Menos petróleo, menos carne, menos viagens aéreas... Um mundo sustentável rima apenas com redução? Felizmente, não. Determinados setores ricos em empregos podem assumir o controle e se sair ainda melhor. Um panorama geral.
Vincent Grimault, Aude Martin e Céline Mouzon, Alternatives Économiques, 22 de dezembro de 2020. A tradução é de André Langer.
Milhares de empregos para a reforma das moradias
Este é o trabalho do século. Para atingir a meta estabelecida pela estratégia nacional de baixo carbono, todo o parque imobiliário francês deve atender aos padrões de “construção de baixo consumo” até 2050, contra apenas 6,6% hoje. A iniciativa Rénovons, que reúne atores da sociedade civil, prevê que reformar apenas o isolamento térmico, ou seja, 7,4 milhões de residências com altíssimo consumo de energia, geraria 93 mil empregos diretos até 2040. Além de 34 mil empregos indiretos no longo prazo, possibilitados pelos ganhos de poder aquisitivo das famílias que terão suas contas de energia reduzidas.
Para todo o parque privado, a deputada Marjolaine Meynier-Millefert do LREM – coanimadora do plano nacional de reforma energética de edifícios – estima no La Tribune que o número de profissionais deve ser multiplicado por dez, hoje estimado em 218 mil, tanto para aumentar o ritmo das reformas quanto para melhorar seu desempenho. Porque o atual sistema de ajuda financeira às famílias incentiva a reforma “por gesto”, onde se substitui uma janela, adiciona-se um isolamento, em detrimento de reformas integrais. “É uma estimativa incerta, admite a deputada. Mas ajuda a entender a magnitude da tarefa”. Com um cenário porém mais ambicioso, baseado em particular nas propostas da Convenção Cidadã que se propõe a antecipar em dez anos o prazo para as obras de reforma, a WWF estima que o setor proporcionará 406 mil empregos até 2030.
“A renovação térmica cria empregos em todas as regiões e introduz a recuperação mesmo nas regiões mais desfavorecidas”, sublinha Alain Maugard, presidente do Qualibat, organismo de certificação para empresas de construção. Resta saber por quem eles podem ser fornecidos. “Nem todos se tornarão engenheiros, mas há um salto de competências a realizar no setor”, admite Vincent Legrand, diretor-geral da DORéMI, uma empresa social e solidária que realiza projetos globais de renovação graças a grupos de artesãos formados a montante. A reforma também pode ser uma saída para trabalhadores de setores em declínio, como técnicos qualificados do setor automotivo. Por fim, os redirecionamentos são possíveis desde a construção nova, chamada a diminuir para atender ao objetivo nacional de zero artificialização líquida dos solos.
Para além da técnica, o desafio é, acima de tudo, ensinar os diferentes ofícios (especialistas em isolamento, engenheiros de aquecimento, carpinteiros) a trabalharem juntos. O objetivo? Evitar criar uma perda de energia entre a cobertura e as paredes ou otimizar o posicionamento da caldeira em relação às janelas e à ventilação. Mais do que o esforço financeiro do plano de recuperação, e que o think tank da I4CE considera corresponder às necessidades, será a coordenação destes diversos setores que será, portanto, decisiva.
Após a reforma de todas as moradias, parte dos empregos será permanente para garantir sua manutenção. E, principalmente, para reformar prédios públicos, para os quais o plano de recuperação destinou quatro bilhões de euros. “Podemos criar setores de empregos sustentáveis ao longo de várias décadas”, garante Danyel Dubreuil, coordenador da Rénovons.
Energia: o cerne do problema e da solução
Ficar sem petróleo, carvão, gás natural e provavelmente sem energia nuclear (1) é o horizonte a ser alcançado em 2050 para que o planeta permaneça habitável e seguro. Mas as energias fósseis ainda representam 57,4% do nosso consumo final de energia e a energia nuclear 70,6% da produção francesa de eletricidade. Um tal desenvolvimento teria consequências sobre o emprego: a indústria da energia tem 133 mil equivalentes diretos em tempo integral na França, particularmente nos setores do petróleo e nuclear. Esses dois setores chegam a reivindicar, respectivamente, 200 mil e 220 mil empregos no total, com os empregos indiretos.
