a cidade não é negativa. Eu não me deixei levar pelo que esse mundo queria fazer comigo. Eu não vivi o processo de alienação que a cidade oferece, que a universidade oferece, que alguns espaços oferecem. Eu vivi a minha realidade, até onde pude. Em vez de eu ter sido esgotada por conta do que a sociedade externa me pedia, eu absorvia o conhecimento dela, de uma maneira bem filtrada, sem ansiedade. Eu sabia o que estava fazendo, pensando em construção de amizades, em relações, em caminhos para o meu povo. Nesses caminhos eu vi coisas positivas, algumas vezes me decepcionei. Mas, não é porque uma pessoa ou um espaço não respeitam meu processo de protagonismo indígena que eu vou desistir. Vou continuar marcando território. Depois de mim virão outros. Nunca pensei individualmente, sempre pensei como coletivo. As pessoas não estão no seu pensamento, não estão no seu coração, não sabem o que você quer. Sabem só o que você está apresentando, demonstrando, deixando que elas vejam, que a sociedade veja. Eu aprendi com o meu povo, e com outros parentes, que é assim, nem tudo a gente entrega para o outro. Eu era muito fechada, aprendi pela criação: quando o velho fala, a gente abaixa a orelha.
“Me fortalecia na fé que eu tinha na minha tradição e em Deus que dá forças para os Encantados cuidarem da gente”
Quando fiz minha formação primária na aldeia, até o 4º ano, eu sabia que não ia ter como continuar. A família criava as meninas só para casar e cuidar dos filhos, e para seguir, eu teria que estudar fora da aldeia. Quando fui para a cidade, achava que não ia conseguir continuar. Tinha que escapar para estudar, nunca tive a oportunidade de fazer um passeio com os colegas da escola porque meu pai não deixava. Por ser mulher, ele tinha medo, via muita coisa ruim na cidade.
Consegui ir para o ensino médio. Tinha que trabalhar, estudar, cuidar de casa, minha avó adoeceu, foi para São Paulo morar com a gente. Eu me desesperei, pensei que não conseguiria. Minha avó fazia as orações, ela me ensinou o que eu ainda não sabia, dizia que a gente tem que ter fé em Deus, pensar coisas boas, para ao pais velhos, os Encantados ajudarem a gente, onde a gente estivesse. Eu não tive muito infância e adolescência. Tive que amadurecer rápido para cuidar dos meus irmãos depois que fomos para a cidade. Mas alguma coisa me dizia que eu tinha que continuar. Eu fugia para ir estudar. Teve um dia que eu fugi e, num beco da favela, um cachorro veio e me mordeu, ficou grudado na minha perna. A diretora da escola me levou para o hospital, sangrando. E minha mãe ainda disse: ‘tá vendo, teimosa’!
Eu me apeguei muito ao tradicional porque em 98, quando nasceu meu primeiro filho, que hoje está com 24 anos, com 4 meses ele quase morreu. Saí correndo com ele sem oxigênio, ficando roxo, do alojamento onde a gente estava enquanto construíam os prédios do projeto Singapura, do Maluf, lá no Real Parque. A partir dali o meu pai entregou meu filho para os Encantados, ficou devendo uma promessa para eles. Eu só sabia chorar com o menino morrendo nos meus braços e meu pai pedindo a força dos Encantados, que cuidassem do menino. Levamos até a casa de uma tia que rezava, fomos para o hospital, e em menos de 24 horas o menino já estava bem. Então, não é para eu me apegar? Uma força dizia: você vai conseguir.
Quando entrei na faculdade, em 2002, já era mãe de família, tinha 2 filhos, estava desempregada, sem dinheiro, fazendo dia de faxina. Tinha que pedir carona para chegar na PUC, às vezes não tinha nem o que comer, não tinha dinheiro para o xerox. Muitas vezes levava meus filhos para a faculdade, eles ficavam quietinhos no fundo da sala, brincando, com um pacotinho de bolacha e uma garrafa com água, o menino com 4 e a menina com 2 anos. Me fortalecia na fé que eu tinha na minha tradição e em Deus que dá forças para os Encantados cuidarem da gente.
“… as pessoas não conseguem admitir que o indígena do Nordeste tem o seu saber, tem o seu conhecimento, tem como participar da transformação”
Em 2014 eu voltei para a aldeia. Me senti bem voltando. Nunca me apeguei na questão do luxo, mesmo morando na cidade, eu vivia a minha realidade e não a realidade que a cidade me cobrava, porque eu sabia que depois eu não ia dar conta dessa realidade voltando pra aldeia. Eu vivia também com outros parentes, outros povos indígenas na cidade, e a gente se cobrava, entre nós mesmos, a simplicidade, como se fôssemos uma família, sem arrogância, maldade com o outro, comparação. Sem as maldades que a cidade estava me ensinando.
Moro na aldeia Brejo dos Padres, onde nasci, e sou professora indígena na escola da aldeia Tapera. Ando 5 km para ir e 5 km para voltar todos os dias. Temos escola desde a educação infantil até o ensino médio, e ensino para jovens e adultos — EJA. Os professores somos nós mesmos, gente da comunidade, formados, outros em processo de formação, outros correndo atrás. Meu filho estudou aqui, depois que viemos de São Paulo. Minha filha tem problema de aprendizagem e na aldeia não temos condição de atender quem tem dificuldade. De São Paulo para Pernambuco, a transferência da escola já veio para uma escola da cidade.
Aqui no Nordeste, hoje temos até cidade com prefeito indígena, mas o que falta para o povo indígena é a compreensão das pessoas sobre os povos tradicionais. Todos nós temos as mesmas dificuldades, independente do território, dentro de suas especificidades. Mas as pessoas não conseguem admitir que o indígena do Nordeste tem o seu saber, tem o seu conhecimento, tem como participar da transformação. Nós, povo indígena Pankararu, somos protagonistas dentro do processo de educação em Pernambuco, já temos as escolas reconhecidas, com seus regimentos. Estamos lutando junto com outros povos indígenas do Nordeste, com respeito entre nós, para o reconhecimento da categoria Professores Indígenas. Já recebemos parentes até do Amazonas que vieram conhecer o funcionamento das nossas escolas, profissionais indígenas da área de saúde vieram ver como funciona a mediação entre o tradicional e o científico. Acredito que nós, povos indígenas, somos pessoas detentoras dos saberes e dos conhecimentos científicos, basta as pessoas acreditarem no coletivo, não individualizar, não enquadrar, porque isso só faz com que o povo indígena fique dentro de seus casulos e se sintam invisíveis dentro da sociedade brasileira, Nós, Pankararu, e outros povos do Nordeste, temos pouca visibilidade, pouco respeito como seres humanos. As pessoas não querem aceitar o Povo Indígena, o povo visível, o povo do nosso povo. Mas somos todos iguais, cada um dentro de suas especificidades. É o que falta, a visibilidade, o respeito, porque continuamos na sombra.”