Lucros astronômicos, impostos irrisórios, apesar dos bilionários investimentos em pesquisa feitos com o dinheiro dos contribuintes estadunidenses e europeus. Este é o grande golpe dos monopolistas das vacinas anti-Covid 19 Moderna, Pfizer e BioNTech.
Roberto Ciccarelli, Il Manifesto, 16 de setembro de 2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Diante de um investimento público total em 2020 de mais de 8,3 bilhões de dólares, as três empresas registraram faturamento de 26 bilhões de dólares no primeiro semestre do ano. A margem de lucro é superior a 69% no caso da Moderna e BioNTech. Para a Moderna, em meados de 2021, houve US$ 4,3 bilhões em lucros e apenas US$ 322 milhões em impostos pagos em escala global (7%). Nos balancetes trimestrais de 2021, a empresa espera realizar vendas de doses de vacinas de US$ 20 bilhões ao longo de todo o ano de 2021.
A margem de lucro da Pfizer ainda não é formalmente verificável. A empresa, informam Oxfam e Emergency, fornece informações financeiras detalhadas apenas para as receitas e não para as despesas incorridas para o desenvolvimento e a produção da mesma, não sendo possível validar de forma independente tal declaração. Além disso, a empresa vendeu apenas 0,5% de suas doses de vacina para os países mais pobres. Suas receitas são exorbitantes, graças à venda de mais de 90% das doses produzidas pelo maior lance entre os países ricos e aos aumentos no preço por dose, de até 24 vezes o custo estimado de produção.
Para a Pfizer, a receita das vendas da vacina anti-Covid, superior a 11 bilhões de dólares nos primeiros seis meses de 2021, agora representa mais de um terço das receitas no balanço semestral. A multinacional espera atingir US$ 33,5 bilhões em vendas totais de sua vacina até o final de 2021, tornando-a um dos produtos farmacêuticos mais vendidos na história da indústria farmacêutica. No caso da BionNTech e Moderna a situação é diferente. Essas empresas não têm outros produtos farmacêuticos comerciais significativos. A Oxfam e a Emergency argumentam que suas altas margens de lucro provêm quase exclusivamente da comercialização das vacinas contra a covid-19. O problema não deve ser visto apenas do lado do biocapitalismo da Big Pharma, mas também daquele dos estados que, apesar dos elogios ao acordo sobre o imposto mínimo global sobre os lucros, mantêm alíquotas em um sistema fiscal distorcido e injusto.
Portanto, não só usaram o dinheiro do contribuinte para dar uma importante contribuição às pesquisas que levaram à vacina em tempo recorde e depois recomprar o produto a preços de mercado, gastando enormes quantias. Mas garantem generosos descontos fiscais sobre os lucros recordes que eles próprios, garantindo uma situação de monopólio, permitem realizar. As corporações com receitas bilionárias pagam proporcionalmente muito menos do que pagam de imposto as famílias que têm o trabalho como única fonte de renda.
“O modelo de negócios colocado em prática pelos gigantes farmacêuticos é extremamente lucrativo e continua perfeito para acionistas e top manager que são generosamente remunerados, enquanto pagam o preço os países em desenvolvimento que estão enfrentando um novo pico de infecções e mortes, sem vacinas, curas e tratamentos - afirmam Sara Albiani, da Oxfam Italia, e Rossella Miccio, da Emergency - Em vez de colaborar com governos e outros produtores qualificados para garantir a disponibilidade de doses suficientes para atender à demanda mundial, parecem mais preocupados em maximizar seus lucros”.
Exercendo um poder de monopólio, não compartilhando tecnologias e know-how e aplicando sobrepreços substanciais, estima-se que os três gigantes farmacêuticos terão 41 bilhões de dólares a mais em 2021, em relação ao custo estimado de produção de suas vacinas.
O pedido da People's Vaccine Alliance é uma intervenção imediata dos governos em favor da suspensão das patentes e evitando um novo aumento dos preços também aplicados para a venda das terceiras doses aos países ricos.
Os países ricos que começam a administrar terceiras doses enquanto a maioria dos países tem dificuldade para garantir as primeiras doses ao seu pessoal de saúde, destacam a dramática desigualdade na forma de conduzir a nossa batalha contra o vírus – relatam Albiani e Miccio – As variantes futuras poderiam, portanto, nos mandar de volta para o ponto de partida. Para manter realmente sob controle este vírus, precisamos acabar com os monopólios das vacinas, compartilhar tecnologia e know-how, para que possamos aumentar a produção em todo o mundo e vacinar o maior número de pessoas possível”.