Boa notícia: um ambicioso cenário de transição energética que reduzisse nosso consumo e substituísse essas fontes de energia por energias renováveis não seria prejudicial ao emprego, asseguram várias organizações. A Ong WWF estima que um estímulo verde criaria 95 mil empregos adicionais em energias renováveis em 2030 em relação ao cenário tendencial. O que compensaria parte da destruição em setores não renováveis. E de acordo com um estudo realizado pelo movimento Energia Partilhada (2), os benefícios positivos (receitas fiscais, rendas, salários, etc.) são duas a três vezes maiores quando o projeto é realizado localmente por cidadãos em vez de ser confiado a um investidor externo. Outros estudos confirmam este cenário positivo, como a modelização muito detalhada realizada no âmbito da estratégia nacional de baixo carbono (SNBC) (3): o setor da energia criaria um total de 29 mil empregos em 2050, empregos em biocombustíveis agrícolas, calor renovável e biogás mais do que compensando a destruição de empregos nas fontes que diminuirão até este horizonte.
Mas esses cálculos não contam toda a história. A energia está no centro das nossas economias. Mudar o modelo energético significa mudar os transportes, a habitação, a agricultura, a indústria... e é aí que se estabelece o essencial para o futuro do emprego. Para qual avaliação? “A questão é complexa”, adverte Yannick Saleman, do Shift Project. Consumir menos energia significa economia na conta: até 35% menos gastos, de acordo com o SNBC. “Mas também significa menos receita tributária sobre os combustíveis fósseis”, lembra Yannick Saleman. Da mesma forma, para ele, “sair dos fósseis é sair da transformação fácil e barata da matéria: os bens e serviços de baixo carbono que vão substituir os derivados do petróleo podem ficar mais caros”. Porém, “nossas modelizações são claras”, comemora Gaël Callonnec, gerente de modelização macroeconômica da Ademe: “Investir na transição energética planejada pelo SNBC é bom para o planeta e é economicamente lucrativo”. Os trabalhos de isolamento, por exemplo, são caros no momento, mas compensam no longo prazo, porque o petróleo não gasto libera margens financeiras que podem ser reinvestidas em outros setores. Com um ganho líquido total de 789 mil empregos para a economia francesa em 2050 em comparação com o cenário tendencial.
Agricultura sustentável: bom para o planeta e os empregos
Orgânica, circuitos curtos, denominações de origem protegida (DOP), rótulos, etc., a agricultura de qualidade é em grande parte minoritária na França e, portanto, tem perspectivas brilhantes pela frente. Com consequências positivas para o planeta. E quanto ao emprego?
De acordo com o censo agrícola de 2010, as fazendas orgânicas empregavam em média 2,41 unidades de trabalho anual (UTA), contra 1,52 nas fazendas convencionais. Uma regra de três pode, portanto, sugerir que com uma França 100% orgânica, poderíamos criar cerca de 400 mil empregos na agricultura! Porque o orgânico exige mais trabalho: por um lado, os fertilizantes químicos e os pesticidas devem ser substituídos por práticas mais intensivas em mão de obra (capina mecânica ou manual, por exemplo); por outro lado, os agricultores orgânicos têm maior probabilidade de vender seus produtos diretamente, ou de transformá-los (queijo artesanal, vegetais enlatados, etc.). E esses empregos têm uma qualidade maior: “O orgânico não significa voltar às picaretas e quebrar a coluna durante dias a fio, porque a capina é amplamente mecanizada. Acima de tudo, conter as doenças sem pesticidas demanda alto conhecimento técnico”, explica Daniel Ricard, economista especializado em agricultura.
Além do orgânico, ainda é difícil medir o volume do emprego de outras práticas sustentáveis (agricultura extensiva, DOP, rótulo vermelho...). Um estudo realizado pelo Centro de Estudos e Prospectiva classificou todas as fazendas francesas de acordo com seu desempenho ambiental. Resultado: a agricultura verde emprega mais pessoas em vegetais, uvas ou leite, mas não em cereais. Acima de tudo, uma fazenda sustentável não compra mais pesticidas dos fabricantes e não dá mais suporte à fábrica de transformação da região. O suficiente para destruir entre 60 mil e 70 mil empregos na indústria agroalimentar, segundo dois cenários de transformação do modelo agrícola (o da associação Solagro intitulado “Afterres 2050”, e o do think tank The Shift Project).
O outro aspecto é financeiro. O aumento do número de empregos na agricultura de qualidade foi possível “pela disposição de algumas famílias em pagar mais por determinados produtos”, explica Daniel Ricard. Mas não por todos: em geral, as frutas e vegetais consumidos na França são em grande parte importados e privam a França de 366 mil empregos, de acordo com o The Shift Project. Da mesma forma, “certas produções de ponta estão chegando ao limite, como o queijo AOP de Auvergne ou o vinho. A disposição para pagar melhorou muito, mas continua limitada”, avisa Daniel Ricard.
O cenário Afterres é mais otimista. Ele imagina um modelo alimentar muito diferente (mais frutas e vegetais, muito menos carne, peixe e alimentos processados). Nesse cenário, a agricultura não apenas recria empregos diretos, mas também cria empregos em outros lugares. Porque menos carne e mais vegetais significa um declínio no orçamento alimentar para as famílias, tanto dinheiro que pode ser usado em outros setores: o suficiente para criar até 125 mil empregos fora da agricultura.
O cuidado, um setor promissor... sob condições
Assistentes maternais, ajudantes domiciliares, auxiliares de enfermagem... Tantas profissões que consistem no care, essas atividades de cuidado e atenção ao outro para as quais as necessidades aumentam ano após ano: a população está envelhecendo, o risco de dependência aumenta e as pessoas mais velhas querem envelhecer em suas próprias casas. No entanto, o número de médicos está diminuindo, as hospitalizações são cada vez mais por dias e a coabitação entre gerações está diminuindo. Também são empregos que não podem ser realocados e não são muito sensíveis à situação econômica. Deve-se notar que se a noção de care vai além da velhice, é aí que residem as principais necessidades (4).
Todas as profissões combinadas, as profissões de auxiliares de enfermagem (mais de 600 mil), ajudantes domiciliares (550 mil) e enfermeiras (mais de 700 mil) estão entre aquelas cujos números devem aumentar mais até 2022, de acordo com a Dares et France Stratégie. O número de equivalentes de tempo integral a serem criados até 2030 para auxiliar idosos dependentes devido a mudanças demográficas seria de 200 mil, de acordo com o relatório Libault. Se levarmos em conta as vagas, o turn-over, as aposentadorias e a necessidade de melhorar o índice de supervisão, o número de pessoas a serem formadas até 2024 chega a 350 mil, de acordo com o relatório El Khomri.
Embora as necessidades sejam reais, a qualidade dos empregos é um problema. 82% dos lares de idosos relatam como recorrentes as dificuldades de recrutamento. Essas profissões não são consideradas. Exercidas quase exclusivamente por mulheres (91% para a profissão de cuidadora, 97% para a de ajudante domiciliar e ajudante doméstica), muitas vezes de origem imigrante, mobilizam competências reais que não são percebidas como tais, mas naturalizadas (consideradas como qualidades “femininas” naturais). Os salários são baixos. O salário mínimo fixado pela convenção de ajuda domiciliar em 2010 é inferior ao salário mínimo, de 1.453 euros brutos mensais, contra 1.539 euros: não houve novo acordo coletivo desde os últimos reajustes do salário mínimo. Os empregadores são, em princípio, obrigados a compensar com bônus. Na prática, os salários são tanto mais baixos quanto o trabalho em tempo parcial é expandido e parte do tempo de trabalho não é remunerado, como os deslocamentos entre dois pacientes para ajudantes domiciliares. Resultado: o número de acidentes de trabalho é alto.
Para revalorizar essas profissões, sua classificação deve ser revista a fim de considerar sua tecnicidade. Além disso, há a questão do financiamento do risco de dependência, agora que foi registrada, neste verão, a criação de um quinto ramo da Seguridade Social. As necessidades adicionais de financiamento público seriam de 6,2 bilhões de euros por ano a partir de 2024 e de 9,2 bilhões a partir de 2030, de acordo com o relatório Libault. Em 2024, a CSG equipará o novo fundo com 2,3 bilhões de euros. Em meados de setembro, o relatório Vachey listou várias soluções. Do lado das receitas: aumento das taxas para os aposentados, segundo dia de solidariedade, eliminação das reduções de contribuições acima de 2,5 salários mínimos... Do lado das despesas: ser mais rigoroso na concessão do subsídio de invalidez ou da ajuda à dependência. A arbitragem acontecerá neste outono, durante as discussões sobre o orçamento.
Notas
1. A energia nuclear emite pouquíssimo CO2, mas as incertezas quanto à segurança, ao tratamento de resíduos ou ao abastecimento de urânio levam várias instituições a não apostar nela em um cenário de energia sustentável.
2. Ver “Les retombées économiques locales des projets citoyens d’énergie renouvelable”, Energie Partagée, dezembro de 2019.
3. Modelização realizada pela Agência de Transição Ecológica (Ademe), pelo Observatório Francês das Condições Econômicas (OFCE) e pela Comissão Geral para o Desenvolvimento Sustentável (CGDD).
4. Limitamos aqui o termo aos empregos remunerados, embora também se refira ao trabalho gratuito realizado por mulheres na esfera privada.